Abismo

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Com as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta de veludo cotelê, Tom sorriu deixando passar um suspiro de satisfação.

— Não mudou nada. Está do jeitinho que eu lembrava.

— Ah! Que isso — disse Jenny olhando com ceticismo para a pequena lagoa e cruzando os braços— Nada continua igual para sempre, algo deve ter mudado neste açude.

— Não! Eu 'to te falando, tá do mesmo jeito as mesmas árvores os mesmos galhos a mesma quantidade de água. Caramba! Aposto que o velho ''buraco pra lugar nenhum" ainda está lá no fundo.

— ''Buraco para lugar nenhum" — Jenny repetiu fazendo careta — parece assustador.

— É que Bobby e eu apostamos um com o outro certa vez quem era capaz de ir mais fundo, Bobby tentou uma vez, mas não conseguiu segurar o fôlego durante muito tempo. Ele disse que algo olhou pra ele de dentro do buraco e que quase morreu de medo.

— Ah! Então é por isso que ele não vem mais aqui? — Jenny agitou os braços tentando afastar a imagem.

— Por que garotos fazem essas coisas idiotas?

Tom tirou a jaqueta e sorriu.

— Ah! Jenny, me diga, você nunca fez nada idiota quando era adolescente? Tipo vir aqui na pedreira com os amigos, por exemplo. Beber, fumar e transar?

— Nossa, Tom! Sério? Era assim que impressionava as garotas? Trazendo elas para um lugar como este? Tem de rever suas técnicas se eu resolver lhe dar um pé na bunda — Ela o afasta com um empurrão no peito.

— Ei calma aí, vem cá, eu te amo Jenny — Ele a pega pela cintura, a puxa para junto de si, ambos sentem o perfume um do outro trocam carícias e um beijo.

— Então quer dizer que você me ama? E teria como provar? — Ela dá um sorriso malicioso para Tom — Ele devolveu a pergunta com uma risada.

— Juro que vou provar meu o amor — tirou a camisa e as calças, e para a surpresa de Jenny se atirou nas águas turvas.

— Vou até o fundo por você! — Tom grita para Jenny em meio as braçadas.

Ela olhou na direção dele, incrédula.
— 'Ce tá louco Tom? — ela balançou vigorosamente a cabeça — Pare com isso, TOM! Não dá pra ver nada está escuro demais, deixa isso pra lá e vamos embora — berrou Jenny.

— De jeito nenhum — Disse Tom — Eu jurei que faria isso, além disso, quando era mais novo deixei cair uma moeda de prata lá, no fundo, quero minha moeda de volta — E dizendo isso, mergulhou.

Jenny via a forma escura descer cada vez mais, a sombra se deteve no que parecia ser o fundo do açude, e depois desapareceu. Ela gemeu, abraçou-se, mordeu os lábios e esperou.

— TOM! — Ela gritou ao ver que ele não voltava — Ai meu Deus!

Ela tirou os sapatos e as calças, não tinha roupa de banho estava só de calcinha. Fez uma careta ao pular no lago e constatar que a água estava mais fria do que imaginou. Ela nadou para longe da margem. Antes de chegar no meio do Lago, ela se deteve, levou as mãos a boca e tentou gritar, mas nenhum som saiu de sua garganta quando bolhas e sangue brotaram do local onde Tom havia desaparecido. Paralisada de medo, tentou reunir coragem para mergulhar e ajuda-lo. Foi então que a mão dele apareceu na superfície. Ela deixou escapar um suspiro de alívio, que se transformou no grito antes reprimido quando a mão continuou a boiar decepada na altura do pulso ensanguentado.

Jenny desesperada tentou nadar de volta a margem enquanto outras partes começaram a surgir, um braço decepado na altura do cotovelo, órgãos e intestinos também. Jenny estava nadando em uma enorme sopa humana.

Sombras do abismoOnde histórias criam vida. Descubra agora