Acordo!
Ouço grunhidos. Olho rapidamente para a cama ao lado e não vejo o padre Berrycloth, com os olhos vasculho o quarto e percebo que a luz do banheiro está acesa. Ouço o grunhido outra vez, estava vindo do banheiro; com toda certeza o padre Berrycloth estava lá dentro. Em um impulso me levanto e vou até a porta.
— Padre? — ouço um terceiro grunhido. — Padre, o senhor está bem?
— Uhrum… — respondeu ele em forma de um gemido.
— Tem certeza? — perguntei novamente. — Quer que eu chame alguém?
— E-eu estou... be-em, Dove. — mais um grunhido. — Pode voltar a dormir.
Me afasto da porta voltando para perto da cama. Encaro a porta, não há mais grunhidos, o padre estava em silêncio. Deito e espero que ele saia do banheiro, mas ele continuou lá. Não havia barulho de chuveiro, torneira, descarga. Só havia silêncio, e aquilo me fez dormir.
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Acordo novamente, mas dessa vez no horário certo — havia um sol no céu em vez da lua —. Assim que acordei não encontro o padre Berrycloth, provavelmente ele havia saído. Então tomei um banho, visto uma saia evasê na cor azul marinho e uma blusa de manga ¾ as que vai até os cotovelos. Enquanto penteava meus cabelos, lembro-me do que o padre Berrycloth havia falado, o que me fez deixá-los solto. Os divido ao meio e os prendo atrás das orelhas.
— Bom-dia, senhorita Lancaster. — dissera o padre Berrycloth adentrando o quarto.
— Bom-dia. — respondo.
O mesmo estava usando suas vezes pretas — calça, camisa manga cumprida enrolada até os cotovelos e sua clérgima — não havia sacolas em suas mãos, provavelmente ele estava no hotel. Lembrei do ocorrido da noite passada, do padre Berrycloth gemendo no banheiro, então resolvo perguntar se ele estava bem.
— E por que eu não estaria? — perguntou ele sorrindo.
— Onde a noite o senhor no banheiro...
— A-ah... aquilo? — o vejo ficar envergonhando, o que o fez passar a mão em seus cabelos perfeitamente alinhados. — Exagerei no vinho ontem. O pecado da luxuria ataca todos.
— Tem certeza? — perguntei novamente.
— Claro. — ele continua sorrindo. — Pegue suas coisas, precisamos ir.
— Claro. — começo a organizar minhas coisas e vejo o padre Berrycloth fazer o mesmo.
Após darmos baixa no hotel, seguimos para uma cafeteria onde vamos tomar café.
— Dois croissant de morango... bolo? — perguntou o padre e eu assenti. — Duas fatias de bolo de limão e dois cafés, por favor. — pediu o padre.
— Eu posso tomar café? Não gosto muito de chá. — digo fazendo o padre me olhar surpreso.
— Dois cafés, por favor. — diz ele sorrindo para a moça.
A mesma assenti e se retira.
— Café?
— Sou poucas inglesas que não gosta de chá. — respondo.
— Então o horário do chá pra você, é apenas um horário normal?
— Sempre foi. — digo, sorrindo.
— Seu sorriso é lindo. — diz o padre me fazendo corar. — Deveria sorrir mais vezes, você é seria demais.
— A madre Charlotte não era muito a favor de sorrisos, risos... alegria. — digo.
— Entendo. — ele me olha. — Mas você não está mais lá... poderá sorris a vontade. É quase que um sacrilégio a proibir de sorrir.
— Aqui está. — dissera a garçonete voltando e me salvando de um belo constrangimento.
— Obrigada. — digo.
— Obrigado. — diz o padre Berrycloth. A garçonete nos serviu e se retirou. — Então a senhorita fara dezessete anos semana que vem?
— Uhrum... — assenti de boca cheia de bolo.
— Que dia?
— Treze. — respondo.
— Entendo o porque ainda não fez seus votos...
— De novo isso?! — digo um pouco irritada.
— Calma. — ele da um riso.
— Eu estou calma. — digo, cruzando os braços. Por um momento esqueci que o homem a minha frente era um sacerdote.
— Eu quis dizer que você ainda não fez seus votos por ser nova demais e não saber se realmente é isso que quer...
— Eu quero! — exclamo.
— A maioria das noviças só fazem seus votos após os vinte. — diz ele.
— Annabelle tem dezessete e fez os votos... — digo.
— Pelo que você me disse sobre a madre Charlotte, eu acho que sua amiga foi forçada a fazer os votos. — em silencio o padre Berrycloth me olha. — E pelo pouco que estou conhecendo você, você odiaria fazer algo forçada.
— Eu quero fazer meus votos, mas é como se o senhor quisesse que eu esperasse.
— Talvez ele tenha outros planos para você. — o padre Berrycloth tomou um pouco de café antes de seguir. — Alguns colegas seminaristas que entraram comigo, não se tornaram padres.
— Por que?
— O senhor tinha outros planos para eles. Quando estamos no seminário, nós podemos sair durante um ano para saber se realmente é isso que queremos.
— E pra onde eles vão?
— A maioria se casa, outros... enfim. — ele sorrir. — Agora coma, precisamos seguir viagem.
— Quantas horas faltam?
— Umas seis horas ainda.
— Tudo isso? — respiro fundo mostrando minha frustração.
— Não se preocupe, pequena... será rápido. — e assim ele finalizou nossa breve conversa.
Assim que terminamos de comer voltamos para a estrada. Paramos novamente horas depois para almoçar, mas desta vez não houve conversa apenas silencio. E aquilo estava me deixando louca, eu queria conversar com o padre, nem que fosse falar sobre o tempo. Mas eu não sabia como iniciar uma conversa, sempre conversei com freiras e na outra metade sozinha. Então fiquei cala com a minha salada, ate que ele falou:
— Dove?
— Sim! — o olhei com urgência.
— Você estuda? — perguntou ele, limpando o canto da boca em seguida.
— Eu estudava... mas ao entrar no convento da madre Charlotte, eu tive que sair. — digo. — Ela disse que todos as irmãs estudavam lá dentro.
— O que a madre Charlotte tinha contra você? — questionou o padre.
— Não sei.
— Vamos resolveu seu problema. — diz o padre Berrycloth. — Você já deve ter uma breve noção para onde vai ficar.
— A irmã Maria Bernadette me disse por alto. — digo, tentando não deixar o assunto morrer, continuo: — É uma escola, mas também um convento.
— Exatamente. — diz ele. — Além de ser o padre, serei professor de história.
— Um padre? Professor de história? — sorrio.
— Ignoro a parte da evolução. — o padre Berrycloth sorrir e aquilo me causa um arrepio.
— O senhor não pode simplesmente ignorar uma parte da história. — rebato revirando os olhos.
— Você revirou os olhos? — perguntou ele com a voz grave, ele havia ficado sério. — Nunca mais revire seus olhos para mim.
— Desculpa. — digo, baixando a cabeça.
Aquilo foi desrespeitoso? Deus perdoe-me se desrespeitei o padre Berrycloth. Tento erguer minha cabeça para olha-lo, mas a vergonha pelo que eu havia feito não me permitia. Assim que terminamos de comer voltamos para a estrada. E mais uma vez o padre Berrycloth estava em silencio. Eu permanecia com a minha cabeça baixa ou então olhava para a estrada a minha frente ou ao meu lado.
Encosto a cabeça no vidro do carro e acabo adormecendo. Quando abro meus olhos, vejo a mão do padre Berrycloth próximo ao meu rosto. Me afasto rapidamente, sua mão recua de perto de mim.
— Já ia te acordar. — diz ele sorrindo. — Chegamos.
Olho para a frente e vejo que estamos atravessando a Tower Bridge e embaixo da ponte o rio Tâmisa. Volto a olhar para o padre Berrycloth e ele estava sorrindo e percebo o quão lindo era seu sorriso. Enquanto eu olhava para as ruas, carros e prédios, o padre Berrycloth seguia para o nosso destino.
— Já esteve em Londres antes? — perguntou o padre Berrycloth olhando para a frente.
— Nunca. — digo maravilhada com a cidade.
— Então agradeça a madre Charlotte por este presente. — diz ele rindo.
— Talvez eu mande uma carta. — rebato o fazendo gargalhar.
Seguimos por mais alguns quilômetros até chegar no que parecia ser o convento. Seus protões eram de ferro, era possível ver o grande pátio. Os corredores ao ar livre, alunos andando de um lado a outro. Eles usavam uniformes. As garotas usam saias a altura dos joelhos na cor azul escuro, assim como o blazer e a gravata. Já a blusa de dentro era de abotoar na cor branca. Mesmas cores valiam para os homens, alguns estavam de calça e outros de bermuda na altura dos joelhos. Vejo também as irmãs que trajavam vermelho, eu jurava que vermelho era apenas na semana santa. Vi também algumas noviças andando entre os alunos e algumas conversavam com eles.
— Aqui parece ser legal. — digo, ao descer do carro.
— Antes de ingressar no semanário, eu estudava aqui. — dissera ele.
— Então o senhor esta em casa. — digo.
— Dove, não precisa me chamar de senhor... porque o único senhor estanho céu. — o mesmo esticou sua mão tocando meu rosto de maneira suave. — Agora vamos.
Adentramos o convento e começamos a andar entre os alunos. O padre Berrycloth não precisou de ninguém para guia-lo ate a secretaria, afinal, ele conhecia aquele lugar como a palma de sua mão. Enquanto andávamos entre os alunos, eu não conseguia parar de imaginar se eu fosse estuda ali, eu teria que usar aquelas roupas? Aquela saia?
— Aqui. — disse, dissera o padre me puxando pelo braço.
Paramos em frente a uma porta, ele bateu e esperamos. Logo a porta é aberta e me deparo com uma freira. A mesma era branca como a neve, seus olhos verdes como rubis, a pequena mecha que estava para fora de seu habito mostrava seus cabelos loiros.
