Old Ways

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Magnus não conseguia parar de pensar no que o pai havia dito à ele. Asmodeus parecia ter tanta convicção de que um dia ele assumiria o trono em edom e governaria como príncipe do inferno. Muita convicção mesmo, chegava a ser assustador. Magnus se pegou relembrando o passado. Ele não se orgulhava da pessoa que havia sido, das atrocidades que tinha cometido... não se orgulhava de como tinha vivido a vida antes. Mas, ele era uma nova pessoa agora. Era uma pessoa boa, que vivia dia após dia tentando reparar os erros que havia cometido no passado. Ele acordava todos os dias decidido a ajudar o maior numero de pessoas que conseguisse, e ficava feliz ao ver o sorriso estampado no rosto daquelas pessoas. Eles sempre pareciam tão frágeis, tão solitários, tão pequenos. O coração de Magnus doía ao se deparar com alguma situação que nem mesmo ele era capaz de ajudar, de resolver. Estava acostumado a sempre ter uma solução rápida e eficaz para tudo. Quer dizer, para quase tudo. Todavia, nem mesmo ele era capaz de interferir no destino de alguém.

Um suspiro escapa do lábio do feiticeiro, um suspiro frustrado. Quando isso acontecia, ele se sentia tão impotente. Não era algo corriqueiro, mas quando acontecia, o deixava arrasado por dias a fio. Ele havia prometido à si mesmo que sempre tentaria ajudar os que mais precisavam, que sempre acolheria e cuidaria. Mas tudo na vida tinha limite. E até mesmo sua magia, que era inesgotável e imensurável só podia ajudar até um certo ponto. Ele não sabia ao certo quando ou o que tinha causado tamanha mudança nele. Sabia que em um instante ele era um feiticeiro devasso, inconsequente, cruel e impiedoso, que não se importava com nada e nem ninguém à sua volta... e no outro, se tornara alguém racional, compassivo e altruísta. A mudança havia sido brusca, e no começo ele se pegava sentindo falta de algumas praticas da vida antiga. Mas, havia aprendido a ouvir, havia aprendido que para viver nesse mundo, mesmo não sendo humano, ele teria que aprender a pensar no coletivo. Uma certa lembrança o atormentava mais do que a outras. Em um piscar de olhos, Magnus podia revivê-la.

Lá estava ele, cercado de homens e mulheres, a vida que ele sempre sonhou em ter. Não tinha que se preocupar com nada. Dinheiro, comida, roupas, sexo... tinha tudo o que queria em um estalar de dedos. Era um dos muitos benefícios de ser um feiticeiro poderoso, e filho de um dos príncipes do inferno. Magnus era devasso, imprudente e muito egoísta. Qualquer um que cruzasse seu caminho a fim de atrapalhar seus planos, irritá-lo ou algo semelhante, enfrentaria a fúria impiedosa do feiticeiro. Magnus estava encostado no bar bebendo uma taça de Martini quando o pobre homem se aproximou. Magnus encarou com desdém o homem à sua frente, notando suas roupas maltrapilhas e seu rosto sujo. Foi surpreendido quando o mesmo caiu de joelhos no chão, implorando por ajuda.

- Por favor senhor... eu imploro que cure minha filha! - disse o homem. Magnus encarou o homem com certo interesse. - Ela só tem três anos meu senhor, não merece sofrer, não merece morrer. Eu imploro que a cure! - suplicou o homem. Um sorriso maléfico surgiu nos lábios de Magnus.

- Adoro quando imploram... ora, levante-se daí, seu verme imundo. - disse Magnus ajudando o homem a se levantar. - Agora, sem chororô entendeu? - perguntou o feiticeiro. O homem assentiu. - Ótimo... eu... o que eu ganho curando a sua criança? - questionou Magnus.

- Isso é tudo o que eu tenho senhor. - o pobre home disse estendendo um saco de moedas pequeno para que Magnus o pegasse.

