Vent'anni

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- Eu não sei... eu só estou cansado de ser tão cuidadoso. - Alec disse, a voz carregada de culpa e agonia. Magnus podia se ver em Alec agora, ele sabia exatamente como ele estava se sentindo. Já havia se sentido assim no passado tantas e tantas vezes.

- Alec... eu entendo que pode ser difícil. Entendo que você tem obrigações e deveres a cumprir. Mas não pode continuar com isso. - Magnus disse preocupado.

- Eu sei... Izzy diz que eu sempre coloco as necessidades de todos acima das minhas, e que isso é errado.

- E é! Você é altruísta, e isso é ótimo. Mas você não pode continuar se doando para tudo e todos, e nunca receber nada. Alguém tem que ceder. - Magnus explicou. Alec pareceu considerar por alguns minutos, antes de afundar a cabeça entre as mãos e soltar um suspiro cansado.

- Droga... eu não devia ter dito tudo aquilo. - Alec disse e por uma fração de segundos, Magnus teve uma súbita vontade de abraça-lo, mas se conteve. - Eu não devia ter dito nada... é a minha família.

- Isso não importa Alexander. Eles podem ser sua família, você pode amá-los, cuidar deles e querer o bem deles sempre... mas quando isso começa a te afetar de uma forma negativa, você precisa reconsiderar. - Magnus respondeu enquanto preparava outro Martini.

- Eu sei... é que... eu não quero decepcionar eles. Sei que eles precisam de mim, a clave também precisa... eu só não quero ser uma decepção para ninguém.

- Você não vai decepcionar ninguém sendo sincero sobre o que sente. - disse Magnus. - Você não pode continuar vivendo assim Alexander. Em algum momento, você vai explodir. Guardar tudo o que sente para si mesmo... você vai surtar.

Alec nunca havia se sentido tão mal na vida. Sentia como se sua cabeça fosse explodir. Sentia os olhos pesados, e parecia que cada ruído fazia com que sua cabeça doesse mais. Suspirou pesado e finalmente abriu os olhos, demorou algum tempo até que sua visão se ajustasse à claridade do ambiente. Sentia como se tivesse levado uma pancada na cabeça, como se tivesse ido em uma missão extremamente difícil que exigisse muito esforço de sua parte. Sentia como se um caminhão tivesse passado por cima do seu corpo, duas vezes seguidas. Aos poucos, as peças foram se encaixando em sua cabeça. Alec olhou ao redor e pôde reconhecer o quarto de Magnus. Um flash e ele se lembrou mesmo que vagamente da noite passada. Se lembrou de ter vindo até o apartamento de Magnus e iniciar uma conversa com o feiticeiro sobre o quão cansado estava das obrigações de caçador de sombras. Então se lembrou dos drinks que havia tomado, e da forma que aquilo o havia deixado menos focado em seus problemas familiares e com a clave. Talvez Magnus tivesse colocado algum tipo de poção em sua bebida, tentando ajudar e fazer com que ele se esquecesse um pouco dos problemas. Talvez fosse apenas a bebida, o que ele não saberia dizer, pois nunca havia bebido tanto a ponto de ficar de ressaca. De qualquer forma, não conseguia se lembrar de muita coisa, apenas de alguns flashes aqui e ali. De tentar beijar Magnus e depois de mais nada. Alec enterrou a cabeça entre as mãos soltando um grunhido frustrado. Estava desapontado consigo mesmo. A que ponto ele havia chegado ? A família tinha tanta influência sobre ele, que faziam com que ele se embebedasse e começasse a agir como um completo tolo ? Ele não era assim. Alec era responsável, não era imprudente e nunca fazia a coisa errada. O que estava acontecendo com ele ? Por que ele estava agindo assim ?

Logo ele fora tirado de seus pensamentos pela porta do quarto abrindo e um Magnus radiante como o sol entrando com uma bandeja em mãos. Alec desviou o olhar, envergonhado demais para sequer encarar o feiticeiro.

