AU REVOIR

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EU QUERO

Estou farto do barulho da cidade...
Daqui quero fugir
Para campos onde o luar adora sonhar
Sobre riachos a luzir.
E onde por entre os pinheiros ao final da trilha
A luz de uma velha casa ainda brilha.

Quero sentir o vento que sopra
No topo das montanhas, livre e distante,
Sobre os campos de trevos que se estendem
Até o mar altivo e cantante,
E ouvir novamente o rugido silencioso
Das ondas no litoral rochoso.

Estou cansado de tumulto e ódio;
Quero uma noite doce e tranquila,
Em um velho jardim enovelado onde
Desabrochem lírios e camomilas...
A escuridão perfumada será, enfim,
Uma amiga honesta e leal para mim.

Quero que a chuva festiva fale,
Assim como fala na primavera,
E me conte, como costumava fazer,
Das coisas belas de outra era.
Quero ver a cerejeira nevar
Sobre as trilhas de um antigo pomar.

Quero um tempo para sonhar
Longe da pressa decadente,
Quero trocar buzinas e gritos
Pelo canto dos tordos sob o sol poente,
Quero um tempo para brincar...
O trem para casa hoje hei de tomar!

Walter Blythe


Susan:

- Há partes desse poema que consigo entender. Mas deve ser, em sua maioria, o que a cara senhora Blythe chama de "imaginação". Walter não tinha passado tempo suficiente em uma cidade quando escreveu isso... Lembro-me de que ele estava no início da adolescência. Será que um dia esquecerei a noite em que ele fugiu da casa do doutor Parker e voltou para casa, caminhando por quase dez quilômetros no escuro? E tenho certeza de que nosso jardim nunca foi enovelado, nem aqui nem na Casa dos Sonhos. As cerejeiras parecem mais brancas que de costume neste ano. Como ele as adorava, especialmente as que cresciam livremente no Vale do Arco-Íris. Além disso, ele amava todas as coisas singelas e belas. "Susan", ele costumava me dizer, "o mundo é repleto de beleza". Ele não tinha idade suficiente para saber. Existem, contudo, algumas coisas belas nele, e amanhã preciso arrancar as ervas daninhas do canteiro de amores-perfeitos. Nós sempre fazíamos isso juntos. "Veja os rostinhos pitorescos deles, Susan", ele dizia. Não sei ao certo o que "pitoresco" significa, mas os amores-perfeitos certamente têm rostos, disso eu assino embaixo.


O PEREGRINO

O vento sopra no morro;
Nuvens negras de chuva a oeste,
Mas celeremente ainda transcorro
Em minha busca entre os ciprestes.

Pois um feitiço antigo ainda tece tenaz
O encanto do céu tempestuoso,
E as nuvens dissiparão, deixando para trás
Uma estrela no firmamento calmoso.

Ou talvez seja a lua,
Fina como um anel,
Que coroará as bétulas nuas
Na primavera de mel.

Pode ser que eu trilhe
Um caminho inexplorado,
Onde encontrarei um sonho que maravilhe
Minhas recordações do passado.

A primavera branca há de ser minha,
E minha será a bondade do verão;
Do outono, a fragrância rainha;
Do inverno, a solidão.

Aqui, as árvores me protegem
Com sua graça verdejante;
Lá, onde as dunas emergem,
A névoa umedece o rosto do viajante.

Caminharei até o raiar do dia,
Sem pressa e sem descanso;
A beleza é minha estrela-guia:
Em minha busca assim avanço.

Walter Blythe

Diana:

- Ele escreveu esse poema pouco antes do início da última guerra.

Doutor Blythe:

- Uma criança falando de seus sonhos de outrora!

Anne:

- Essa é a única época em que podemos falar deles. É tudo amargo demais quando envelhecemos.

Os Poemas dos Blythes Onde histórias criam vida. Descubra agora