Before You Go

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Magnus P.O.V

A primeira semana foi fácil. Não extremamente fácil, mas também não fora extremamente difícil como eu achei que seria. Eu tinha sempre a companhia de Cord, e pensar em Alexander era mais difícil quando ela estava comigo. O primeiro mês foi mais difícil. Acordar em uma cama sozinho, em uma casa vazia, com nada além de miados ecoando por entre os cômodos era completamente ensurdecedor. O primeiro ano fora insuportável. Minhas visitas à Alec eram frequentes. Eu o visitava todos os dias, e havia insistido varias e varias vezes para lhe manter companhia durante à noite, mas Maryse havia negado todas as vezes, sem nem pestanejar. Então, eu havia parado de insistir. Eu fazia o que sabia fazer de melhor. Me isolava de tudo e todos, exceto Cord e Alexander. Eu sabia que não deveria fazer isso, que isso não era bom e nem saudável para mim. Mas, eu estava acostumado à isso. Era um de muitos mecanismos de defesa que eu havia desenvolvido ao longo dos anos.

O segundo ano foi ainda pior. Eu ainda visitava Alexander com mais frequência do que antes, chegando à ir ao hospital duas vezes ao dia. Me matava ver ele deitado naquela cama de hospital e não poder fazer nada pra ajudar. Tudo o que os médicos podiam fazer no tratamento de Alexander havia sido feito por Cord. As feridas superficiais haviam sido curada pela minha magia, e Cord havia feito alguma magia muito antiga na mente de Alexander para impedir a atrofia de seus neurônios, ou que ele esquecesse alguma coisa. Eu havia passado anos e anos ajudando os mundanos a curarem suas doenças que ao ver da medicina pareciam incuráveis. Eu tinha curado mais corações partidos do que conseguia me lembrar. Mas agora, agora me sentia impotente. O tipo de impotência que chega de repente, devastando sua vida, te fazendo lembrar que até uma criatura imortal, com acesso à magia ilimitada pode encarar um mal maior, e descobrir que no final é tão limitado quanto qualquer outro mortal.

Eu não me lembrava da última vez que havia me sentido assim, ou se já tinha me sentido assim. Eu costumava dizer que a chave para não sentir medo era não ter nada a perder. Era algo que meu pai havia me ensinado quando ainda era criança, e dos trilhões de ensinamentos tolos e sem sentido que ele havia me ensinado, esse era o único que eu de fato guardava, e que realmente fazia algum sentido. Antes de Alexander entrar em minha vida, eu não sabia o que era sentir esse medo. Esse medo desesperador e avassalador de sempre estar a um passo de perder tudo àquilo que significava tudo pra você. Agora, fico pensando se talvez não tivesse sido melhor nunca ter entrado naquele beco aquele dia. Uma pequena mudança de percurso poderia ter evitado tudo isso. Talvez eu o encontrasse de outra forma, se fosse o que o destino realmente tivesse preparado para nós. Ou talvez, nunca nos conhecêssemos, nunca tivéssemos trocado confidências e talvez eu nunca tivesse interrompido o suposto casamento dele com Lydia. Talvez uma hora dessas, ele estivesse casado e em Idris. Poderia não estar 100% feliz, e passaria o resto da vida se reprimindo... Mas ao menos ele teria uma vida para poder se reprimir. Posso soar egoísta agora, mas eu falo sério. Eu abriria mão de Alexander se soubesse o que aconteceria, se soubesse que eu me tornaria tão inútil e dispensável na vida dele.

O terceiro ano foi ainda mais difícil. Eu tinha pesadelos constantes, o que me levou à insônia. Sim, eu poderia estalar os dedos e estaria resolvido com magia. Mas algo dentro de mim não conseguia fazer algo tão simples. Então, eu passava noites e noites em claro, pensando em Alec, em como Jace parecia estar pior a cada vez que eu o via. Também pensava nos olhos vazios e sem vida de Isabelle, e no desespero evidente de Clary em tentar ajudar ambos, e falhando miseravelmente.
Por esse motivo, eu me afastei de todo mundo mais uma vez. Ver toda aquela dor que eles estavam passando e não poder fazer nada para ao menos amenizar aquilo me matava de dentro para fora.

