Dandelions

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Magnus tinha um Alec adormecido ao seu lado. Estava com um peso na consciência agora em ter oferecido tantos drinks para Alec. Mas pensara que talvez isso esvaziasse um pouco a mente do caçador de sombras, o deixasse menos despreocupado e mais à vontade. Ele odiava ver a forma como todo o peso que fora colocado nos ombros de Alec, todos os deveres e exigências feitos pela família e pela clave estavam afetando ele. Ele conhecia os Lightwoods, a historia que tinha com eles era longa. Sabia o quão severos e exigentes podiam ser, mas esperava que para com o filho abrissem uma exceção. Magnus podia ver claramente agora que esse não era o caso, e ver a forma como tudo aquilo afetava Alec, de alguma forma mexia com ele. Ele queria tirar toda a dor, toda a culpa, toda a angustia e peso que Alec carregava dentro de si. Não entendia como a família, as pessoas que deveriam amar e apoiar acima de tudo, também fossem capazes de destruir alguém em busca de beneficio próprio. Isso deixava Magnus com repulsa dos Lightwoods, e também fazia com que ele desejasse estapear Robert e Maryse.

Magnus se levantou da cama onde estava, se seguiu do quarto até a sala, a fim de pensar um pouco, e também de ficar sozinho. Se sentia estranho agora por estar cobrando dos Lightwoods algo que nem a família dele havia tido. Sua mãe tinha se suicidado quando finalmente se dera conta que o filho era um feiticeiro. O padrasto... bem, essa era uma lembrança que Magnus preferia deixar no esquecimento, mesmo que isso sempre o assombrasse. E o pai... bem, Asmodeus não se preocupava com nada e nem ninguém além de si mesmo. Ele não "amava" ninguém, a não ser que essa pessoa lhe trouxesse algum beneficio. Como que ele queria amor, cuidado e compreensão da parte dos Lightwoods com o Alec, quando a própria família não havia tido com ele? Magnus entendia como Alec se sentia, pois havia se sentido assim por anos e anos a fio. Perdido, confuso, solitário. Parecia que a culpa ia corroendo por dentro e que o peso que tinha sobre o peito nunca iria embora. Ele apenas queria que o mundo não fosse tão duro e que a vida não precisasse ser tão difícil.

Magnus ficou imerso em pensamentos até notar os primeiros raios da luz da manhã invadindo seu apartamento. Suspirou fraco, acariciou Coraline, uma de suas gatas e se levantou do sofá onde estava repousando. Encarou o nascer do sol, e fez uma saudação como forma de respeito e agradecimento por estar vivo. Muitos podiam achar isso uma tolice, desde que Magnus era imortal, e não morreria nunca. Mas era algo importante para o feiticeiro, a forma como podia se conectar com a natureza, como sentia ela se conectando de volta, e como a conexão que tinham era forte e única. Logo depois de fazer seus rituais matinais, a ideia de preparar um café da manhã para Alec, e também um kit ressaca surgiu em sua mente. Magnus logo tratou de se apressar até a cozinha, onde com uma maestria surreal começou a preparar o café de Alec. Ele sabia que poderia dispor de magia para isso, mas gostava de cozinhar, gostava da sensação que tinha ao preparar cada refeição, e gostava principalmente do sentimento que colocava naquilo. Sabia que embora Robert e Maryse fossem esnobes, cheios de exigências e extravagancias, o filho era completamente o oposto disso. Alec era bondoso e gentil. Gostava do simples e do agradável. Magnus podia ver através da faixada de durão e impassível que Alec tinha construído por todos esses anos. Então, preparou um café da manhã ao seu ver simples, com croissants, torradas, frutas, café e suco. Até ele mesmo preferia algo como ovos benedict, salada de frutas ou até mesmo smoothies no café da manhã. Entretanto, de qualquer forma, mesmo que conhecesse Alec há pouquíssimo tempo, sabia que ele não se atraía por tamanho requinte. Não que Alec não fosse elegante, longe disso. O caçador de sombras dispunha de um porte extremamente impecável e elegante, e nem mesmo precisava se esforçar para conseguir tal feito. Era algo natural, e Magnus amava isso em Alec. Mas quando se tratava de comida, bebida e afins, sabia que Alec preferia o simples ao elegante. E manteve isso em mente conforme ia preparando o café.

Depois de tudo pronto, Magnus dispôs tudo em uma bandeja, e se apressou até sua suíte, onde tinha certeza de que Alec ainda dormia. Para a surpresa do feiticeiro, Alec já estava acordado, e parecia estar com uma crise existencial agora. Completamente animado com a visão de um Alec ainda sonolento e extremamente fofo aos olhos dele, Magnus adentrou o local com a bandeja em mãos e com presidente Miau o seguindo. Alec levantou o olhar por alguns segundos, antes de abaixar a cabeça envergonhado. Magnus sorriu com o quão fofo Alec parecia na luz da manhã.

