A SEGUNDA NOITE

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A CASA NOVA

Branca como leite diante dos morros de vinhas,
Atrás dos álamos e suas folhas douradas
Você me aguarda; e eu trago guardadas
Suas chaves e sei que você é minha,
E todos os fantasmas seus que vejo
Dos dias e anos que ainda almejo.

Crepúsculos acinzentados pela chuva de abril,
As loucuras da lua do mês de agosto,
O canto de outubro tocando seu rosto,
Em dezembro, o temporal em seu peitoril,
Tudo deve você encantar e adocicar;
Embora ainda recente, é meu lar doce lar.

Nesta casa deve haver riso e choro,
Deve haver derrota e vitória,
Momentos de infâmia e outros de glória,
Euforia, apreensões e decoro...
Tudo isso deve se mesclar em seu íntimo,
Moldar sua alma e seu caráter último.

Serenatas entoadas em seu portão,
E noivas de branco descendo as escadas,
Garotas com cabelos adornados como fadas,
E pés dançantes bailando em seu chão,
Namorados suspirando em sua varanda,
E crianças no jardim a brincar de ciranda.

Deve haver reuniões em torno da lareira,
Encontros e despedidas, nascimento e morte,
Vigílias e prosas de toda sorte...
Tudo se acumulará pela vida inteira,
Uma moradia para quem em você habitar,
Casa querida, embora recente; meu lar, doce lar.

Anne Blythe



Doutor Blythe:

- Essa é a casa nova que o Tom Lacey construiu na estrada de Lowbridge? Eu a vi olhar para ela atentamente.

Susan Baker:

- Dizem que custou a ele mais do que ele um dia conseguirá pagar. Mas uma casa nova é interessante, e eu admito. Já pensei, algumas vezes... (Para de falar, pensando que talvez seja melhor não expressar o que uma velha governanta pensa sobre casas novas.)



HINO DOS TORDOS

Quando os ventos distantes sopram suaves
Em meio às árvores do pomar,
Ouve-se o assobio dessas belas aves
Tais quais menestréis a cantar.
Quando o orvalho acumula, inerte e frio
No vale escuro e distante,
Os tordos entoam seu gracioso pio
Para cumprimentar a noite rompante.

Escute, ouça-os na clareira da Mata
E nas florestas e praias!
Escute, ouça-os na sombra pacata
Da solidão das samambaias,
Onde pequenas fadas se ocultam
Para aprender as notas prateadas
Que sob o enlevo do ocaso avultam
Nas respostas igualmente entoadas.

Deve-se ficar contente ao ouvi-los:
Eles próprios se alegram;
Devem manter algo em sigilo,
Segredos que ao bosque se integram,
Alguma confidência que repetem sem cansar
Para nós enquanto a escuridão se instala
Quando ouvimos o tordo a cantarolar
O chamado que a vida embala.

Anne Blythe



Susan Baker:

- Eu realmente gosto de ouvir o assovio dos tordos no entardecer.

Anne:

- Às vezes, o bosque de bordos e o Vale do Arco-Íris parecem ganhar vida com eles.

Doutor Blythe:

- Você se lembra de quando eles costumavam cantar na Mata Asosmbrada e na Encosta do Pomar?

Anne, melancolicamente:

- Não me esqueci de nada, Gilbert... De nada.

Doutor Blythe:

- Nem eu.

Jem Blythe, gritando à janela:

- Colheres! Colheres! Diga, Susan, sobrou algum pedaço daquela torta? Eu gosto mais dela do que do canto de todos os tordos do mundo.

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