Sacerdotes da Vida (1) - Em Uma Jornada pelas Estrelas

Capítulo 1

Não revisado

"A adaptação de algumas almas a outras realidades é rápida e sem preocupações. Enquanto alguns sofrem, outros desfrutam."

Arquivos dos sacerdotes da Vida

Nove anos depois.

– Chamada perdida do Honório – disse Nyota assim que me viu depois de sair do banheiro. Ela estava terminando de calçar suas botas. – Modelito incrível a propósito – murmurou com um sorriso divertido. Eu estava me preparando para a primeira aula da manhã em uma turma que só tinha homens, e eu me sentia muito bem preparada.

Alisei minha blusa enquanto lhe olhava.

– Essa aparência deixa o prof muito mais confortável – pisquei para ela. Para alguém como eu, uma acadêmica que havia se tornado uma especialista em linguística, história das civilizações e ainda mais, especialista na raça klingon – parecia impossível dizer que tudo havia acontecido em só nove anos, na verdade quase cinco – era muito mais fácil usar calças e mangas cumpridas ao invés de vestido.

E eu não depilava minhas pernas há algumas semanas.

Nyota sempre tirava uma com a minha cara por causa da minha escolha de vida e guarda-roupa.

– Você gosta mesmo dessa aula né? – ela ficou de pé, em cima dos saltos da bota ela parecia bem mais alta. Eu só acenei com a cabeça, me virando para caçar minhas coisas. Mas o motivo que me levava até aquela sala era outro, como uma pesquisadora, eu estava observando os espécimes masculinos das várias espécies diferentes que estavam juntos naquele cubículo, e claro, a aula também tinha sua importância. – Honório te ligando – ela disse um pouco depois que meu celular começou a tocar em cima da cama.

Suspirei.

Ele que lute.

Apanhei minha mochila em cima da cama.

– Claramente ele tem muito tempo ocioso – Nyota soltou uma gargalhada divertida. – E se eu ficar aqui, vou me atrasar ainda mais – fechei o relógio ao redor do meu pulso, e antes de dar qualquer passo para fora do quarto, parei de frente para o espelho tentando alinhar – sem êxito – um fio do meu cabelo que estava fora do lugar.

Bufei antes de soltar um longo suspiro de derrota diante da realidade do meu cabelo. Ele tinha vida própria.

– Até mais tarde. – Nyota murmurou um "até" que ficou abafado pela porta do quarto.

Quando abri a porta da sala de aula em um dos corredores, vinte minutos depois, não havia muitas pessoas ali. Eu me acomodei no fundo da sala e tirei meus cadernos de anotações, junto com meu celular, que coloquei no canto da mesa.

A aula começou alguns minutos mais tarde, e sua duração, como sempre, quase três horas.

Eu estava quebrada, mentalmente falando. E apesar de quase sempre ter aulas com tanto tempo seguido, eu sempre dizia a mim mesma que nunca conseguiria me acostumar com isso.

Meu telefone acendeu de novo, pela décima quinta vez só nos últimos quinze minutos. Na tela, o nome do meu ordinário ex-namorado – não que ele tivesse aceitado isso numa boa –, que eu havia deixado por conta dos estudos, piscava loucamente.

Revirei os olhos com força.

Nem no início da semana a pessoa consegue ter paz.

– Kirk! – levantei a cabeça. Meu irmão mais velho, Jim Kirk, havia entrado na sala.