— Boa-tarde! — dissera a mesma sorridente.
— Boa-tarde. — dissera o padre na mesma entonação que a freira. — Eu estou procurando a madre superiora Dorothea.
A freira lança seu olhar sobre mim e logo em seguida volta seu olhar para o padre.
— Eu sou a nova madre dessa instituição. — anuncia ela. — Madre Stefany Manch.
— E onde está a madre Dorothea? — perguntou o padre e pude ver sua voz falhar.
— Entrem. — pediu a mulher e nos adentramos o escritório dela. O padre Berrycloth ficou de pé e eu me sentei em uma das cadeiras a frente da mesa. — Sinto informar que a madre Dorothea foi afastada de seu cargo. — respondeu a mulher. —Talvez ela seja excomungada.
— O que? O que aconteceu?! — o padre Berrycloth estava ficando cada vez mais alterado.
A mulher olhou para mim, a mesma respirou fundo.
— Podemos conversar a sós? — perguntou a mulher.
— Você se importa? — padre Berrycloth olhou para mim.
Nada repondo, apenas fico de pé e caminho ate a porta. Já do lado de fora, me sento nas cadeiras enquanto eles conversavam. Fico sentada por alguns instantes, até que meus olhos vão para algumas molduras na parede. Fico de pé e começo a caminhar em direção as molduras, lá haviam fotos de freias, coroinhas, turmas de alunos, padres e uma freira com um padre: Madre Dorothea e padre Morales. A Madre Dorothea era linda e jovem na época da foto, seus poucos fios visíveis indicava seus cabelos castanhos escuros, seus olhos azuis e um belo sorriso. O padre Morales também mostrava sua juventude, deveria ter no máximo quarenta anos.
— Oi! — olho para o lado e vejo uma garota de pé ao meu lado. A mesma também era uma noviça, percebi por suas vestimentas.
— Oi! — respondo.
— Esta perdida? — perguntou a garota.
— Não. — respondo. — Estou a madre Stefany e o padre Berrycloth.
— Ah, então o novo padre chegou. — diz a garota sorridente.
A mesma era ruiva. Seus cabelos na altura dos ombros, suas sardinhas fofas até e seus olhos verdes lhe fazia uma bela garota. Mas certamente ela não ligava para aquilo, ela podia ser facilmente uma modelo — por ser alta e magra —, mas ela estava ali, entregando sua vida ao senhor.
— Vocês estavam a espera do padre Berrycloth a muito tempo? — questionei.
— Nas ultimas semanas ouvi muto sobre esse padre. — respondeu ela. — Alias, eu sou Mary Castillo e você?
— Dove Lancaster. — respondo.
— É um prazer. — diz a mesma. — Será que eles vão demorar? Preciso falar com a Madre Stefany.
Antes que eu pudesse responder a pergunta da garota, a porta se abre e o padre Berrycloth é o primeiro a sair, sua cara não estava nada boa. O mesmo estava vermelho, estava com raiva.
— Madre... — a mais velha olhou para a garota e sorrindo disse:
— Mary, por favor... avise que o podre Berrycloth já chegou. — a garota olha para o padre e sorrir.
— Sua benção, padre. — diz a mesma.
O padre a olhou de cima e com um gesto rápido diz:
— Que deus te abençoe. — logo o mesmo volta seu olhar para mim. — Tudo bem? — assenti.
Percebo que Mary ainda olhava para o padre, foi ai que a madre a mandou ir outra vez. A mesma parte deixando apenas nos três ali. A madre virou-se para mim, me olhou de cima a baixo. A mesma sorriu e falou logo em seguida ainda sorrindo.
— E quem é está pequena?
— Dove Lancaster. — respondeu o padre. — A madre Charlotte a encaminhou para cá.
— E vocês vieram sozinhos? — questionou a madre. Rapidamente olho para o padre e em seguida para ela novamente.
— Sim. — respondeu o padre. — Algum problema?
— Nenhum. — dissera ela nós olhando, principalmente para mim. — Vocês devem estão cansados.
— Paramos em um hotel no caminho. — respondi.
A mesma me olha com os olhos arregalados, não entendi tamanho espanto. Mas logo a suavidade atingi seus olhos e ela sorrir.
— Hum... Entendo. — diz ela.
— Teria como matricula-la também? — questionou o padre entregando a carta da Madre Charlotte para a Madre Stefany.
— Quem ficara responsável por ela? — o padre olhou para a mulher. — Enquanto ela ficar aqui, nós somos responsáveis por ela em questão ao religioso... mas na questão da educação...
— Eu! — dissera o padre. — Eu ficarei responsável pela Dove.
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Perdão, eu pequei.
Short Story"No sombrio submundo da fé, onde os segredos são guardados nas sombras mais profundas da confissão, um padre atormentado e uma noviça inocente sucumbem ao pecado da carne. Em meio a confissões pecaminosas e desejos ardentes, desafiando os preceitos...