Capítulo 12

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Com o olhar acompanho ele se levantar e andar até o centro do iate para descer e buscar outra garrafa de vinho. Estou me perdendo em tudo que lhe disse ontem, está ficando difícil não ceder a todo esse ambiente que ele criou, o carinho de ter preparado tudo, pensado em tudo, e o vinho vai deixando tudo mais leve, divertido e possível.

-Pronto, aqui está... Ele volta e para atrás da minha cadeira, se aproxima da mesa por cima do meu ombro esquerdo e inclina o corpo levemente por cima do meu para servir minha taça. Sinto uma brisa trazer o perfume que ele está usando, um cheiro intenso e um tanto sexual, um pouco amadeirado, nitidamente tem uma mistura de baunilha com orquídeas e canela, algo muito peculiar. Deixo seu cheiro entrar em minhas narinas e em seguida ele volta a se sentar, fazendo a brisa levar seu cheiro para longe de mim, me deixando com vontade de sentir novamente.

-Que perfume está usando? Pergunto curiosa.

-Black Orchid, Tom Ford. Gostou?

-Gostei, é ótimo! Combina com você... Ele sorri e volta a entrar no assunto que estávamos falando.

-Mas voltando ao assunto de antes, você costuma então se encontrar com sua ex para matar a saudade? Indaga com curiosidade enquanto brinca com o indicador da mão direita na borda da taça, vejo que ele ficou encucado com isso.

-De vez em quando, mas não é para matar a saudade, não há mais sentimento de amor ou paixão, só acaba acontecendo, é algo fácil e seguro, acabamos resolvendo certas carências uma da outra, se é que me entende...

-Oh, sim, entendo... Responde se ajeitando na cadeira com um olhar meio risonho.

-Mas e você, não sente falta de sexo?

-Você ainda vai me matar de vergonha, eu já disse! Fala rindo tentando disfarçar a timidez que tomou conta dele erguendo a taça até a altura dos lábios para sorver uma boa quantidade do líquido, faz isso sem me olhar.

-Ah, já estamos falando de coisas íntimas, não precisa ficar envergonhado assim... aproveita o vinho, se solta mais...

-É claro que sinto, mas como falei antes, é complicado. Responde depois de uns segundos em silêncio e de uma respirada profunda.

-Mas você pode ter quem quiser, a hora que quiser! Olha quem você é, não pode ser assim tão complicado, deve haver uma maneira discreta de poder se divertir com mais frequência.

-Não é bem assim, não é todo mundo que me quer como você está falando.

-E quem seria louca de negar uma noite com você?

-Você!

-Touché! Digo sorrindo de canto e pegando minha taça para dar tempo de pensar o que responder, não achei que ele fosse dizer isso. Mas acho que pedi, agora preciso matar essa.

-Você sabe que eu estava falando de encontros casuais... e...

Antes que eu pudesse completar minha fala, ele se levanta, para em minha frente e me estende a mão como se me convidasse para dançar uma música que não está tocando. Seguro sua mão e levanto, sendo conduzida até a ponta da proa. Ele para uns centímetros atrás de mim e metade do corpo fica ao meu lado esquerdo, de modo que meu ombro atinge mais ou menos o meio do seu peito.

-Por que está tão resistente a mim? Por que não deixa acontecer o que você também quer que aconteça? Pergunta próximo ao pé do meu ouvido, com a voz baixa e firme. Não sei para onde foi a timidez que estava presente nele agora pouco.

-Porque você disse tantas coisas importantes ontem, não quero fazer nada que possa magoar você depois, não é tão simples como se fosse algo totalmente casual.

Homem no espelho - O encontroOnde histórias criam vida. Descubra agora