Capítulo 21

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Henry On


Era impossível dormir com aquela visão. Não falo da chuva que caía lá fora, dos trovões que explodiam no chão ou dos raios que iluminavam o quarto de maneira intermitente. A verdadeira tempestade estava dentro de mim, e a causa dela era a cena ao meu lado na cama. Uma bela cena que nenhum pintor seria capaz de reproduzir.

Olivia.

Ela estava adormecida, nua, sua pele pálida reluzindo suavemente à luz dos relâmpagos que se infiltravam pelas cortinas entreabertas. Seus cabelos escuros caíam desordenadamente sobre as costas, contrastando com a palidez de sua pele, como se os fios fossem a moldura de uma obra de arte viva. Sua respiração era calma, lenta, quase imperceptível, e o movimento suave de seu peito subindo e descendo me hipnotizava. Aquela era a única prova que tinha de sua vida ainda pulsando em seu corpo. Eu podia ouvir o silêncio entre cada batida do meu coração, tão alto quanto o som da chuva lá fora. Olivia estava serena, entregue ao sono profundo, e, de alguma forma, sua tranquilidade acalmava cada uma das tempestades dentro de mim. Havia uma quietude sublime em sua presença, uma beleza que transcendia qualquer outra coisa que meus olhos já tivessem visto no mundo.

Meu olhar não conseguia se desviar dela. Cada curva, cada detalhe, a forma como seus lábios estavam entreabertos em um suspiro suave, tudo nela me fazia querer congelar o tempo. Levei minhas mãos, trêmulas de leve excitação, mas com o máximo de cuidado, até sua face, que estava virada delicadamente em minha direção. Ao tocar sua pele macia, senti um arrepio percorrer meu corpo. Deslizei os dedos pelo contorno de seu rosto, sentindo a suavidade de sua pele, como se o mundo lá fora não existisse. Olivia não se moveu, mas um suspiro sutil escapou de seus lábios, me fazendo prender a respiração por um segundo. Ali, naquele momento, ela era meu mundo inteiro. Tudo que eu queria era guardar aquela imagem para sempre, como um segredo entre nós e o universo, longe de qualquer coisa que pudesse perturbar a paz que ela me trazia.

Era como se o peso do céu estivesse sobre meus ombros, como se Deus estivesse observando, começando a me castigar por tudo que fiz até aqui. Mas, principalmente, por tudo que fiz com Olivia esta noite, sobre essa cama, sob seus céus. A batida na porta me arrancou do devaneio – não uma, mas várias batidas irritadas, persistentes e fortes. Pela força, eu já sabia quem era. Sabia também, com quase certeza, o que ele queria àquela hora da noite.

Olhei para o lado, satisfeito ao ver que Olivia parecia ainda mergulhada no sono, indiferente ao som. Sua respiração tranquila era um contraste brutal com o caos dentro de mim. Inspirando fundo, agarrei os lençóis e cobri seu corpo nu, ocultando a visão magnífica que poucos minutos antes me pertencia. Caminhei em direção à porta, os pés descalços tocando o chão de madeira fria, como se o frio tentasse me trazer de volta à razão. Ao abrir a porta, ali estava ele – Chris, o dono das batidas.

— Onde está a Dove? — sua voz cortou o silêncio, direta e cheia de desprezo.

Encostei-me no batente, tentando manter a calma, cruzando os braços num gesto de indiferença fingida. Eu queria poder gritar para todos e principalmente para ele, que Olivia estava ali no quarto, sobre minha cama.  Que ainda sentia o calor dela contra seu corpo, que seu cheiro virou cortisol para o meu cérebro, que ela gemia baixinho enquanto gozava. Que segurei seu corpo com essas mãos, enquanto ele era inundado por prazer. Em vez disso, de dar esses detalhes para ele, apenas disse:

— Quem? — perguntei, com o tom mais inocente que pude produzir.

— Não se faça de idiota — ele deu um passo à frente, sua presença opressiva invadindo meu espaço. Dou um passo a frente, precisa proteger meu tesouro que estava naquele lugar. — Onde está a Dove?

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⏰ Última atualização: Oct 19 ⏰

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