- Eu tenho cara de quem faz caridade? - Magnus perguntou.

- Não senhor... mas, isso é tudo o que eu tenho. Não posso oferecer mais nada ao senhor. Por favor, tenha piedade.

- Piedade... piedade... acha que apelar para o meu lado bom salvará sua criança? - indagou o feiticeiro exalando um ar de superioridade. - Deixa eu te contar uma coisa, eu não tenho um lado bom meu caro. Sinto muito, não posso fazer nada por sua criança. Desejo que ela tenha uma morte tranquila e indolor. - disse Magnus se virando de costas, prestes à seguir até a saída do bar.

- Por favor senhor Bane... não pode ser tão cruel à esse ponto. Ela está sofrendo, está com dor... ajude minha filha, imploro ao senhor. - o homem gritava. Magnus massageou as têmporas e se virou novamente.

- Tudo bem... - disse fazendo um movimento com as mãos, fazendo com que surgisse um pequeno frasco contendo uma poção. - Dê isso à ela, para que ela beba. Vai tirar o sofrimento dela. - disse estendendo o frasco para o homem. Magnus notou como o rosto do pobre homem se aliviou, mesmo que fosse apenas um pouquinho.

- Obrigada! Muito obrigada senhor Bane! - ele abraçou Magnus, o pegando de surpresa. - O senhor é um santo. - disse e saiu correndo do bar.

- Estou muito longe disso mundano. - disse Magnus com desdém enquanto pedia outro Martini, e seguia até uma dançarina que estava lhe chamando.

Dois dias depois, Magnus andava pelas ruas da cidade quando encontrara sem querer o mesmo homem desesperado do bar. Carregava sua filha nos braços enrolada em um pano branco. Seus olhos pareciam vazios e sem vida nenhuma, e por uma fração mínima de segundos, Magnus sentiu pena dele. De repente os olhos dele encontraram os de Magnus, e uma ira inumana se ascendeu no olhar do homem. Ele seguiu até Magnus, colocando o corpo da filha nos braços de Magnus.

- Feiticeiro maldito... está feliz agora? - perguntou o homem, a voz carregada de ódio.

- Não tenho ideia do que está falando. - Magnus tentou agir com indiferença.

- Deixe de ser cínico. Você matou a minha filha com aquela maldita poção. - apontou o homem. - Disse para que eu lhe desse para beber... disse que a curaria.

- Agora está colocando palavras na minha boca. Eu nunca disse que a poção a curaria. Eu disse que tiraria o sofrimento dela. - Magnus ditou. - E tirou. Ainda está sofrendo querida? - Magnus zombou. O corpo da menina ainda em seus braços.

- Seu maldito... você realmente não tem coração como dizem não é? Não consegue respeitar o luto de uma família. Faz piada com a dor das pessoas. Acha que por ser imortal, isso o torna mais distinto, melhor do que os mundanos. - o homem desafiava Magnus. Uma faísca de irritação se ascendeu nos olhos do feiticeiro.

- Eu não acho. Eu sei. Eu sou melhor do que todos vocês. Vocês não passam de poeira embaixo dos meus pés. Acho melhor medir suas palavras quando falar comigo mundano imundo. Posso tornar sua vida um inferno na terra apenas com um estalar de dedos.

Magnus fechou os olhos com força, se arrependendo amargamente daquele dia. Aquela pessoa que ele era no passado era repugnante. E não passava um dia sequer que Magnus não se arrependesse e desejasse poder mudar o passado. Ele havia sido tão cruel com aquela família. Havia negado ajuda a uma pobre criancinha de apenas três anos. O que ele pensava? Como pôde ser tão frio? Tão cruel? Tão impiedoso? Por que ele havia feito aquilo? Magnus não sabia a resposta para aquelas perguntas, mas não queria voltar a ser aquela pessoa nunca mais. E se esforçaria para não ser.

Se Eu Não Posso Ter Amor, Eu Quero PoderOnde histórias criam vida. Descubra agora