Viridiam

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Aaron sentiu o ar frio e um leve odor de mofo arrancaram-no do sono, com os olhos ainda pestanejando deslizou o braço por entre os lençóis emaranhados, encontrou um travesseiro e tateou na escuridão à procura do calor de um corpo, lembrou que estava só, Aaron esforçou-se para abrir os olhos. O quarto era iluminado apenas pelos traços diagonais de luz do dia que delineavam a persiana escura que cobria a janela. Olhou de relance para o relógio sobre o criado-mudo.

Eram quase sete horas da manhã. O tempo exato de tomar um banho e começar o dia, comeu uma torrada com um café bem forte e percebeu que Jonah ainda dormia, então deixou um bilhete na geladeira.

“TEM CAFÉ E TORRADAS, NÃO VAI SAIR POR AÍ DE ESTÔMAGO VAZIO, VOU TENTAR CHEGAR CEDO PRA FAZERMOS ALGO.

TE AMO ASS: PAI”

No carro, a caminho do trabalho, Aaron correu os olhos pelas ruas do bairro. Pelo menos uma a cada três casas pelas quais passava era pouco mais do que um esqueleto: estruturas de madeira cobertas com folhas plásticas, que oscilavam ao favor do vento feito pele solta.

A maioria dos modelos prontos ainda exibia as placas de “Vende-se” e “Corretores de plantão”. Sua esposa teria odiado aquele lugar, ele pensou como seria a reação dela e imaginou Valery jogando baldes de tinta fluorescente nas casas de cor bege, cinza e marrom-claro.

Chegou a uma placa de pare e pegou-se fitando os balanços instalados no jardim de uma das casas. Quem tivesse morado ali devia ter filhos, a menos que aquilo fosse apenas um chamariz para possíveis compradores.
Valery teria gostado, ela queria ser mãe mais uma vez. Acelerou lentamente o Jeep, savana 91 e pelo espelho retrovisor, ficou observando o balanço dos assentos desocupados.

Aaron olhou para o relógio. Já entrara três vezes na rua errada, tentando sair do emaranhado que era o novo bairro. Estava atrasado. Aquelas ruas e becos de paralelepípedos pareciam todos iguais. Lembrou-se da corretora de imóveis, que descrevera as ruas sinuosas e as alamedas imprevisíveis entre um quarteirão e outro como uma coisa boa.

“Você nunca vai se sentir encurralado, como acontece nos bairros quadradinhos”, ela dissera. Aaron concordou com um movimento de cabeça, era isso ou teria de examinar sozinho todos aqueles panfletos mais uma vez. Valery era ótima nisso ela teria escolhido uma casa melhor em um bairro melhor.

Aaron passou diante de todas as casas, tão semelhantes umas às outras que ele se perguntou se não estaria dando simplesmente voltas no mesmo quarteirão. Uma rua adiante estava bloqueada por placas e barreiras que indicavam obras em andamento, apesar de não haver nenhum operário à vista.
Dobrou à esquerda, quase certo de que chegaria novamente ao ponto de onde saíra, em sua própria rua. Foi então que viu a placa indicando a Rota 11 e consultou o relógio novamente. Por volta das oito em ponto chegou no prédio da Viridian.

A arquitetura do edifício da Empreiteira se destacava muito entre as demais, parecia ter vindo de um futuro distante, todos os outros edifícios datavam da década de 40, 30 e até 20 com uma arquitetura colonial que emprestava uma aparência atemporal a pequena cidade. Aaron, assim que chegou foi direto até o balcão falar diretamente com a recepcionista.

— Olá, bom dia, eu sou Aaron Kaster e fui transferido para trabalhar como supervisor na pedreira.

Enquanto falava a recepcionista que aparentava ter pouco mais de 40 anos, com o cabelo preto e alguns fios brancos, preso em um coque, usava pequenos óculos sobre o nariz, com uma cara redonda e olhinhos verdes pareciam analisa-lo.

— hum sim! Senhor kaster; o senhor já era aguardado, aguarde um minuto sim.

Após exatos quinze minutos um homem com pouco mais de vinte anos pele clara, cabelos negros e vestindo uma camisa social azul de mangas com gravata, calças e sapatos sociais chegou a recepção e se dirigiu apressadamente a Aaron.

Sombras do abismoOnde histórias criam vida. Descubra agora