- Ora, bom dia para você também Alexander. - disse o feiticeiro. - Eu até fiz o café para você. - Magnus disse em um tom animado. Alec finalmente o encarou e Magnus pôde ver certo desespero na feição do caçador de sombras. Já imaginava o que poderia estar rondando a cabeça de Alec nesse momento, e não poderia culpá-lo. Se ele amanhecesse sem camisa na cama de Jared Leto com uma ressaca forte e incapaz de se lembrar de nada da noite anterior, também ficaria desesperado.

- Por favor... me diga que não aconteceu nada ontem. - Alec estava praticamente implorando por uma resposta de Magnus agora. O feiticeiro negou, pegando um morango da bandeja e o mordendo em seguida.

- Não. Mesmo você estando super a fim, eu não sou um entusiasta da necrofilia. - Magnus respondeu gargalhando baixinho. Viu a expressão de desespero sumir do rosto de Alec, dando espaço à uma de alivio.

- Magnus... eu... me desculpe... eu não sei o que deu em mim. - Alec disse envergonhado. Magnus adorava como Alec podia ser uma calmaria e um turbilhão de emoções ao mesmo tempo.

- Se acalme e tome seu café. Não há nada do que se envergonhar e nem com o que se preocupar. E por favor, não se martirize quanto à isso! - Magnus pediu. Viu Alec encarar a bandeja e então começar a comer em seguida.

- Como se sente hoje ? - O feiticeiro perguntou enquanto pegava presidente Miau no colo e acariciava o gato, que ronronava satisfeito com as carícias.

- Melhor. - disse Alec dando uma mordida em uma torrada. - A propósito, obrigada por ter me ouvido ontem. Sei que posso ter falado um pouco demais, e...

- Alexander... Pare de pensar demais. - interrompeu Magnus. - Não preciso desculpar nada... Conversar com você não é uma obrigação, eu gosto quando se abre comigo. Significa que confia em mim. Isso é bom. - explicou Magnus. Alec apenas assentiu com um sorriso fraco no rosto. Ficaram em silencio e se encarando por algum tempo, antes de Alec dar um salto na cama, e se virar para a mesinha de cabeceira encarando o relógio. Os olhos do caçador de sombras se arregalaram, e ele se levantou, vestindo a camiseta e os sapatos em seguida.

- Mas, o que você está... - Magnus começou a formular uma pergunta apenas para ser interrompido por Alec.

- Eu tenho que ir... estou atrasado para uma coisa. - Alec esclareceu. Certo. Magnus havia se esquecido das obrigações que Alec tinha como Shadowhunter, e por um momento podia jurar que Alec também parecia ter se esquecido.

- Entendo. - foi tudo o que Magnus conseguiu dizer, se lembrando da conversa que tinha tido com Alec na noite passada. Magnus seguiu até a sala, com presidente miau no seu encalço e Alec atrás falando ao telefone.

- Magnus... a noite passada foi... boa, embora eu não me lembre de muito mais após minha terceira taça de Martini. - Alec disse. Se aproximou de Magnus e pegou o feiticeiro de surpresa ao envolve-lo em um abraço apertado. - Obrigado.

- Não tem de que Alexander. Apareça sempre que quiser. - Magnus disse após quebrarem o abraço, e se inclinou para beijar o rosto de Alec. Alec acabou virando a cabeça na hora errada, ou na hora certa ao ver de Magnus, e por uma fração de segundos, os lábios de Magnus se demoraram nos de Alec. Não fora um beijo, mas aquilo, aquela sensação, foi muito satisfatória para o feiticeiro e ele esperava que Alec pensasse o mesmo.

- E-eu tenho mesmo que ir. - Alec disse se afastando de Magnus. Magnus pôde notar um pequeno rubor nas bochechas de Alec, e soube ali que o turbilhão que tinha sentido e que o tinha afetado naqueles poucos segundos em que seus lábios tocaram os de Alec, também tinha afetado o caçador de sombras. Um sorriso sedutor surgiu nos lábios de Magnus, quando ele levou Alec até a porta, e se despediu do caçador de sombras. Fechou a porta com uma alegria inexplicável, e por um momento sentiu como se tivesse ido à lua e voltado. Naquele momento, Magnus desejou do fundo de seu coração que Alec fosse seu, e seu somente. Pediu para todos os deuses, e se estivesse em um campo de dentes de leão, desejaria à todos eles que o coração do caçador de sombras lhe pertencesse e que o dele pertencesse à Alec. Mal sabia ele, que mais alguém vira o que tinha acabado de acontecer, e não estava nada feliz com o que tinha visto.

Se Eu Não Posso Ter Amor, Eu Quero PoderOnde histórias criam vida. Descubra agora