Capítulo 5

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-Vejo que conseguiu encontrar uma roupa! Sente aqui, já preparei sua dose.

Ele me aponta a poltrona à direita, pega um dos copos já servidos da mesa de apoio que tem entre as poltronas e me alcança.

-Sim, sua irmã não veste o mesmo número que eu, mas encontrei essa aqui um pouco maior e serviu. Só o sapato que não teve jeito, ela calça dois números a menos do que eu. Digo rindo e apontando para as pantufas nos meus pés.

-Mas os meus tênis devem estar lá onde a gente estava antes, eu...

-Ah, não se preocupe, vou pedir para encontrarem. Mas me conte mais sobre você...

-O que gostaria de saber? Bebo um gole enquanto sinto o calor da lareira que chega até nós.

-Tudo, quero conhecer você! Ele fala e coça de leve a ponta do nariz.

-Tudo? Bom, então vamos ter que ficar aqui conversando até sabe Deus quando! Respondo rindo e ele sorri.

-Você pode começar me contando por que escolheu fazer o que faz e não se preocupe com o tempo, sou todo ouvidos! Diz e se ajeita na poltrona colocando o braço direito sobre a guarda e dobrando o joelho direito por baixo da outra perna.

-Bom, essa parte vai parecer mentira se eu contar, porque seria muita coincidência eu estar aqui agora. Mas não acredito em coincidências.

-Nem eu.

-Para começar, desde criança sempre tive muita conexão com os animais e com a natureza. Cresci muito livre, tinha muito contato com a natureza, por mais que tenha vivido sempre em região urbana. E desde novinha se eu via um cachorro na rua sozinho ou alguma cena de um animal abandonado ou algo assim em um filme, chorava na mesma hora. Minha mãe conta rindo que quando dava uma cena dessas ela já ela me olhava de canto de olho para ver se eu estava chorando, porque já sabia que eu estaria com os olhos cheios d'água, mas tentava disfarçar olhando pra cima pra não cair nenhuma lágrima.

Ele ri de forma contida e toma um gole de sua bebida.

-Depois eu cresci, mas esse lado sempre me acompanhou, até hoje me corta o coração ver qualquer coisa que machuque um animal ou o meio ambiente. Bom, me formei na faculdade e tinha outros planos, não pensava em seguir carreira acadêmica, nem pensava na área ambiental, não sei porque, mas não tinha me dado esse clique, sabe? Entrei pra faculdade meio no automático, porque era o que se esperava que uma pessoa fizesse depois de terminar a escola, e a escolha pelo curso não foi por um chamado de vocação, sabe? Simplesmente escolhi e comecei. Durante o curso eu pensava em ser Juíza de Direito, esse passou a ser meu foco. Mas quando me formei, fique um bom tempo com um bloqueio em relação a isso, não conseguia sair do lugar, não entendia porque, pois eu achava que era carreira que eu realmente queria.

-Enfim, para resumir...

-Não precisa resumir, estou gostando de conhecer mais sobre seu passado e sobre o que te levou a ser quem é hoje.

Fala atencioso ao me interromper, demonstrando mais uma vez como é atencioso e gentil.

-Depois de alguns anos nesse impasse, eu me sentia muito mal por não estar engrenando profissionalmente. Isso era 1995, eu estava desapontada com as possibilidades profissionais que eu vislumbrava até aquele ponto, comecei até a pensar que talvez eu precisava escolher outro curso, que eu havia feito a escolha errada. Mas aí eu entendi que eu não estava olhando para o lado certo, e entendi isso quando você lançou o álbum History.

-Como assim? Pergunta curioso erguendo um pouco as sobrancelhas.

-Nesse álbum tem a música Earth Song e também tem Man in the Mirror, essa última eu já adorava desde o lançamento em Bad, inclusive é minha música preferida, sempre sentia que precisava fazer alguma coisa quando escutava ela. Mas ainda não tinha entendido que coisa era, quando Bad lançou eu estava entrando para a faculdade.

Homem no espelho - O encontroOnde histórias criam vida. Descubra agora