Capítulo 20

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-O que houve, minha preciosa? Ele fala se sentando na cama e vindo me abraçar por trás.

-Nada, só vamos ter que parar por aqui. Desculpa faze-lo perder seu tempo, mas por favor, preciso que vá embora agora. Digo sem nem conseguir olhar para ele.

-Mas não entendi, estávamos indo tão bem, foi algo que eu fiz? Pergunta tentando entender e passando a ponta dos dedos em algumas mechas de cabelo na lateral do meu rosto.

-Não, você foi ótimo, como sempre. O problema sou eu, preciso ficar sozinha, por favor. Depois ligo para você. Peço mais calma dessa vez, com a respiração começando a voltar para o lugar e a frustração tomando conta pelo tesão que será desperdiçado. Ele atende meu pedido e levanta, mas não sem antes fazer a volta na cama e me beijar o rosto carinhosamente. Sorriu e saiu do quarto. Esperei um tempo para que ele pegasse suas coisas e saísse e me enfie embaixo do chuveiro.

Agora só me faltava essa. O que era simples e fácil até pouco tempo atrás, Michael conseguiu transformar em impossível. Penso enquanto a água escorre nas minhas costas e leva com ela o resto de espuma que havia sobre a pele. Desligo o chuveiro e visto um conjunto de moletom para me deitar no sofá e assistir a um filme, de preferência um bem sangrento para me distrair e me fazer sentir qualquer outra coisa além do que sinto no momento.

Escolho um canal com um filme já começado e tento entender o enredo, mas antes que pudesse pegar o fio da meada, a campainha toca. Levanto olhando pela casa para ver se Patrick esqueceu alguma peça de roupa e voltou para buscar, mas não vejo nada. Abro a porta e não tem ninguém, apenas um buquê de flores e uma garrafa de Whisky sobre o tapete de entrada. Junto, olho pela rua e não vejo ninguém nem carro nenhum. Entro e encontro um cartão no meio dos girassóis.

"Apenas flores seria muito clichê, então resolvi enviar algo que combina mais com você. Divide comigo, Nanda? Estarei trabalhando no meu álbum quinta-feira que vem, às 18h, no Sunset Sound Recorders. Quero que vá conhecer o estúdio e depois a levo para jantar. Leve a garrafa. Espero ansiosamente que vá. Esse é meu último contato, se não for, a deixarei em paz. Estou com saudades.

Com carinho, M. J."

Sorrio ao ler o bilhete escrito à mão, sinto levemente o perfume que já senti diretamente em sua pele e levo o papel até o rosto, confirmando que está perfumado. O meu Deus, por quê? As palavras finais retumbam na minha mente: esse é meu último contato, se não for, a deixarei em paz.


Michael on


-Jogou tudo fora e rasgou o cartão, Bill?

-Sim, senhor.

Pergunto assim que ele volta para o carro, vim até a casa de Fernanda mais cedo para deixar na porta um convite para ir em um dia de gravação e depois jantar comigo, era minha última esperança de ela ceder e aceitar ao menos conversar. Mas quando estávamos chegando a vi sair de casa e entrar no carro de um homem, pedi para Bill seguir o carro e vi que eles foram jantar. Nesse momento eu devia ter ido embora, saber que ela estava saindo para jantar com outro deveria ter sido o suficiente para entender que ela apenas não queria a mim, mas não se importava de se envolver com outra pessoa. Mas não consegui ir embora, queria ver no que aquilo iria dar, se ela apenas iria jantar e depois ele a deixaria em casa e iria embora. Para meu desespero, não foi o que aconteceu.

Não me orgulho de ter ficado de tocaia na rua do restaurante, mas precisava saber. Quando saíram foram para a casa dela e vi a pior cena que poderia ter presenciado, ele a agarrou e a beijou como se já tivessem intimidade. Por que se envolver com ele e não comigo? Não entendo, ela sempre pareceu gostar da minha companhia. Fiquei um tempo com o carro parado dobrando a esquina, tentando processar o que havia visto. Eles entraram logo depois disso e provavelmente terão uma longa noite de sexo. Não consigo nem pensar nela sendo tocada por outra pessoa. Com tudo isso não faz mais sentido eu ficar esperando que ela me atenda ou que vá me encontrar, para que entregar flores que serão ignoradas? Pedi ao Bill que se livrasse de tudo, não queria ter que voltar para casa olhando para o cartão que escrevi com tanto carinho. Tenho que aceitar que amei sozinho e que preciso seguir a vida.

Homem no espelho - O encontroOnde histórias criam vida. Descubra agora