Homem no espelho - O encontro

Capítulo 19

-Não é tão simples assim, você sabe. Nós somos muito diferentes em termos de realidade, isso alguma vez já deu certo? Ele já teve algum relacionamento que deu certo com alguém que era de fora da realidade que ele vive? Não vejo como pode ser bom para nós, não estou pensando só em mim.

-Eu sei, entendo o que está pensando. Mas o que é um relacionamento que deu certo? Vocês dois estão solteiros agora, então quer dizer que os relacionamentos que tiveram até aqui não deram certo? Para mim, dar certo não quer dizer ser para sempre. Independentemente de vocês terem experimentado vidas totalmente diferentes, não significa que isso seja um fator decisivo que vá fazer dar certo ou errado, você não acha?

-Não sei, Karen. Eu acho que às vezes uma decisão mais pé no chão pode evitar muito sofrimento. O Michael é uma pessoa especial, você sabe disso, o conhece muito melhor do que eu. Você já imaginou amá-lo e ter que se afastar pelo fim do relacionamento? Ele não é uma pessoa que alguém gostaria de ter que deixar no passado, e isso me paralisa. E normalmente não sou assim, vivo as coisas, aposto no que tenho vontade, não fico em cima do muro. Só que nunca estive diante de algo assim, isso é diferente de qualquer coisa que já vivi. Quando estou perto dele é como se estivesse perto de tudo aquilo que eu precisasse para ser quem sou e estar onde estou, isso é apavorante, porque o que acontece depois que isso tudo passar?

-Minha querida, não tenho a pretensão de opinar sobre o que deveria fazer, mas vou me atrever a dizer que acho que não pode deixar o medo te paralisar. Em qualquer relacionamento, com qualquer pessoa, a gente pode sair machucado e machucar. Pense bem, pelo menos volte a vê-lo.

-Agradeço por ter me procurado e foi bom ouvir a voz dele, mas não sei o que fazer. Não tenho uma resposta para dar.

-Só pense, é o que peço.

Nos despedimos, deixo o dinheiro do café em cima da mesa e saio. Saio com a cabeça pensando mil coisas por minuto. Que merda, eu estava ótima até conhecer ele. Estava sem nenhum conflito, estava numa posição segura, estava bem.

-Alô? Meu telefone toca na saída do café e atendo sem nem ver quem é.

-Oi, sou eu.

-Patrick?

-Sim, minha preciosa. Estou na cidade, vamos jantar?

-Puxa, estou passando por um período meio complicado, não sei se eu seria boa companhia.

-Ah, você seria a companhia perfeita em qualquer situação. Vamos, aceita? Pego você às 20h? Estou com saudades!

-Tudo bem, espero você às 20h.

-Um beijo, minha preciosa! Estou ansioso para ver você!

-Beijo, até mais!

Me despeço e quando me dou conta já estou no estacionando da universidade onde meu carro está estacionado, vim andando completamente no automático. Entro no carro e vou até o supermercado, minha geladeira está quase vazia. Depois de um bom tempo gasto em fila, vou para casa. Arrumo as compras nos armários e na geladeira, sirvo uma dose de Whisky, tiro a roupa na sala mesmo e me atiro no sofá, completamente confusa. Tento pensar com clareza no que fazer, esse encontro com a Karen me fez questionar muito a decisão que tomei. Ouvir que ele está para baixo mexeu comigo, achei que ele estivesse exagerando no que falava e que uns dias de ausência minha seriam suficientes para ele partir para outra.

Meu raciocínio não chega a lugar nenhum, fico apenas dando voltas no mesmo lugar, resolvo parar de pensar nisso, pelo menos por hoje, e ir tomar banho para me ajeitar para o jantar. O tempo voa e termino de me aprontar junto com o soar da campainha.