Andrew mantinha um sorriso no rosto. Era como se toda aquela festa voltasse tudo de novo. Minha respiração começava a ficar pesada e eu sentia o todo aquele pânico tomar conta de mim novamente. Tudo de novo.
- Andrew, não faz nada com ele, por favor. – Ele me olhou rindo e foi até a mochila pegando um par de luvas. Josh me olhava com desespero, ele tentava falar algo, mas o pano só fazia ruídos baixos saírem da boca dele. Ele fez algo ruim, mas não merecia tanto.
- Eu? Por que eu faria algo se ele não me fez nada Cat? – Ele veio caminhando até mim dando um beijo na minha bochecha. – Eu não irei fazer nada.
- Então por que ele está aqui? Nós estamos aqui? – Ele pegou meu pulso com cuidado, abrindo minha mão e colocando as luvas nela.
- Porque você irá fazer.
Meu corpo todo endureceu, Josh me olhou em pânico e dava pra ver os olhos deles ficarem molhados. Joguei as luvas no chão e o olhei intensamente.- Andrew, isso não tem graça, o deixe ir e me leve para casa. Agora.
- Vamos lá baby, você merece se divertir. – Ele pegou a luva e me entregou com força. – Agora, você vai por as luvas, caminhar até aquela mochila, vai pegar aquela faca e vai enfiar no pescoço dele.
- Não.
- PÕE A PORCARIA DA LUVA!
Meu corpo tremeu com o grito dele. O vi revirar os olhos e pegar meu cabelo com força, me guiando para baixo e me fazendo pegar a luva. Minhas mãos tremiam, nem sabia como eu conseguir colocá-las com sucesso.
- Muito bem cat . Agora você levanta e... – Senti a mão dele pegar meu braço com força, dessa vez me forçando a levantar. – Agora você levanta e faz todo o trabalho. – Ele me guiava puxando o meu braço e me colocando em frente a Josh que me olhava apavorado.
Andrew pegou uma outra luva, a colocando, e tirando a mordaça de Josh.
- Por favor, me solta! Eu estou implorando! – Ele me olhou fixamente. – Por favor Katherine! Por favor!
- Cala a boca.
- Cat, eu te amo, por favor, me solt...
- EU MANDEI VOCÊ CALAR A BOCA! – A marca da mão do Andrew ficou totalmente visível no rosto do Josh com a força. Meu corpo encolheu no mesmo momento, enquanto eu começava a chorar. – Vamos lá baby.
Eu nunca tinha visto Andrew tão possesso como ele estava. E aquilo estava me assustando pra cacete! Eu queria poder correr o mais rápido possível para conseguir algum tipo de ajuda. E eu faria, se meu corpo pelo menos conseguisse responder os meus comandos.
- katherine, você atuando como uma mosca morta está me irritando mais do que eu já estou. – Ele pegou a pequena faca, já familiar para mim, dentro da mochila e colocou na minha mão. Ele ficou parado do meu lado, a mão na cintura e me olhando. – Cat, eu não tenho a noite toda.
- Andrew, eu n-não posso.
- Sim, você pode. – Tentei levar minha mão que tremia segurando a faca até Josh, mas não dava.
- Andrew...
- Sério, CAT? Sério que depois de tudo você tem pena dele? Você é muito idiota. – Ele caminhou até atrás de mim encostando a cabeça na minha. – Ele te humilhou Katherine. Você por um pé no colégio, todos irão se lembrar das coisas boas que você fez por ele enquanto estava... Digamos assim, "ajoelhada" na frente dele! Se bem que você fez o mesmo por mim num tempo bem mais curto. – Ele riu. – Você é um tapado até pra levar uma garota pra cama... – Andre o olhou com desprezo rindo.
Fechei os olhos lembrando o vídeo enquanto chorava ainda mais.
- Cat, eu estava bêbado. Me perdoa, por favor, foi idiotice...
- Ah foi mesmo. – A risada de Andrew foi alta me fazendo arrepiar. – "Você quer morrer? Blablablabla?" – Andrew o imitou fazendo uma voz como se fosse afetado, ele fechou o punho e deu um murro no estomago de Josh. Amarrado ele não pode nem se contorcer pra tentar amenizar a dor, a boca dele fez um ruído estranho pelo golpe. – Babaca. – Ele voltou ao meu lado. – Já fiz muita coisa aqui Cat, sua vez. – Ele segurou minha mão me forçando a passar a lamina pelo braço dele cortando também a camisa, o sangue dele começava a descer pelo seu braço, e um vermelho começava a sujar o branco do pano.
- Cat... – Parte do sangue dele desceu da faca pela mão e me vi fraca, tudo ficou embasado e minha perna falhar, mas Andrew me segurou por trás.
