Katherine

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Segunda-feira, 9 de abril
Para falar a verdade eu nem tenho o que escrever hoje, isso está me irritando profundamente. Dra. Pathríccya(eu ainda não entendo o nome dela) disse que iria me fazer sentir melhor, então aqui estou eu...
Agora são exatamente 5h14min p.m. e meus pais ainda não chegaram do trabalho. Bem, como foi o meu dia... Eu acordei como sempre... Tomei café e fui para o colégio de bicicleta como sempre... Voltei para casa, almocei, passei o resto do dia assistindo TV e agora estou aqui com escrevendo nesse diário ridículo... Como sempre.
Mais não demorou muito para me distrair com o barulho vindo da rua, fui até a janela e vi um caminhão de mudança e uns 4 homens pegando as caixas e levando para dentro da casa em frente a minha. Dois deles usavam um uniforme com o logotipo do caminhão, os outros dois eram parecidos, mas um aparentava ser bem mais velho. Eles entraram na casa ao mesmo tempo em que uma menina de 5 ou 6 anos saiu pulando pelo jardim. Também vi minha mãe conversando perto do caminhão com uma mulher que parecia ser da mesma idade dela. As duas olharam na minha direção, minha mãe apontou para mim comentando algo com a mulher que acenou pra mim. Acenei meio constrangida de volta.

Continuei escorada na janela olhando distraidamente a garota que corria de um lado para o outro, agora segurando o que parecia ser um regador de brinquedo e dançando como se fosse uma bailarina. Até que ela correu pela frente da escada da varada em frente a casa e meus olhos que acompanhavam a criança pararam no garoto que ajudava na mudança. Ele estava parado logo acima da escada com as mãos nos bolsos e olhava diretamente nos meus olhos, o rosto dele não demonstrava nenhuma reação. Tristeza, espanto, raiva, felicidade... Ele simplesmente me olhava firme, sem nem ao menos piscar os olhos e aquilo estava realmente começando a me assustar. Virei em direção a minha cama e peguei meu diário, fechando. Coloquei na mesa logo ao lado da janela, olhei na direção dele mais uma vez e ele continuava na mesma posição olhando na minha direção, só que dessa vez um sorriso de canto surgiu na boca dele, um sorriso bem simples, mas ainda mais assustador e psicótico. Me virei bruscamente balançando a cabeça saindo do quarto e caminhando pesadamente descendo as escada para ir até a cozinha. Peguei um copo de água e bebi encostada na pia enquanto o sorriso dele vinha na minha mente.

- Cat , troque de roupa. Virá gente jantar conosco... – Minha mãe falou entrando na cozinha e imediatamente pegando um pacote que eu suspeito ser macarrão no armário.
- Como assim "virá gente"? – Falei com receio do que eu acabei de ouvir.
- O que? Virá gente jantar. O que você não entendeu dessa frase? – Ela falou rindo enquanto colocava uma panela no fogão.
- Quero dizer... Quem virá?
- Nossos novos vizinhos. Mudança... Você sabe como são essas coisas, muito estresse e não tem tempo pra nada então convidar... – Na verdade ela continuou falando, mas minha mente apenas parou. Não sei por quê... Mas sabe aquela sensação ruim?... Receio talvez... – Katherine! – Dei um pulo olhando assustada para minha mãe. – Qual parte do "troque de roupa, virá gente jantar conosco" você ainda não entendeu?! Eles chegarão daqui a pouco!
Caminhei apressadamente para o meu quarto e entrei no banheiro. Talvez um banho passe todo esse sentimento, é só tensão do dia. Liguei a ducha enquanto tirava toda a roupa e colocava no cesto perto da porta. Coloquei todo o meu corpo embaixo da água morna, me encostando na parede fria e fechando os olhos para relaxar um pouco.
Encarei uma última vez meu reflexo no espelho ouvindo mais um grito da minha mãe me chamando pra conhecer os novos vizinhos. Eu vestia uma bermuda jeans com uma camisa longa rosa. Meu cabelo castanhos longo estava numa trança francesa que eu puxei para frente Suspirei fundo e saí do quarto. Enquanto descia a escada checava meu celular vendo se havia alguma mensagem, quando senti um olhar sobre mim. Na verdade, vários olhares. Parei um pouco assustada do lado da minha mãe forçando um sorriso para parecer simpática.
- Bem, essa é minha filha Katherine e esse é o Luke meu filho ...
- Cat– Alertei. Não que eu não gostava do meu nome, só acho desnecessário um nome tão grande. Respondi todos os "Olá" quê recebi.
-Luke – Oi.

