Capítulo 17

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Alguns dias depois


Quinta-feira


Fernanda on


-Alguém tem alguma dúvida? Não? Então podemos encerrar a aula de hoje e nos encontramos na semana que vem. Bons estudos a todos!

Termino a última aula da manhã e meu telefone toca, olho o número e dou um suspiro grande. Michael ligou várias vezes desde que voltamos de Miami, mas não atendi. Deixo novamente cair na caixa de mensagem e vou até a garagem da universidade pegar meu carro e ir almoçar. Estou me sentido horrível por estar ignorando suas ligações, mas não posso seguir o encontrando, a gente nunca daria certo. No outro dia que voltamos da viagem eu só queria vê-lo, falar com ele, estar com ele, me sentia como uma adolescente de 16 anos com seu primeiro amor. Estou me apaixonando, mas isso não pode acontecer. Com ele é tudo intenso, não é nada convencional, se eu entrasse de cabeça nisso, não teria freio, seria como um carro desgovernado numa ladeira, só pararia quando me chocasse contra uma parede de concreto. Não quero me chocar numa parede de concreto. Não posso. Não consigo imaginar como seria ter o amor de uma pessoa como ele, amá-lo por completo e depois ter que esquecê-lo, ele é o tipo de pessoa que você não pode ter como ex na sua vida, pois seria impossível conviver com o fato de que o que havia não existe mais. Amá-lo e depois ter que parar de amar, isso seria impossível para mim. E seria isso o que aconteceria se seguíssemos com o que estávamos fazendo. É ilusão achar que não, eu não pertenço ao universo dele, nem ele ao meu, então um dos dois precisaria fazer essa travessia, e com certeza não seria ele. Só que eu não estou disposta a abrir mão do meu universo por uma pessoa, seja ela quem for, mesmo que essa pessoa possa ser o maior amor da minha vida. Se eu o ignorar por tempo suficiente, por mais que me corroa por dentro, ele vai desistir e poderemos viver nossas vidas como estávamos fazendo antes de conhecermos. Foi ótimo poder conhecer um ídolo, ele é tudo o que os melhores fãs imaginam e muito mais, mas o ídolo deve permanecer ídolo e é nesse lugar que ele vai continuar para mim. Só preciso ser forte, só isso. Repito isso para mim mesma a caminho do carro, afinal, estou tentando me convencer disso a semana toda. Ele vai desistir.

Michael on

-Sr. Jackson, o pessoal da gravadora está ligando a respeito da reunião de ontem que o senhor desmarcou. Querem saber para quando podem marcar?

Daqui da onde estou sentado, em uma poltrona no fundo do meu escritório, olhando para o verde molhado do jardim nesse dia de chuva, ouço meu assessor falar ao longe, lá do outro lado do cômodo, na mesa em que está trabalhando na reorganização da minha agenda da quinzena.

-Diga que retorno daqui uns dias para agendarmos, não estou com cabeça para tratar disso agora, George.

Aliás, não tenho tido cabeça para lidar com nada nesses últimos dias, o silêncio de Fernanda está me matando. Não entendo o que aconteceu, estávamos progredindo, achei que estávamos conseguindo nos conhecer mais a fundo, que estávamos criando um certo vínculo de alguma maneira, mesmo que devagar, como ela queria. Mas de repente ela para de atender minhas ligações, não retorna, nem diz o porquê disso tudo. Não consigo pensar em trabalho ou em mais nada. Minha vontade era ir até sua casa e perguntar cara a cara o que está acontecendo, mas tenho medo da resposta. Esse silêncio todo não pode ser nada de bom. Mas já estou completamente perdido, a amo, tenho essa certeza, como posso conviver com esse silêncio?

-Bom, já remarquei todos os compromissos que o senhor possuía na semana que vem, assim como já havia feito com os dessa semana. Mas preciso avisar que isso está nos causando problemas, temos prazos a cumprir com o álbum, Sr. Jackson, temos os...

-Eu sei, George, acha que não sei? Sei das minhas responsabilidades, mas não posso cuidar disso agora. Dá um jeito, é para isso que está aqui. Depois eu resolvo tudo, se tiver que desfazer algum contrato e pagar multa, desfaça, pouco me importo. Agora, por favor, me deixe sozinho. Pode ir para casa. Digo ainda olhando para a rua.

-Certo, como quiser. Qualquer coisa é só me chamar.

Esse dia particularmente está sendo difícil, toda essa chuva está me lembrando os últimos momentos que passamos juntos, conversamos tanto naquele dia. Ah, aquela manhã. Se eu soubesse que não teriam outras, teria aproveitado muito mais, teria ficado com ela em meus braços naquela cama pelo dia inteiro.

-Entre. Digo ao ouvir alguém bater na porta.

-Sr. Jackson, o almoço já está servido.

-Não estou com fome, Rose, obrigado. As crianças já comeram? Peça para Grace trazê-las aqui antes de saírem para casa de Janet.

-Sim, senhor.

Não demora muito e meu escritório é preenchido por gritos e risadas, as crianças entram correndo e pulam em mim, é a única coisa que me traz preenchimento nesses últimos dias. Elas ficam aqui comigo um tempo, brincamos um pouco e logo Grace as busca, hoje irão dormir na casa de Janet.

Passo a tarde aqui no escritório e já para o final do dia resolvo ir até a casa de Fernanda e descobrir o que está acontecendo. Aviso Bill e saímos. Depois de horas na estrada finalmente paramos em frente à casa, que está com as luzes acesas. Ela está em casa. Pego o celular e resolvo tentar ligar mais uma vez, mas dessa vez nem chama, cai direto na caixa postal. Fico observando as janelas por uns instantes, veja movimentação na sala. Abro a porta do carro e atravesso a rua, toco a campainha e meu coração acelera. Espero alguns instantes e nada, toco novamente na esperança de que esteja estragada e que ela não esteja ouvindo, mas não está, pois ouço tocar aqui de fora. Bato na porta dessa vez e espero longos instantes, mas ela não aparece. Dou meia volta e caminho em direção ao carro sem entender o motivo de ela estar me ignorando desse jeito. Não tem outro nome para isso, ela está realmente me ignorando. Se não tivesse conseguido atender as minhas ligações, teria ligado de volta. Mas eu estava na esperança que tivesse perdido o celular, só que agora vendo que ela está em casa e não atendeu a porta, não tenho mais como me enganar, ela deve ter visto o carro e não quis abrir, pois viu que era eu. Ela não quer mais falar comigo, é isso.

-Podemos voltar, Bill.

-Sim, senhor. A senhorita não estava?

-Estava, Bill. Mas não quis me atender.

-Ah, não deve ser isso, senhor. Ela deve ter uma explicação. Ele fala me olhando pelo retrovisor.

-Vamos para casa Bill, quero sair daqui.


Algumas horas depois


-Michael, Michael... abra a porta! Michael! Sou eu...


Continua...

Homem no espelho - O encontroOnde histórias criam vida. Descubra agora