ADEUS AO ANTIGO QUARTO
Sob a luz do ocaso dourado
Preciso deixar meu quarto amado,
Dar adeus e a porta fechar
Para nunca mais retornar.
Palavras ternas minha boca dirá,
Meu coração se despedaçará,
Pois este quarto pareceu ser
Um bom amigo durante meu viver.Sei como o sono era doce aqui...
E quantas vezes não permaneci
Desperta ao fruir a magnitude
Da chama encantada da juventude.
Risadas deleitosas aqui habitavam,
Sonhos que as noites de luar iluminavam,
E o êxtase quando a manhã surgia
Dançando no vale, espalhando alegria.Aqui eu sempre me punha bonita,
Vestido rendado e cabelo com fita,
Perdendo-me em estampas de seda brilhosa
Sobre a pele alva, macia e cheirosa,
Eu me amava porque percebia
Que ele me amava de noite e de dia.
Aguardava sempre junto à janela
A chegada de sua habitante singela.Aqui me deitei ao lado da dor
No leito da angústia e do langor,
Também veio a morte me visitar,
Olhou-me nos olhos sem se demorar;
O bem e o mal, o sossego e a ferida,
Todas as maravilhas da vida,
Toda a sua glória sem fim
Aqui fizeram parte de mim.Então me despeço com olhos marejados
De todos os bons anos aqui passados,
E, se a próxima pessoa que aqui se hospedar,
Agora que estou este quarto a deixar,
For uma garota, eu deixo para ela
Todos os sonhos da vida mais bela,
Lembranças de todas as fantasias
Dos fantasmas amigos e suas mãos frias.Que ela tenha, assim como eu,
Alegrias imensas no quarto seu;
Alvoradas airosas, chuvas cantantes,
Horas serenas de momentos calmantes,
O vento silencioso nos galhos da mata,
Noites que a ninem com sua sonata,
E um quarto que ainda seja
O amigo que qualquer um deseja.Anne Blythe
Doutor Blythe:
- Não é difícil adivinhar qual foi a inspiração para esse poema, Anne. Seu antigo quarto em Green Gables?
Anne:
- Sim, em sua maior parte. Pensei nele na noite anterior ao dia do nosso casamento. E cada palavra é verdadeira. Aquele quarto foi o primeiro que tive só para mim na vida.
Doutor Blythe:
- Mas você retornou lá várias vezes.
Anne, melancolicamente:
- Não, nunca. Eu já era uma esposa, e não uma menina, quando voltei. E ele era como um amigo para mim... Você não pode imaginar quanto.
Doutor Blythe, provocativamente:
- Você pensava em mim enquanto "fruía a magnitude da chama encantada da juventude"?
Anne:
- Talvez. E quando eu me levantava cedinho para ver o sol nascer na Mata Assombrada.
Walter:
- Eu adoro ver o sol nascer no Vale do Arco-Íris.
Jem:
- Não achei que você acordasse cedo o suficiente para isso!
Doutor Blythe:
- Você realmente "se punha bonita" para mim?
Anne:
- Depois que noivamos, é claro que sim. Eu queria que você me achasse o mais linda possível. E, mesmo durante os tempos de escola, quando éramos rivais, acho que queria que você me visse tão bonita quanto eu pudesse ficar.
Jem:
- Está dizendo, mamãe, que a senhora e o papai não se entendiam bem quando frequentavam a escola?
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Os Poemas dos Blythes
PoetrySob a luz do crepúsculo de Ingleside os Blythes se reúnem para ler e comentar os poemas escritos por Anne e seu filho Walter. Refletindo o significado dos versos, lembram do passado, da evolução de cada membro da família e de como o destino encaminh...