Capítulo 7

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A aula acabou e o padre finalmente saiu da sala. Aquela seria minha chance de sair e ir encontrar a Manu, Austin e Jeremy, mas eu não fui. Não sei porque meu corpo travou exatamente onde o padre Berrycloth havia me deixado. Quando a professora seguinte veio, todos os alunos entraram e Manu me perguntou se eu queria voltar para o lado dela, mas eu disse que não. Sabe quando você está em um determinado lugar e tem a sensação de que tem alguém lhe encarando, mesmo que de longe?  Então, aquela era a sensação que eu tinha estando ali, sabia que ele estava me observando. A aula que estava acontecendo era a de Gramatica e tínhamos que fazer duplas e debater sobre algo, obvio que a Manu veio fazer comigo.

— Dove... — sussurrou ela para mim. — aquele padre é algo seu? — balanço a cabeça antes de lhe responder.

— Não. — sussurro de volta. — Ele é apenas um padre que assumiu minhas responsabilidades aqui na parte escolar.

— Nossa... parecia que ele era seu pai. — ela rir.

— O que também seria bastante errado ne!  — também começo a rir. — Um padre sendo pai.

— Pois é. — Manu levanta o braço e chama a professora. — Terminamos.

— Certo. — a professora me olha. — Senhorita Lancaster, eu tenho algumas atividades pra você sobre suas aulas adicionais. — assenti enquanto ela falava. — Você pode falar comigo depois da aula? Quero passar elas pra você, por você não ficar atrasada do resto da classe. Daqui duas semanas, teremos provas de classe pra ver o desempenho da turma.

— E-eu terei que fazer? — questionei. — Cheguei agora.

— Posso falar com a diretora, mas você terá que se preparar caso ela não te libere. — apenas assenti.

— Claro. — a professora sai e eu olho para Manu. — Pode me ajudar?

— Claro, tem algum telefone em que posso falar com você? — ela me olha. — Ah, verdade... ah, posso falar com meus pais, dizer que preciso focar mais um tempo aqui algumas horinhas depois da aula e estudamos na biblioteca.

— Se não for incomodo.

— Não, nenhum. — ela sorrir.

— Muito obrigada! — agradeço a ela.

Mais alguns minutos se passaram e estava na hora do intervalo. Todos saíram para lanchar e eu fiquei na sala, não sabia que precisava trazer o lanche ou algo parecido. Não podia sair pois a sensação de estar sendo observada apenas aumentava e ficava cada vez maior, me levando a me arrepiar algumas vezes. Mas a sensação de estar sendo observada tornou-se um fato quando olhei para a porta e vi o padre olhando lá, parado olhando para mim. Na sala só havia eu e mais um grupinho de alunos ao fundo que conversavam e nem se importaram com a presença do padre.

— O que faz aqui? — perguntei.

— Não sabia se você havia trazido lanche, fui a cozinha do convento e te preparei um lanche. — diz ele se aproximando e sentando ao meu lado.

— Não tinha necessidade. — recuo um pouco na cadeira.

— Dove, não seja dramática. — ele coloca a comida sobre a mesa da minha bancada. — É apenas um lanche.

— O-obrigada! — seus dedos ainda estão sobre a mesa tamborilando ali, levo meus olhos aos seus e ele está sério. — O senhor tem mais alguma coisa pra falar?

Ele se aproximou de mim, naquele momento meu corpo estava rígido, eu parecia uma estátua. Minha respiração desapareceu e meu coração disparou, seus olhos estão fixos em mim e por fim, ele ergueu sua mão direita ao meu rosto, seus dedos tocam minha pele, me arrepio por completa. Sua mão sobe ate meus cabelos, ele puxa uma das mechas.

— Você tem belos cabelos... — e por fim, ele sorrir e se afasta saindo da sala. Finalmente respiro fundo e deixo meu corpo relaxar, mas aquilo não era o suficiente. Meu coração ainda estava rápido, minha respiração ainda estava acelerada. Precisava me acalmar, tirar aquele sentimento de mim, respiro fundo e levo as mãos ate a frente do meu peito e fecho os olhos, inclino minha cabeça para baixo em oração:

Senhor, eu sei que sabes de todas as coisas... que sabes principalmente meus pensamentos e os do Padre Berrycloth... então por favor, os afaste de mim... afaste o Padre Berrycloth de mim, senhor. Eu imploro... — continuei ali com a cabeça baixa, rezando a deus para me livrar daquela tentação.

— Oi... — levanto a cabeça rapidamente e vejo o Austin. Respiro fundo novamente, levo as mãos ate meu rosto, fecho meus olhos e relaxo na cadeira. — Desculpa, eu te atrapalhei? Você estava rezando?

— Não, não... só estava... — olho para a comida a minha frente. — agradecendo.

— Não te vi no intervalo... — ele se aproxima de mim e senta-se na cadeira ao lado. — problemas com a socialização? — sem saber o que falar respiro fundo. — Você não é de Londres, ne?

— Não.

— É, percebi pelo sotaque. — ele se aproxima mais de mim. — É de onde?

— York... mas meu antigo convento era em Bath. — respondi.

— Espera... como de York, você foi parar em Bath? — ele me olhou sorrindo, parecia interessado.

— Minha mãe, depois que se separou do meu pai... ela se mudou para Bath. — digo. — Acho que eu tinha uns cinco, seis anos.

— E seu pai ficou um York? — balancei a cabeça. — E sua mãe? Desculpa fazer tantas perguntas, mas queria saber mais sobre você.

— Pra colocar no jornal? “ Menina novata... saiba tudo sobre ela.” — ele rir do meu comentário e logo baixa a cabeça.  

— A Manu disse que ia te ajudar com alguns estudos... — diz ele, ainda olhando para baixo ate que levantou os olhos e olhou para mim. —  eu apenas pensei se também posso te ajudar. — o olho com um pouco de espanto e isso o faz rir. — Não se preocupa, não estou dando em cima de você. Aquilo que a Manu falou é pra manter as meninas longe de mim, ela acha que eu e a irmã dela vamos voltar.

— Você namorava a Hailee? — ele assentiu.

— Você a conhece?

— Foi ela que me ajudou mais cedo. — respondi. Vejo que ele está prestes a falar mais alguma coisa, mas logo os outros alunos começam a entrar o intervalo havia acabado.  — ele fica de pé e caminha mais um pouco ate mim, se inclinou ao meu lado e aproximou sua cabeça do meu rosto.

— Vejo vocês mais tarde. — diz ele e passa por mim indo para o lugar dele.

Manu fez o mesmo assim como Jeremy que ao passar por mim falou “irmãzinha” e juntou as mãos diante do peito, ri com aquilo já que eu não considerava como ofensa. E assim seguia o dia, a cada professor que adentrava aquela porta, era mais trabalhos, mais atividades. Primeiro dia de aula e já estou completamente perdida, sem contar que ainda tinha o Padre

Perdão, eu pequei. Onde histórias criam vida. Descubra agora