Prólogo

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– Nunca se esqueça, Charles: não ouça mais nada. Desligue-se de tudo e concentre-se no animal. — Fiquei atento a cada palavra que o meu tio Frank dizia, pois era a primeira vez que montaria um touro adulto e isso estava fazendo minhas pernas tremerem. Concordei com tudo, pois ele entendia do assunto. — Durante oito segundos você e o touro serão apenas um. Respeite-o, mas não o deixe sentir seu medo. Jogue seu corpo na direção contrária aos saltos e nunca... — Ele estava de frente para mim, com as mãos pesadas em meus ombros, me fazendo encará-lo. — Nunca desista. Aconteça o que acontecer. O rodeio é como a vida: mesmo quase caindo e derrotado, você ainda pode se reerguer. Enquanto seu corpo não tocar o chão, você ainda não terá perdido.

Assenti com a cabeça, deixando claro que entendia tudo o que ele me ensinava.

Subi na grade do brete e Frank entregou meu capacete. O último item de segurança. O que me salvaria caso eu falhasse.

Olhei para os lados e observei a imensidão da fazenda. De onde eu estava conseguia ver o campo de girassóis, o que me fazia lembrar dos meus pais. Por alguns segundos me perdi entre as memórias, e meu tio percebeu.

— Concentre-se, Charles.

Sua voz me trouxe de volta à Terra. Olhei para o corredor e vi o touro que ele escolhera. Raiz era o seu nome.

Enquanto o animal era trazido até mim, eu sentia sua determinação. As narinas inflavam e os músculos moviam a pele que cobria seu corpo.

"Me ferrei!" foi tudo o que pensei quando o animal se aproximou e eu realmente pude notar quão grande era.

Ouvi gargalhadas e alguns gritos. Sabia que eram os funcionários da fazenda, por isso não me preocupei em olhar.

Apesar do medo, não pensei duas vezes quando percebi que era o momento. Passei uma das pernas sobre o Raiz e senti meu corpo trepidar. Cerrei os olhos, concentrando-me na porteira que seria aberta.

Ela abre. O touro sai.

Por um momento eu me senti em uma montanha-russa. Meu corpo era jogado de um lado para outro violentamente. Quase caí, mas não desisti, pois ainda não tinha tocado o chão. Permaneci sobre o animal, embora fosse sacudido com uma intensidade cada vez maior, até que senti as costas baterem no solo. Quando percebi que havia caído, levantei o mais rápido possível e subi na cerca.

Não sabia quantos segundos tinha permanecido no touro, mas um sorriso idiota estampava meu rosto.

— Esse é meu garoto.

Tio Frank se aproximou, subiu na cerca e se sentou ao meu lado. Encaramos o touro, já mais calmo, como se soubesse que não estava mais sendo desafiado.

— Quantos segundos? — perguntei.

— Cinco. — Meu sorriso morreu, mas ele continuou: — Nada mau para um moleque de 15 anos.

Olhei para o touro novamente, analisei seu porte e seu tamanho, e o animal me encarava de volta, avisando-me que sempre faria parte da minha vida. Um calafrio tomou conta de mim. Tinha certeza de que, de qualquer forma, sendo aquele touro ou outro, eu estava diante do maior desafio da minha vida.

— Um dia chegarei a Barretos e terei milhares de pessoas gritando meu nome.

E eu cheguei

8 segundosOnde histórias criam vida. Descubra agora