- Cat, Luke, essa é a família Summers. Esses são Patricia , – ela apontou para a mulher que conversava hoje à tarde. – Yasser, - o homem mais velho que ajudava na mudança. – Rebecca, Bianca, - apontou para as gêmeas que são um pouco mais alta que eu que sorriram pra mim, e uma garota aparentemente um pouco mais velha que a garotinha que brincava hoje na frente da casa, respectivamente. – Essa é a pequena Emma – Logo a garotinha surgiu sorridente acenando freneticamente.

  - Oi! Eu sou Emma! – Ela abraçou minha perna (já que era onde ela alcançava em mim) sorrindo. Ela tinha um pequeno sotaque na voz. Não resisti e me abaixei pra abraçá-la melhor.

- Oi linda! Sou a Cat .
- Gostei da sua trança!
- Se você quiser eu faço uma igualzinha no seu cabelo. – Ela começou a pular com um sorriso imenso. Desde alguns meses atrás eu tenho me isolado um pouco do mundo por certos motivos, mas sempre que eu encontrava uma criança, todos os meus problemas desaparecem por um momento. Sempre foi meu ponto fraco.
- Filha, este é Andrew, ele é da sua idade. – Vi um par de pernas numa calça bege e tênis preto surgir de trás dos outros. Olhei para cima e senti aquela sensação ruim voltar na mesma hora. O mesmo garoto que me encarava hoje estava na minha frente com o mesmo olhar e o mesmo sorriso assustador. Levantei-me com uma leve sensação que minhas pernas poderiam falhar a qualquer momento.
- Oi "Cat". – Apertei a mão dele sentindo o frio percorrer meu corpo quando o ouvi falar meu apelido num tom forte destacando-a. O sotaque dele era ainda mais forte que o da criança.
- Oi...

- Bem, acabamos com as apresentações, vamos para mesa jantar. – Ouvi meu pai falar, vendo todos se direcionar para a sala de jantar e ele e o Sr. Summer começarem uma conversa, provavelmente sobre esportes. Quando senti alguém deslizar o ombro na lateral do meu corpo e uma voz no pé do meu ouvido.
- Um prazer te conhecer... – Meu corpo se arrepiou quando senti a respiração dele tocar minha nuca. Olhei pra frente e vi Sra. Summer olhar pra ele com desaprovação. Balancei a cabeça e segui para o meu lugar na mesa.
Estávamos todos na sala, conversando, logo depois do jantar. Eu terminava de fazer a trança em Emma que estava sentada no meu colo. Meus pais e os Summer estavam conversando sobre algo haver com política, as outras duas irmãs estavam conversando sobre algo no celular da mais velha.
- Pronto, terminei. – Ela passou a mão sobre a trança, já começando a abrir um sorriso.
- Aposto que está linda! Obrigada! – Deu um beijo no meu rosto e correu pra mostrar as irmãs e interagir na conversa delas.
- Você se dá bem com crianças. – Andrew sentou do meu lado começando uma conversa comigo.
- Han? Ah... Sim. – Falei depositando minha atenção no meu celular que tirava do bolso.

- Você não fala muito... Vamos nos dar bem... – E ele voltou a sorrir daquele mesmo jeito. Sério, ele precisa parar com isso.

- Cat, que bom que vocês já estão se dando bem, você precisa conhecer pessoas novas!
- Mãe... – Olhei pra ela com reprovação.
- Porque vocês não vão conversar um pouco pelo quintal? Mostrar a ele a mesa de sinuca ou...
- Mãe, outro dia. Ninguém está interessado em ver mesa de sinuca agora.
- Na verdade, eu adoraria... – Outro arrepio correu meu corpo. Outra coisa que precisa parar.
- Na verdade ele não está interessado! – Me surpreendi ao ouvir a mãe dele falar repentinamente, já se levantando do sofá. – Na verdade temos que ir, amanhã vamos todos acordar cedo, todos temos compromissos... – Ela falou olhando diretamente para Andrew e logo depois para o marido.
- Vocês tem certeza? Acho que dá tempo para mais um café... – Minha mãe se levantou sorrindo.
- Tenho sim. Muito obrigada pelo jantar! – Ela se direcionou para a porta ainda olhando para Andrew , todos os outros logo a acompanhou na mesma direção. Logo que eles saíram, minha mãe acenou uma ultima vez e fechou a porta. Suspirei pesadamente e subi para o meu quarto falando um "boa noite" para os meus pais sem esperar a resposta. Algo me fez ir até a janela uma última vez e olhar em direção à casa dele. A casa era grande, já que tinha 6 pessoas na família, era linda, tinha uma pequena rampa que levava a uma aparente garagem subterrânea. Fechei a janela e a cortina floral salmão. Coloquei o celular na pequena cômoda ao lado da minha cama, tirei apenas a bermuda e me joguei no amontoado de travesseiros que enfeitava a minha cama. Demorou apenas minutos para eu sentir meus olhos ficarem pesados e, logo após, tudo se apagar.

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