Permaneci ali olhando para o padre Berrycloth, enquanto o mesmo conversava com a madre Charlotte. Eu não conseguia tirar meus olhos daquele santo homem. Ele era divino, que deus me perdoe por tal blasfêmia. Fiquei o observando em silêncio, quando a Annabelle parou ao meu lado me trazendo um caderno. Era meu diário, ela havia escondido uma vez que a madre Charlotte vasculhou meu quarto.
— Não se esqueça disso. — sussurrou ela.
— Obrigada. — sussurro de volta.
— Talvez ele faça academia. — comentou ela arrancando um riso de mim.
Aquilo foi o suficiente para que a madre e o padre Berrycloth voltassem seus olhos para mim.
— Diga criança, quantos anos tem? — perguntou o padre.
— Farei dezessete daqui uma semana. — respondo, baixando um pouco meu olhar.
— E ainda não fez seus votos? — nego com a cabeça. — E por que?
— Eu…
— Ela acha que deve se preparar melhor. — respondeu a madre. Padre Berrycloth continua me olhando, sinto minhas bochechas arderem, o que me faz ficar mais constrangida.
— O senhor irá prepará-la. — dissera ele. — Agora vamos, a viagem é longa.
Me viro para Annabelle que ainda estava ao meu lado e lhe dou um abraço apertado.
— Vou sentir saudades. — sussurro.
— Me escreva. — diz ela.
— Você sabe que qualquer coisa minha será rasgada pela madre. — me afasto da Annabelle.
Pego minha mala que estava ao meu lado e começo a caminhar em direção ao padre. O mesmo pega minha mala e caminha comigo. Aceno uma última vez para a Annabelle antes de entrar no carro. Olho uma última vez para a madre Charlotte, minha vontade era lhe dar mandá-la ir para o inferno.
O padre Berrycloth voltou para perto da madre Charlotte, a mesma lhe entregou uma caixa, além de trocarem outras palavras. A madre beija a mão do padre, os observo e quando vejo que o padre Berrycloth está voltando para o carro, volto meu olhar para a frente. Pelo retrovisor o vejo colocar a caixa no porta malas, o mesmo volta para a frente e olha para mim.
— Pronta? — perguntou ele ao adentrar o carro.
Apenas dou de ombros e volto a olhar para a Annabelle. O padre dá a partida no carro e seguimos, continuo olhando para o convento até o perder totalmente de vista. Seguimos em silêncio boa parte da viagem, até chegarmos a um pequeno povoado onde paramos para almoçar.
— A comida está boa? — perguntou ele. Apenas balanço a cabeça em afirmação. — Você não é muito de falar, não é?
— Refeições são coisas sagradas. — digo. Parece que meu comentário agradou bastante.
— Por que madre Charlotte lhe mandou embora? — questionou ele, me encarando com aqueles olhos enormes.
— Por ainda não fazer meus votos. — respondo, bebendo um pouco de suco.
— Impossível! A madre Charlotte não é tão rígida quando se trata de votos…
— Pelo visto o senhor conhece a madre Charlotte muito bem.
— Na verdade não, mas conheço a madre Dorotheia e saiba que se você tiver feito algo… — o mesmo enfia a mão no bolso e tira um envelope. — Essa carta irá dizer.
— A quantos anos o senhor é padre? — pergunto.
— Eu acabei de me ordenar. — responde ele, guardando a carta.
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Perdão, eu pequei.
Короткий рассказ"No sombrio submundo da fé, onde os segredos são guardados nas sombras mais profundas da confissão, um padre atormentado e uma noviça inocente sucumbem ao pecado da carne. Em meio a confissões pecaminosas e desejos ardentes, desafiando os preceitos...