baby

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Sinto uma claridade incomodando meu rosto, ela mal me permite abrir os olhos.

Depois de piscar várias vezes, percebo que é apenas a luz do sol atravessando a janela do quarto.

Tento me espreguiçar, mas estou sendo abraçada, o que torna esse feito quase impossível. Sadie solta um grunhido e abre seus olhos tão lentamente quanto eu.

- Inferno de dia. - Murmurou.

- Que voz gostosa. - Me referi a sua voz rouca.

Ela soltou uma risada nasal e me puxou mais para perto. Sinto um frio na barriga quando isso acontece, já que nossos rostos ficam mais juntos.

Encaro seus olhos fechados antes de lhe dar um beijo.

- São cinco da manhã - Sussuro. - Preciso ir embora. - Estou claramente lutando com a minha vontade de, na verdade, ficar aqui com ela por mais tempo.

- Está bem. - Sadie me deu um selinho antes de se desvencilhar do abraço.

Respiro fundo antes de me sentar na cama, para passar a próxima meia hora deixando meu corpo acordar enquanto encaro o teto branco.

- Não é incrível como o sol nasce e se põe todos os dias? - Olho para ela, que estava se levantando devagar. - Aí vivenciamos mais um dia e depois ele acaba. Ficamos assim por anos e anos da nossa vida. É um ciclo.

- Costuma ficar tão filosófica pela manhã?

- Você acordou xingando o sol.

- Eu deveria parar de fazer isso - Ela engatinhou até se sentar no meu colo, onde segurou minha mãos. - Ele faz você ficar ainda mais bonita.

- Por que o elogio? Não é possível que já tenha se acordado desse jeito.

- Tem razão. - Sadie se levantou em um pulo, se desequilibrando um pouco por causa da sua perna, mas não demorou para chegar até a garrafa de água.

- Tenho razão? - Me aproximo dela por trás, segurando sua cintura. - Sobre o que?

- Sobre o ciclo da vida - Disse. - É infinito.

- Eu sempre tenho. - Falei convencida.

Quando sai do quarto, percebi que aquela mesma porta do corredor estava entreaberta.

Olhei para os lados, verificando se Sadie estava vindo, mas o caminho parecia livre.

Me aproximou devagar para não fazer barulho e logo de cara vejo uma pequena placa na fechadura, contendo desenhos de bebês anjos, mamadeiras e chocalhos.

Empurro a porta de vez e dou de cara com um quarto com papel de parede estrelado, uma cômoda branca com um abajur pequeno, cadeira de balanço marrom e um móbile colorido em cima de um berço.

- Sadie - Voltei para o quarto rapidamente, ela se virou assutada. - Você tem filhos?

Silêncio.

- Você tem filhos? - Insisti. - Ou está esperando por um?

- Pode me dar filhos? - Sadie pergunta irônica. - Por que a única pessoa que venho me relacionando é você. - Ela colocou as mãos em cima da barriga e pressionou.

- E aquele quarto?

- Esse é o meu sonho - Admitiu. - Carregar uma criança na minha barriga, vê-la crescer.

- Existem procedimentos, por que não tenta?

- Não posso - Balançou a cabeça. - Não permitem, não se eu for uma mãe solteira que passa horas e mais horas no trabalho, deixando a criança com qualquer pessoa.

- Já tentou?

Ela assentiu.

- A criança precisaria de uma família, eu precisaria ter alguém.

- Um homem?

- Não, não é esse o problema - Falou. - Eu que tenho sérios problemas com relacionamentos, não consigo amar alguém a ponto de dividir minha vida desse jeito. Talvez eu sequer consiga amar.

- Ah. - Foi a única coisa que falei, já que eu previa uma voz embargada se falasse mais.

Me sentei na ponta da cama e fiquei olhando para meus pés, pensando sobre nós duas.

Ou apenas sobre mim, já que nunca teríamos nada.

- Não precisa ficar triste por isso - Ela se sentou ao meu lado. - Um dia, quem sabe... De algum jeito. Você é uma boa amiga, eu fico feliz de te ter aqui.

- Amigas? Olhe para nós e diga se somos amigas - Fitei seu rosto. - É curioso, sempre que você diz não me tirar da sua cabeça ou fazemos sexo, você está bêbada. Claro que não me ama.

- Eu nunca disse que te amo. Nenhuma vez.

Nem bêbada, nem sóbria.

- Eu também nunca disse a você. Mas eu sentia. E não era apenas amizade.

Aquele blusão era curto, mas no momento eu só estava me importando em chegar até o carro.

Sentei no banco do motorista e com todas as janelas fechadas, eu gritei.

Gritei por me sentir burra.
Gritei por achado que ela me amava.

Hey, boss • SillieOnde histórias criam vida. Descubra agora