O quarto ano foi um borrão. Não me lembro de muita coisa, apenas das poesias que eu tinha escrito para Alexander, de tentar ler para ele no hospital e falhar nisso também. Me lembro de como a bebida havia se tornado uma válvula de escape, e de como algumas ervas alucinógenas tinham feito com que toda a dor e toda a culpa sumissem por alguns momentos.

O quinto ano eu mal me lembro. Me lembro apenas de Cord me dizendo como o que eu estava fazendo não resolvia nada, me lembro da discussão que tive com ela, e de como ela parecia desesperada em ter seu amigo de volta.
As ervas e as bebidas ainda eram uma opção, e o isolamento havia dado espaço para uma infinidade de festas aleatórias, das quais eu não me lembro da metade. E mesmo com tudo isso, a dor ainda estava lá.

O sexto ano foi difícil. Cord estava me ajudando com meus vícios, Isabelle tentava se reaproximar de mim, dizendo que eu fazia com que ela se sentisse segura. Maryse me acusando sem parar. Clary tendo que lidar com um Jace que parecia ter desligado as emoções, e eu tendo que lidar com visistas constantes do meu pai. É em momentos como esse que eu mais percebo como Alexander fazia falta. E falando assim parece mórbido, pois parece que ele havia morrido. Mas, era a verdade. E ninguém podia negar isso. Alec estava em coma, e ausência dele havia deixado um vazio, um buraco na vida de todos nós. E esse buraco não podia ser preenchido nem com toda bebida do mundo, nem com todas as drogas do mundo, ou com todas as festas. Era um buraco que não podia ser preenchido por nada. E por mais que todos tentassem, não conseguiriam nada.

O que me leva aos dias atuais...

Era uma quinta, eu tinha acabado de voltar do hospital, tinha feito uma de minhas muitas visitas ao Alec. Estava exausto como nunca estive antes, e não queria nada mais do que meu bom e velho copo de Whisky.

- Como está o garoto? - perguntou ele.

- Pelos deuses, você sempre tem que chegar assim? - indaguei me jogando no sofá e fechando os olhos.

- Olha só pra você, eu nem te reconheceria se trombasse com você na rua.

- Ótimo. Me pouparia desse diálogo patético. - respondi.

- A única coisa patética aqui é você. - Asmodeus disse. Revirei os olhos. - Você é Magnus Bane, o feiticeiro mais poderoso que já pisou nessa terra. Pode fazer o que quiser, ir para onde quiser. E o que está fazendo com sua vida imortal e com seus dons incomparáveis ? Está desperdiçando tudo! - gritou.

- Escuta...

- Não, você vai ouvir. Não seja tolo. Eu não criei você para ser um fracote fracassado que fica atrás de um Shadowhunter moribundo em um hospital. Eu criei você para ser extraordinário, o criei para ser um rei. Se não de Edom, por que não da terra?

- Você só pode ser maluco.

- Talvez eu seja. Mas guarde o que eu estou dizendo filho, vai se juntar a mim mais cedo do que imagina. - ditou ele com o ar de superioridade que eu odiava.

- Não sei do que está falando. - respondi.

- Ahh... Mas você vai saber. Muito em breve. - e com sua última cartada, desapareceu no ar.

Fiquei alguns minutos encarando o nada, até ouvir o miado de Miau e voltar para minha realidade.

- Está certo Miau... Eu preciso de um banho por imersão. - disse me levantando do sofá e seguindo por entre a sala até o quarto. Estava pronto para entrar na banheira, quando ouvi o toque do meu celular. Olhei o visor, que indicava que era Cord.

- Já disse que estou bem Cord. Não precisa se preocupar. Eu não vou usar. - disse assim que atendi a ligação.

- Magnus... - ela respondeu, ofegante. - É o Alec... - meu coração parou de bater por dois segundos.

- O que aconteceu? Ele não...

- Não... Ele acordou.

Se Eu Não Posso Ter Amor, Eu Quero PoderOnde histórias criam vida. Descubra agora