4. Vai ficar tudo bem?

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magnus

Ele não saberia dizer há quanto tempo estava parado ali, no estacionamento. O carro estava desligado, e as luzes do ambiente, ativadas por sensores de movimento, também já tinham se apagado. Ele conseguia ver apenas a forma dos outros carros ao redor. Em algum canto de sua mente, um pensamento muito vago surgiu: talvez ele devesse olhar que horas eram.

Talvez ele devesse.

Talvez devesse sair do carro, subir para o apartamento, comer alguma coisa e dormir.

Mas embora o dever lhe lembrasse de precisar fazer todas essas coisas, ainda assim, ele não queria fazer nada disso.

Ele só queria ficar ali.

 Sim.

 Naquele exato lugar.

Um mês e dois dias atrás ele simplesmente caminharia apressado para o elevador para chegar o mais rápido possível em casa. Mas, aquela não parecia mais a sua casa. Todas as coisas estavam lá. Todos os móveis estavam lá, os quadros que ele pintara estavam nas paredes, e até um brinquedo esquecido de Rafe estava ainda jogado debaixo da estante da sala. 

Ainda assim, ele não estava lá. Nem as crianças.

E isso fazia parecer que aquela não era sua casa e que ele não conhecia nada ali.

Magnus não se sentia confortável, e essa era uma constatação que tinha vindo com o tempo. Claro que foi um inferno quando Alexander decidiu ir embora. Doeu vê-lo indo com as crianças, e aquela noite foi particularmente difícil. Mas Magnus realmente pensou que conseguiria superar. Afinal, ele e Alec estavam cada vez mais distantes mesmo… Não é como se eles ainda estivessem interagindo como um casal… Cedo ou tarde isso aconteceria, não é mesmo?

Foi o que ele pensou nos dois primeiros dias.

No terceiro dia ele acordou ouvindo o barulho do chuveiro e antes mesmo que pudesse abrir os olhos, sua mente ronronou com o pensamento de que Alec estava tomando banho. Levou três segundos inteiros para que a realidade se impusesse. Magnus sentou-se na cama, o coração batendo dolorosamente no peito, enquanto sua mente lhe dava o lembrete de que Alec não estava mais ali.

Do quarto dia em diante, as coisas pioraram absurdamente. Ele chegava em casa com uma esperança irreal e ilusória de que quando abrisse a porta, Rafe viria correndo e Alec gritaria “Filho, cuidado” antes do corpinho pequeno se chocar contra o dele na alegria infantil de rever o pai.

Mas as luzes sempre estavam apagadas e não havia cheiro de comida caseira, não havia um bebê cheiroso esperando para ser beijado e apertado, não havia a criança que o idolatrava pulando ao redor dele como um pequeno mascote. E o mais massacrante: não havia a presença reconfortante do homem alto, bonito e dedicado, que parecia dar vida àquelas paredes frias e impessoais.

Ainda assim estava com o orgulho ferido por ter sido abandonado tão repentinamente, e se esforçava muito para demonstrar que estava bem. Ligava para os filhos todos os dias, e Alexander, como o pai incrível que era, deixava que as conversas se estendessem por horas e horas. Rafe sempre tinha alguma coisa nova a dizer e a mostrar, e Magnus fingia que o coração não estava se quebrando a cada vez que o menino andava pela casa e a câmera ocasionalmente mostrava o marido.

Ex.

Ex-marido.

Ele precisava sempre se lembrar disso.

Magnus não saberia dizer por quantos dias ele tinha alimentado a ilusão de que veria Alec ao chegar em casa. Mas ela se desvaneceu após a primeira vez que ficou com as crianças. Quando ele foi buscar os meninos, eles estavam com a avó, que o recebeu muito cordial, mas friamente. Alec estava na corrida matinal, ela avisou, e tinha deixado tudo pronto para as crianças irem com ele.

I will survive || MalecOnde histórias criam vida. Descubra agora