Capítulo 18

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O beijo terminou, e eu mal conseguia respirar. Meus lábios ainda formigavam, carregando o gosto amargo de medo e arrependimento. Meu coração batia tão forte que parecia querer escapar do peito, fugir dessa situação surreal. Padre Henry me olhava intensamente, seu rosto sério e cheio de algo que eu não conseguia decifrar. Ele levantou a mão trêmula e fria até o meu rosto, seus dedos roçando suavemente minha pele. O toque era quase carinhoso, mas senti um calafrio. Seus olhos pareciam sondar os meus, carregados de algo entre arrependimento e desejo — ou talvez fosse culpa. Eu não sabia.

— Olivia... — ele sussurrou, quase implorando.

Ouvir meu nome, sendo pronunciado daquela forma, fez com que um peso se instalasse sobre meus ombros, afundando-me ainda mais na confusão e na culpa. Eu recuei, sentindo a mão dele deslizar da minha face, o toque se desfazendo como névoa. Por um instante, fiquei ali, paralisada, olhando nos olhos dele. O silêncio entre nós era cortante, cheio de todas as palavras que não conseguíamos dizer. Quis falar algo, mas as palavras se enroscaram na minha garganta, presas.

Então, como se algo dentro de mim tivesse se quebrado, eu me virei e corri. Corri pelos corredores do convento, que pareciam infinitos e mais escuros do que nunca. As sombras pareciam estender-se, tentando me agarrar. O som dos meus passos ecoava ao meu redor, e eu corria, sem olhar para trás, sem saber para onde estava indo — só sabia que precisava me afastar. Longe dele. Longe daquele momento que nunca deveria ter acontecido. Eu não conseguia parar de correr. As paredes do convento pareciam se fechar ao meu redor, cada sombra, cada curva, me pressionava para longe do que eu acabara de fazer. Aquela foi a gota d’água. Eu não podia mais fingir que nada estava acontecendo, que meu coração não estava sendo dilacerado entre o dever e o desejo, entre o certo e o errado.

Madre Stefany. Eu precisava falar com ela. Eu precisava contar tudo, precisava que ela me tirasse desse pesadelo antes que fosse tarde demais. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto enquanto eu corria, ofegante, quase tropeçando pelos corredores que de repente pareciam tão estreitos, sufocantes. O quarto da Madre Stefany ficava no final de um longo corredor, e eu senti como se cada passo que eu dava me levasse mais para o fundo de um poço sem saída. Quando finalmente alcancei a porta, meu peito doía, não só pelo esforço da corrida, mas pela angústia que eu sentia. Sem pensar, bati na porta com força, várias vezes, sem conseguir controlar a urgência que tomava conta de mim.

— Madre Stefany! — gritei, a voz entrecortada pelos soluços. — Por favor, abra... preciso falar com a senhora!

Minhas mãos tremiam, e continuei a bater na porta, agora com menos força, mas com o mesmo desespero. As lágrimas embaçavam minha visão, e meu coração parecia prestes a explodir. Eu precisava que ela me ajudasse. Eu precisava que ela me dissesse o que fazer, porque eu já não sabia mais. A porta se abriu lentamente, revelando Madre Stefany com os olhos cansados e preocupados ao me ver naquele estado. Ela me olhou com surpresa e uma preocupação genuína. Eu mal conseguia parar de chorar, e as palavras saíam de forma entrecortada, mas eu sabia que precisava contar a verdade.

— Dove, o que aconteceu? —  ela perguntou, com uma voz suave, mas firme.

Tentei falar, mas tudo o que consegui foi um soluço. Madre Stefany me puxou para dentro do quarto, fechando a porta atrás de mim. Ela colocou suas mãos firmemente em meus ombros, me guiando até uma cadeira. Então, ajoelhou-se ao meu lado, segurando minhas mãos entre as dela, como se quisesse me manter presente naquele momento.

— Respire, filha, respire fundo. Estou aqui. —  ela disse, com os olhos fixos nos meus, tentando me acalmar.

Fiz o que ela pediu, respirando fundo com dificuldade e tentando acalmar meu coração. Após alguns segundos, finalmente consegui falar.

Perdão, eu pequei. Onde histórias criam vida. Descubra agora