- Não, não, não, Katherine, você não vai desmaiar agora. – Ele deu alguns tapas no meu rosto, e vi minha visão se estabilizar.
- Droga... – Sussurrei passando meu braço pela minha testa tentando tirar o cabelo que grudava pelo meu rosto com o suor e minhas lágrimas. Senti seu lábio tocar minha orelha.
- Ele te humilhou cat, te usou. Isso foi doloroso pra você. Confiar inteiramente em alguém e quebrar a cara, agora você sabe o que eu passei... Antes. – Eu não conseguia parar de chorar, parecia que o frio que fazia naquela floresta de noite passava para dentro do meu corpo, fazendo doer cada parte, incluindo meu coração. Andrew sabia como usar as palavras, como fazê-las te afetar, e profundamente. Era como se me dividisse. Uma parte sentia toda aquela raiva que eu estava sentindo de Josh voltar completamente. Mas outra parte simplesmente queria perdoá-lo, nunca mais o ver de novo, mas perdoá-lo. – Confiar em alguém e saber que pra essa pessoa você não vale nada.
- Cat, você sabe que não é verdade. – Josh sussurrou como se quisesse que apenas eu o ouvisse.
- Que para ele você é apenas mais uma opção de diversão.
- Para, por favor, Andrew... – Era quase impossível respirar chorando tanto, parecia que todo o meu peito se contorcia por dentro.
- Cat, não...
- Ele te decepcionou profundamente, Cat, ele quebrou seu coração.
- Desculpa Josh...
- CAT, não.
Sem parar para respirar, enfiei a lâmina pela barriga dele, ouvindo o grito de dor de Josh, os olhos dele se abriram e dava pra sentir toda a dor dele pela expressão do seu rosto. Minha mão colocou o pouco de força que eu ainda tinha e arrastei a faca para o lado, fazendo o grito dele ficar mais forte. Olhei para o local vendo aquele liquido vermelho descer, parte descendo pelo meu braço. Senti um beijo no meu pescoço, meu choro ficou mais forte e alto.
Os olhos de Josh começavam a se fechar e sua respiração ficava mais rápida. Ele me olhou uma ultima vez e fechou os olhos totalmente, eu finalmente larguei a faca e caí no chão chorando tudo que eu conseguia, olhei minhas mãos, estavam as duas sujas de sangue e algumas partes da minha perna que se sujaram quando eu caí no chão cheio de folhas que boa parte agora estavam vermelhas. Vi Andrew o desamarrar e o puxar, caminhando para onde tinha um pequeno rio, ele jogou o corpo e voltou.
Ele me segurou por debaixo do braço e me levantou, me guiando até o carro, onde eu sentei no banco do carona. Ele voltou até o local pegando a mochila e a faca, olhando em volta checando se havia algo que poderia nos incriminar. Andrew colocou a mochila no porta-malas e entrou no carro.
Ele seguiu dirigindo pela rodovia. Eu podia sentir seu olhar sobre mim em alguns instantes. Já havia conseguido parar de chorar, o vento gelado que vinha da janela fazia meu corpo tremer, eu olhava para um ponto fixo a minha frente, toda a cena voltava como uma gravada na minha cabeça. O olhar de Josh, a expressão de dor na cara dele, o grito dele ecoava na minha cabeça repetidamente.- Foi o melhor para você, Cat , a vida não é fácil. – Ele tocou na minha coxa para tentar me reconfortar. Se isso ainda era possível. Encolhi meu corpo com o toque dele, sem mudar o foco do meu olhar.
Eu não reparei no tempo, nem no percurso que fizemos, mas senti o carro parar. Andrew saiu do carro e senti ele abrir o porta-malas. Minutos depois ele abriu a porta perto de mim e se abaixou um pouco pegando minhas mãos e tirando as luvas, só agora eu consegui lembrar delas. Ele fechou a porta e eu o segui com o olhar e reconheci. Era o mesmo local onde ele havia queimado as coisas da outra vez, ainda havia a carcaça do outro carro queimado e tinha o barril de metal, também queimado. Ele ia caminhando até o barril jogando as luvas, ele tirou a camisa e a calça jogando no barril, ficando apenas com a cueca boxer preta. Leon abriu a mochila e tirou rápido uma calça qualquer preta e um moletom vestindo e em seguida jogou um líquido de uma garrafa pequena, tocando fogo no barril. O vi voltar rápido com a mochila, entrando no carro e jogando a mochila em qualquer canto.
- Agora vamos cuidar de você.
Ele seguiu com o carro, arrancando, eu continuava no mesmo lugar. Meu corpo queria reagir, se movimentar, mas minha mente simplesmente havia desistido, era demais, só queria um momento para tentar aliviar, mesmo que por um momento.
Muitos minutos depois vi o carro para mais uma vez, olhei para frente e vi minha casa. As luzes estavam todas apagadas, o que significava que já estavam todos dormindo. Andrew me olhou por alguns instantes, logo depois saindo do carro, ele abriu a porta para que eu saísse, mas quando coloquei os pés para fora senti seus braços nas minhas costas e por debaixo das minhas pernas e então ele me carregou, fechando a porta do carro com o pé.
Ele foi caminhando até os fundos da casa, ele me colocou no chão por um instante pegando uma chave escondida atrás de um pequeno jarro de planta perto da porta. Ele a destrancou e arrastou a porta de vidro coberto com uma cortina marrom, ele voltou a me carregar e entramos em casa. Andrew subia a escada com todo o cuidado para que não fizesse barulho. Ele abriu a porta do meu quarto e me levou até o banheiro me colocando encostado na banheira.
- Acho que tenho que ir agora. Você não quer falar, mas tudo bem. Eu guardo a chave no lugar que estava. Dormir vai te fazer b...
- Não me deixe sozinha Andrew. - Falei finalmente o olhando no olho.
- Achei que você estava br...
- Não me deixe sozinha.
Ele saiu do banheiro e eu senti um vazio dessa vez completo no meu peito. Então ouvi a porta do meu quarto se fechar e trancar, e Andrew voltar a aparecer no banheiro, ele se aproximou e deu um beijo na minha testa.
- Eu não vou.
Ele me ajudou a tirar o vestido e o sapato, ele olhou pelo quarto e pegou um saco plástico que estava perdido pelo local, colocando dentro o sapato sujo de sangue.
- Eu dou um jeito nisso depois... – Ele colocou o saco num canto e voltou a atenção para mim, com uma pequena ducha que tinha na banheira, me ajudou a tirar o sangue que havia nos meus braços e nas pernas, e me ajudou a limpar meu rosto, que eu imaginava estar todo borrado com a maquiagem. Pegou uma toalha e me ajudou a secar, me entregando uma camiseta limpa que estava pelo banheiro.
Andrew me carregou mais uma vez, levando-me até minha cama, deitando-se ao meu lado.
- Pensei que nunca mais iria olhar na minha cara.
- Eu preciso de um tempo pra aliviar minha mente.
- Se quiser eu posso ir agora.
- Apenas espere até que eu durma.
- Claro... – Senti o lábio dele tocar minha bochecha.Andrew- Falando
Olhei para o relógio ao lado da minha cama. Eram 10h da manhã. Bocejei e me levantei seguindo para o banheiro. Tomei um banho rápido, colocando um jeans qualquer e uma camisa preta lisa. Coloquei o All Star, peguei meu celular e saí do quarto. Desci as escadas rápido, dava pra ouvir a voz da minha família na sala comentando algo que assistiam. Não estava com a mínima fome então peguei minhas chaves e saí de casa com cuidado para que não me ouvissem.
Eu precisava ver como ela estava essa manhã. Eu sabia que o que eu fiz não era o certo, mas ela precisava daquilo. Ela precisava saber o que acontecia se ela me trocasse por outro mais uma vez, ainda mais por aquele verme. Ela precisava saber que era MINHA, e de mais ninguém.
Atravessei a rua indo em direção à porta dela, logo tocando a campainha umas duas vezes. Ouvi alguns passos e logo a mãe dela abriu a porta sorrindo.
- Andrew! Querido como está?
- Eu estou bem, e a senhora?
- Ótima! Posso ajudar?
- Sim. Er... Eu poderia falar com Cat? É algo importante.
- Aw querido, ela não está no momento. – Minha cabeça embaralhou por um minuto. Ela já estava assim tão bem?!
- Er... Ela vai demorar? Eu poderia esperar ela talvez.
- Se você tiver paciência de esperar por uma ou duas semanas. – Ela riu baixo.
- C-como assim, uma ou duas semanas?
- Ela acordou hoje dizendo que precisava de férias. Imagine, férias... – Ela continuava rindo. – A doutora dela disse que ela poderia ter estresses e coisas assim com o colégio, então ela foi hoje de manhã bem cedo passar uns dias na casa de uma tia, em uma cidade por aqui no Texas mesmo. Desculpe desapontar docinho.
Eu forcei um sorriso para ela me despedindo e me virei enquanto ela fechava a porta, apenas tentando imaginar o que deu na cabeça daquela garota dessa vez. Droga...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sonhos e Lembranças
RomanceDepois de tudo o que aconteceu comigo, agora eu tenho ele para me assombrar.