Prólogo

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Não revisado

Havia um buraco no meu peito e eu nem sabia ao certo como ele tinha começado, não até sentir como se um pedaço do meu ser fosse acabar brutalmente voando para fora, exatamente como aconteceria com o corpo de uma pessoa dentro de um avião, que em pleno ar, tivesse um pedaço de sua casca arrancada.

As imagens continuavam a surgir na minha mente, a desgraça que havia sido meu dia e para completar, à noite, quando tudo o que eu acreditava ter, foi tirado de mim.

Na real eu nunca tive nada do que achei que tivesse, eu só me iludi, e naquele momento eu percebi isso. Percebi que o mundo não girava como eu imaginei, foi como se dar conta de que na verdade, não é o sol que gira em torno da terra, mas a terra que gira em torno do sol.

Eu mergulhei naquela imagem de novo, ouvindo o som da voz deles, sentindo as mesmas dores mil vezes multiplicadas.

– Você vai mesmo correr e contar para o seu papaizinho? – ela sorriu com escárnio, debochando da minha dor, da minha raiva gritando. Eu só queria enchê-la de porrada antes que mais uma merda saísse da sua boca. – Ele não vai acreditar em você ... – ela deu uma gargalhada. – Você é só uma garota viciada que faria qualquer coisa para se vingar de alguém que ... não te deu a grana que você precisa – ela enfatizou na última parte, se sentindo poderosa, mesmo sem nenhuma roupa cobrindo seu corpo, além de um fino lençol rídiculo

– Jenny! – murmurou David, aparecendo atrás dela, terminando de abotoar a camisa. – Já chega – ele a segurou pelo antebraço, fazendo seu corpo girar na direção dele. Eu repentinamente me senti enojada, quase sentindo o meu lanche querer voltar.

– Já chegar? – ela me olhou novamente. – Essa piralha acha que o mundo gira em torno dela, mas acontece que não é assim – não, não era, se girasse meu pai jamais teria se casado com ela, e eu jamais chegaria na casa do meu namorado, e me depararia com aquela baixaria, eu jamais conseguiria esquecer o que havia visto ali.

– Você é uma vagabunda – ela se livrou do aperto da mão de David e avançou contra mim.

– E você é uma vadiazinha viciada, acho que eu não sei que você dormiu com Marcos – o que? Eu ... eu jamais ... encarei seu rosto cheio de sardas, um dia eu havia me dado bem – ou pelo menos havia tentado e feito um grande esforço para me dar bem com – ela, tudo pelo meu pai, eu estava começando a me arrepender por ter sido simpática com ela, Jenny não merecia.

– Eu nunca dormi com o Marcos – neguei, balançando a cabeça com força. Por que eu estava me justificando para aquela cretina? Eu não precisava disso. – Mas já que você tocou no assunto, aposto que você deve ter feito isso – gritei ainda mais irritada. – Que tamanho tem o chifre do meu pai, hein? – ela só deu de ombros, como se não se importasse, e eu estava apostando que não se importava.

– Mas eu não acho que seu pai iria acreditar em você de qualquer jeito – ela deu de ombros. Eu vi Jenny soltar as bordas do lençol que cobria seu corpo, me deixando ver seu corpo nu, ela era incrivelmente nojenta.

Encarei o teto.

– É por isso que eu sou a melhor, você aí segurando sua virgindade e eu aqui, sempre conseguindo o que quero, desde prazer absoluto – havia sido exatamente assim que ela tinha pegado meu pai, e depois meu namorado, eu não duvidava que também tivesse dormido com os amigos do meu pai.

Isso era uma merda.

Eu queria gritar, mas aquilo tinha que acabar.

– Você acha que só porque você disse, eu vou acreditar que meu pai não vai me ouvir? – eu ainda tinha esperança vibrando em mim.

Mas quando fechei a porta do carro na garagem do prédio e disquei o número do meu pai, eu tive que segurar o choro de raiva e frustração assim que foi direto para a caixa postal.

Virei o carro na direção da ponte. Eu tinha aquilo dentro de mim vivo, os momentos anteriores mais assustadores e frustrantes, eu os tinha dentro de mim, revivendo cada um deles.

Na terceira vez que liguei, meu pai atendeu, mas sua voz não parecia exatamente amigável.

– Pai – eu engoli com dificuldades. – A Jenny está traindo você, eu acabei de pegá-la com o David ... – ele me cortou.

– Louise, minha filha – sua voz parecia cansada. – Eu sei que você não gosta da Jenny, mas inv ... – a raiva cresceu dentro de mim.

– Isso não é invenção PAI – gritei, bati com a mão no volante do carro com força.

Aquela vadia já havia ligado para o meu pai, como ela o tinha tanto assim em suas mãos?

– Louise, minha filha, você precisa se internar, voltar para a clínica de ... – quando eu havia deixado de ser sua filha para me tornar uma criminosa? Quando Jenny havia acabado com a minha identidade? Me transformando em nada.

Eu queria poder mudar tudo, fazer minha mãe voltar a vida, fazer meu pai voltar a ser sensato. A morte da minha mãe havia me desestabilizado, me colocado em um lugar que eu jamais achei que fosse me encontrar.

Arg!

Bati com força no volante, gritando, descontando todas as minhas frustrações naquele ato de desespero, sentindo cada parte do meu corpo gritar de ódio por aquela mulher. Eu poderia facilmente matá-la, mas o que isso me tornaria?

Uma assassina.

– Louise! – meu pai gritou do outro lado da linha. – Filha, onde você está? – encarei a tela do celular, o nome um pouco abaixo da foto. Infelizmente eu estava na terra, passando por aquela merda, e eu queria mudar de vida, transformar minhas dores em qualquer coisa.

– Que saber pai, um dia você vai perceber que eu estou dizendo a verdade, mas quando esse momento chegar ... será muito tarde.

– Louise ... – desliguei.

Toda aquela merda havia acontecido a menos de meia hora, mas estava tão vívido em mim. Eu não via mais nada à minha frente, só haviam borrões, não havia mais pista, ou carro. Parei o carro bruscamente, prestes a atingir a traseira do carro da frente.

Limpei os olhos e percebi que o sinal estava vermelho.

– Eu faria qualquer coisa para desaparecer, como eu odeio aquela vadia ... odeio ser filha dele ... – funguei. – Eu queria ter uma família com quem pudesse contar. – bati no volante com a palma na minha mão. – MALDIÇÃO!

Eu tive que acelerar quando os carros atrás de mim começaram a buzinar. Pisei no acelerador, não que estivesse pensando direito, foi quando tudo aconteceu.

Eu não vi ou senti mais do que a perda do chão, e o baque forte para frente.

Eu caí na água e afundei com o carro.

Sacerdotes da Vida (1) - Em Uma Jornada pelas EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora