XXVI

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S/N pov.

Ansiedade é foda. Todos nós a temos, está colada a nós, todos os dias, a qualquer momento. O ponto é que existem pessoas em que o nível de ansia que têm dentro de si é bem maior que o normal. Neste momento, tenho as mãos suadas e brinco com os meus próprios dedos, uma de minhas pernas treme e sinto um nó gigante em minha garganta, mesmo que sabendo que tenho razão. O ónibus se move lentamente, mas lá dentro, o tempo parecia voar. Estava indo para casa, como fazia todos os dias quando andava no colegial. Saí de casa, ou melhor, daquele apartamento enorme que agora chamo de casa, e o meu destino é a moradia que durante todos esses anos, chamei de casa. Estava procurando minha mãe. Queria confrontar ela pelo que fez, pelo que disse e porque o fez. Queria olhar na cara dela enquanto jogo toda a verdade na cara dela. Mas parte de mim tem medo.

Vim sozinha. Acordei faz tempo, sozinha naquela cama grande o suficiente para três pessoas, ainda sentindo o cheiro dele, misturado com a transpiração e sexo. Ele despareceu, sem falar nada, mas não esperei que o fizesse. Afinal, ele agora estava trabalhando ou estagiando com os pais na empresa. Mesmo que tivesse acordado sozinha, ainda sonhando com ele e com uma baita dor de cabeça, sorri ao lembrar do que aconteceu. Convidei Kirishima para almoçar miojo comigo. Acabamos conversando durante algum tempo, mas não falei nada sobre minha mãe. Se o tivesse feito, ele teria insistido tanto, que eu não conseguiria ter vindo sozinha. E nesse momento, sinto que preciso de fazer isso sozinha. 

A tarde já ia em seu meio, com os tons de azul espalhados pelo céu. Via ruas e casas familiares, por onde passei várias e várias vezes durante minha vida, sempre em contextos diferentes. Á medida que me aproximava, sentia aquele nó ficando cada vez maior. Sentia que minha voz podia falhar a qualquer momento e sem aviso. Mas me concentrei na raiva que tinha pelo que aconteceu. Ela não tinha o direito de fazer o que fez, de jogar assim. Não tinha essa vinda planejada, não acordei pensando nisso. Decidi isso de um momento para o outro, porque mesmo depois de tudo o que aconteceu desde aquela ligação, não consegui esquecer o que senti naquele momento. Aquele vazio, como se tivesse sido apunhalada pelas costas por alguém que mesmo que soubesse que o pudesse fazer, sempre senti que nunca o faria. Mas, aparentemente, estava errada. Dramático? Talvez um pouco. Alguém que nunca sentiu ou experienciou isso diria que estou exagerando. Eu própria o faria. Minha mente se concentra apenas no que é importante agora: confortar ela.

Desci do ónibus, sem olhar para trás. Sabia que se o fizesse, talvez quisesse voltar a entrar. A musica gritava em meus ouvidos, me relaxando. A musica não era nada relaxante, na verdade, é uma das músicas que me faz sentir fodona. E nesse momento, isso é necessário. Não estou longe, então inicio minha caminhada, escutando minha música, tentando controlar e ignorar o nó na garganta e o suor de minhas mãos. Enquanto caminhava, cada passo parecia estar mais firme, como se a segurança e a coragem perdidas estivessem finalmente chegando. 

Me deparei de frente para a porta mais cedo do que esperava. Uau. Eu estou mesmo fazendo isso. Fiquei ali, parada, encarando a porta, sabendo que podia estar tomando a melhor ou a pior decisão de minha vida. Respirei bem fundo e me foquei no que realmente sentia, antes de colocar a chave na entrada. Rodei a chave, duas vezes, evitando por breves segundos empurrar a porta. Entrei. Puta que pariu.

O mesmo cheiro de sempre. O mesmo ambiente e atmosfera. Se não estivesse puta da vida, estaria sorrindo nesse momento. A procurei com o olhar, ignorando decorações, fotos ou qualquer outra coisa que me fizesse recordar algo bom. Meus olhos exploraram o local, mas não encontraram ninguém. Fechei a porta por trás de mim, com cuidado. 

"S/N?" Ouvi uma voz atrás de mim, que me fez me fez levantar o olhar. Ela estava ali, encarando minhas costas, mostrando pena e curiosidade no seu tom de voz. Me virei, lentamente, e encontrei a mulher que me criou. Me criou á base de medo e ameaças, espectativas e exaustão. E foram precisos dois idiotas para eu conseguir perceber que isso tava errado. "Que bom que você voltou" Falou, antes de se aproximar, pronta para me abraçar. Me desviei e mantive minha postura, com o rosto relaxado, ainda que meu olhar pudesse mostrar o quão irritada estava. A encarei, sem falar uma palavra, observando a mudança de expressão dela. Tudo é falso. Tudo é falso nessa merda.  "O que você tem filha?"

Lost in the Summer (Bakugo x reader) [REESCREVENDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora