A QUARTA NOITE

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CREPÚSCULO CANADENSE

Um céu ocidental de névoa avermelhada
Florescendo em estrelas sobre o mar,
Esparramando a misteriosa escuridão prateada
Para além das longas dunas cinza a serenar,
Onde a grama litorânea e as papoulas abundam
E juntas uma doce solidão silvestre fecundam.

Sete álamos esguios no morro ventoso
Falam uma língua perdida de tempos remotos,
Ensinada pelo povo mágico que habita o formoso
Campo de margaridas ao qual são devotos,
Sempre resguardando até a morte
O ritual mágico de nossas florestas do norte.

A escuridão nos corteja como uma flor perfumada
Levando-nos a lagoas juncosas e a antigas árvores sensatas,
A canteiros de especiarias em hortas abastadas,
E à austeridade dos abetos no meio das matas.
Já conheço o fascínio do ocaso, mas, ainda assim,
Rendo-me ao seu encanto sobre o mar sem fim.

Os barcos ociosos devaneiam ancorados
Ao lado do cais onde as ondas revolvem e cantam,
Um veleiro fantasmagórico se afasta no oceano nublado,
Formando com a lua cenários que os olhos encantam.
Oh, navio que parte entre a luz e o breu,
Leva contigo a esperança e o coração meus.

Walter Blythe


Rilla Ford:

- Ele fala do encanto da praia, mas acho que amava mais as florestas. Quantos crepúsculos passamos juntos! E, depois, o horror! Eu sempre sinto, contudo, que a esperança e o coração dele seguem comigo, embora aquela lembrança terrível do dia em que recebemos a notícia da morte dele ainda me oprima, por vezes. E agora Gilbert juntou-se à força aérea e preciso esperar de novo! Como o fato de Walter escrever poemas costumava irritar a pobre Susan! Quando penso em Walter, parece quase cruel ter que ficar feliz por Ken ter retornado. Mas o que eu teria feito se ele não tivesse voltado? Eu jamais conseguiria ser tão corajosa quanto a Una.


OH, CAMINHAREMOS HOJE COM A PRIMAVERA

Oh, caminharemos hoje com a primavera,
Com a Dama de Maio, bonita e sincera,
Em toda a sua doce despreocupação
Em meio aos deuses que reinavam sobre este chão;
Em trilhas secretas de feitiços e magias leves,
Onde feitos impressionantes podem acontecer em breve,
Algum sussurro de uma fada escondida,
Sábias palavras do passado já perdidas,
Ou um pé descalço de uma dríade a trilhar
Seu caminho de uma beleza peculiar.

Oh, por toda a terra iremos caminhar,
Encanto, magia e mistério a observar:
Alguns campos montanhosos de sol e grama;
Onde uma sombra fascinante se derrama;
Uma árvore solitária tomada pelas teias
Tecida em um tear de uma época alheia;
Um riacho cantante, festivo e indomado;
Lendas de antigas primaveras no prado;
Pinheiros necromânticos que ensinam
A erudição de saberes divinos que atinam.

Oh, caminharemos hoje com a primavera,
Por uma trilha florida onde o perfume prospera,
Em vales musgosos livres de maldade
Celebrar uma sacramental amizade
E um acordo com os ventos que parecem, afinal,
Soprar da Terra da Juventude Imortal;
Oh, ficaremos eufóricos como uma canção
E tão felizes quanto as aventuras que virão,
Com corações risonhos, pois na Primavera
Pode-se acreditar em tudo que na terra impera.

Walter Blythe


Doutor Blythe:

- Sim, pode-se mesmo acreditar em tudo na primavera, graças a Deus. Lembro que nos velhos tempos, Anne, eu costumava acreditar, durante a primavera, que poderia conquistar você, apesar de tudo.

Jem Blythe:

- Não acredito nisso, meu pai. Está querendo dizer que um dia houve alguma dúvida com relação a isso?!

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