O4. O austero Imperador

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Três capítulos como desculpas pela demora, agora vou tentar não atrasar...

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Agora completavam dois meses que estava dentro dos limites do palácio, igualmente estressado e puto como no mês anterior. Talvez mais elevado, obviamente.

Com a evidente falta de vontade do Imperador de vir vê-los como um anfitrião minimamente decente, Chyou finalmente deixou de lado a vontade quase ensurdecedora de ter um vislumbre da face do homem. Qual a razão da tamanha ansiedade anterior? Vejamos, o soberano foi a pessoa por quem seu irmão mais novo se apaixonou em outra vida, tal qual, indiretamente ou não, o motivo dele ter o pescoço cortado. Era justo que quisesse conhecê-lo para além de um vislumbre pré-morte, certo? Certo.

Mas o Imperador Hui não queria, então não podia fazer nada a respeito. Não sabia se era apenas impressão, mas o Filho dos Céus parecia querer mostrar para as concubinas qual era o lugar delas; a espera do seu senhor, sem nunca contestá-lo ou ao menos ter chance para isso. Que superioridade nata, deveria parabenizá-lo pela estratégia em alguma ocasião.

Bom, de qualquer modo, Chyou teve de se virar para conseguir mais informações naquele espaço de semanas. Subornou alguns criados, intimidou alguns outros e se tornou mais atento às conversas mantidas nos jantares semanais, cujos diálogos que se destacavam eram, em partes, os das concubinas que estavam ali há mais tempo. Especialmente cinco delas, cujo o núcleo era o rapaz ao lado do monarca na sua decapitação na última vida.

Yu Jie. Belo, carismático, de sorrisos fáceis, elegante e aparentemente inofensivo. Mas de algum modo... isso causava muita desconfiança no Chyou, que vez ou outra se pegava encarando demais o garoto, que ao perceber o lançava mais um sorriso brilhante, sendo prontamente ignorado pelo Bo.

Fora esse mínimo incômodo inexplicável que alimentava contra o outro, nada mais de útil tinha aparecido. E Chyou começava a ficar impaciente.

...

Na primeira semana do terceiro mês, suas únicas duas criadas pessoais entraram às pressas em sua sala particular num final de tarde, o que o deixou um pouco curioso e espantado. Elas nunca eram afobadas assim, costumavam ser muito contidas e taciturnas, bastante parecidas consigo.

"Mestre, o Imperador solicitou uma refeição noturna com suas concubinas." Após uma reverência perfeita, foi isso que uma delas, Jian, proferiu, e Chyou ergueu-se um pouco atrapalhado da cama, deixando até mesmo cair no chão o livro que lia desde cedo.

"Vamos." Ditou somente, indicando que deveria começar os preparativos de arrumação para o tal encontro.

As garotas ajudaram-no a se despir, pois antecipadamente já haviam-lhe preparado a banheira para o banho. Sobre a água pétalas de rosas vermelhas foram espalhadas, e ele sabia que sua pele teria o cheiro floral quando saísse da tina. Jian e Jiao estavam empenhadas em fazê-lo parecer irresistível diante do soberano, afinal, era aquilo que todas as concubinas queriam. Um favor não era algo a desperdiçar, mas ele teria que decepcioná-las.

"Mestre, deveríamos colocar vestes mais chamativas em sua pessoa hoje, não? Vermelho seria bom." Jiao propôs, pois Chyou havia praticamente as obrigado a serem menos formais consigo. Passavam muito tempo juntos, no fim. E essas duas também foram servas do irmão na vida passada, morreram afirmando a inocência daquele a quem serviam. Eram leais, confiáveis por consequência.

"Creio que não, criança." Pela primeira vez não estava errado em chamar uma pessoa assim, pois as duas servas irmãs tinham respectivamente, ambas, quinze e dezesseis anos. "Usaremos o verde e branco de sempre." Respondeu-a calmamente.

"Mas mestre..." Desta vez Jian tomou a palavra, o olhando com os orbes um pouco temerosos. "Assim tu vais passar despercebido entre o mar de cores das outras quarenta e nove concubinas."

"Precisamos analisar o terreno e então preparar o plano de ataque, minhas queridas. Não vamos ser precipitados. Esse momento demorou a chegar." Argumentou, com sua calma e indiferença habitual e, compreendendo parcialmente seus motivos, mesmo que hesitantes as criadas fizeram como ele indicou. No fim, até seu enfeite de cabelo era um modelado em prata comum, mas ainda assim bem lustrada. Buscou um de seus leques, este decorado com a pintura delicada de ramos de uma árvore de cerejeira, enfim acompanhando o eunuco que veio especialmente para guiá-lo.

"Boa noite." Saudou educado a dama que sentava logo ao lado, agradecendo por sentar no último assento da fileira e só ter de mostrar educação com um único ser. Ela respondeu em um sussurro, então ele não forçou uma conversa. Coisa que não faria nem se quisesse.

O salão em que estavam não era o das últimas vezes, este era maior e mais magnificente. Haviam quatro fileiras de assentos no chão – o tradicional –, duas na direita e duas na esquerda, com um espaço considerável entre as extremidades que dava para alguém passar. Esse caminho levava até um assento de mesa um pouco maior, com uma outra menor logo ao lado. Eram os assentos do soberano e sua preferida, Chyou supôs.

Após não mais que dez minutos de espera, a chegada do Imperador Hui finalmente aconteceu. O âmbito com quase cinquenta pessoas ficou mortalmente silencioso, dedicando toda a atenção para o homem postura ereta, do tamanho de um armário, expressão despótica e todo envolvido em vestes negras. Diferente das demais concubinas, Yu Jie acompanhava intimamente o monarca, cheio de sorrisos doces para o homem aparentemente assustador.

E muito quente, Chyou foi obrigado a adicionar. Que aura, que presença e quanta... argh. Era melhor nem continuar.

Moveu suavemente o leque, querendo fazer um pouco de seu fogo diminuir. Que bom gosto seu caçula tinha, muito bom gosto.

Mas então Chyou lembrou-se de algo, e com isso não pôde conter o sorriso que se formou em seus lábios e foi coberto pelo leque aberto.

"Então fomos devidamente adestrados." Sussurrou, os orbes seguindo o caminho que os dois alvos de atenção de todos se encaminhavam para seus lugares.

Contrário ao que era esperado, Imperador Hui não falou nada, nem deu permissão para ninguém falar. Sentou-se, ficou imóvel por alguns segundos enquanto a comida era servida e, por conseguinte, acenou com a mão para indicar que todos poderiam começar a comer.

Foi assim que aconteceu, silencioso, desconfortável e de ar pesado.

E seguiu-se assim por mais dois meses, com refeições duas vezes na semana nesse clima de velório opressor.

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Até a próxima!

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