- Ora, Bom dia para você também Alexander. - Magnus disse. - Eu até fiz café para você. - disse o feiticeiro em um tom animado.

- Por favor... Me diga que não aconteceu nada ontem! - Alec praticamente implorou. Magnus negou enquanto pegava um morango da bandeja, dando uma mordida e encarando Alec.

- Não. Mesmo você estando super a fim, eu não sou um entusiasta da necrofilia. - Magnus disse e gargalhou baixinho.

- Magnus... Eu... Me desculpe... Eu não sei o que deu em mim. - Alec disse.

- Se acalme e tome seu café... Não há nada do que se envergonhar e por favor, não se martirize quanto à isso! - Magnus pediu. Alec encarou a bandeja e sentiu seu estômago roncar, indicando que estava com fome. Começou a degustar o café que Magnus havia preparado, e estava certo de que nunca havia comido algo tão bom na vida.

- Como se sente hoje ? - Magnus perguntou pegando presidente Miau no colo e acariciando a bola de pelos.

- Melhor. - Alec disse mordendo uma torrada. - A propósito, obrigada por ter me ouvido ontem. Sei que posso ter falado um pouco demais, e...

- Alexander... Pare de pensar demais. - Magnus o interrompeu. - Não preciso desculpar nada... Conversar com você não é uma obrigação, eu gosto quando se abre comigo. Significa que confia em mim. Isso é bom. - Magnus explicou.

Alec apenas assentiu e continuou desfrutando do café que Magnus havia feito para ele. Se sentiu bem em poder confiar em Magnus, em poder contar com alguém. Sabia que Magnus estava sendo sincero, e alguma coisa nos olhos do feiticeiro inspirava confiança. Alec crescera pensando que jamais poderia confiar em alguém além de Izzy, Jace ou si mesmo. E esse pensamento o deprimia tanto, que às vezes ele ouvia Ludovico Einaudi em loop noites a fio. De alguma forma, aquela melodia triste, melancólica e apática o acalmava e parecia se unir à sua alma tristonha e deprimida. Ele se questionava se algum dia encontraria alguém que o levaria a questionar tudo, que o faria ter esperança de novo, que faria com que ele se sentisse vivo de novo, sem aquela sensação de angustia que o consumia de dento para fora. Talvez ele realmente estivesse exigindo demais, talvez fosse ingênuo em pensar que uma só pessoa fosse capaz de lhe proporcionar todas essas sensações. Talvez as expectativas dele fossem muito altas, e ele passasse tempo demais lendo e imaginando como seria sua vida dentro de um universo paralelo, como o dos livros que lia. De qualquer maneira, Alec não conseguia evitar. Ele era uma alma sonhadora, um espirito livre que não podia ser contido por barreiras. Mesmo que não deixasse isso aparente, ele era como qualquer outro jovem de vinte e um anos em busca do amor. Afinal, ele tinha apenas vinte e um anos. Queria viver, experimentar. Errar tentando acertar. Errar tentando errar. Ele tinha vinte e um anos, tinha medo de ficar sozinho. Tinha medo de nunca encontrar alguém e de nunca ser levado a sério. Tinha apenas vinte e um anos, e não queria perecer à cobiça e à obsessão ao dinheiro que o resto do mundo parecia ter. Tinha vinte e um anos, e não iria ser como os outros. Tinha vinte e um anos, e queria mudar o mundo. Tinha vinte e um anos e queria não sentir medo de se mostrar vulnerável e ser chamado de fraco. Tinha vinte e um anos e não suportaria a injustiça. Tinha vinte e um anos, e um coração apaixonado, cheio de sonhos, ambições e desejos batendo loucamente no peito. Tinha vinte e um anos, era jovem, e ainda assim, sabia de tudo. Não queria muito, queria apenas vivenciar o que a vida tinha de melhor para oferecer. Muitos o considerariam o maior dos tolos agora, o rei dos otários. Mas ele tinha apenas vinte e um anos.

Se Eu Não Posso Ter Amor, Eu Quero PoderOnde histórias criam vida. Descubra agora