Capítulo 2

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Tinha acabado de sair do banho e aqueles malditos olhos azuis me perseguiram até quando secava o meu cabelo. Desde que encontrei com aquele chucro, eu não conseguia tirar aquele olhar dos meus pensamentos.

— Você deve estar ficando louca, Camila. Um roceiro?! — disse para a minha imagem no espelho. Estava sozinha no quarto que havia sido cuidadosamente arrumado para mim.

Apesar de a casa estar mais velha que o quadro da Mona Lisa, o quarto era ajeitadinho. Claro que nada comparado ao meu apartamento na cidade, montado por uma decoradora badalada, com todas as coisas de que uma garota como eu precisava.

Coloquei uma calça jeans e uma t-shirt que comprara em Nova York em minha última estada lá. Amo aquele lugar, mas meu sonho de consumo sempre foi morar na Cidade Luz.

Paris era o sonho da minha mãe e eu iria realizá-lo, custasse o que custasse. Meu pai era contra, como era contra tudo o que eu fazia, mas nosso acordo faria com que eu dobrasse o velho.

Olhei para a penteadeira e nela havia uma foto da minha mãe me segurando no colo. Caminhei até o móvel e peguei o porta-retratos.

Sentia muita falta dela, mesmo que não lembrasse muitas coisas. Perdi minha mãe quando tinha 5 anos. Apesar de lembrar pouca coisa, em quase todas as lembranças ela estava com vestidos perfeitos e maquiagem impecável. Prometi a mim mesma que seria como ela. E lá estava eu: correndo atrás do meu sonho, nem que para isso tivesse que ficar enfurnada trinta dias naquele fim de mundo.

Coloquei a foto de volta na cômoda, porém não parei de pensar em minha mãe. Não recordava sua morte, mas meu pai me contou que ela teve uma doença pulmonar muito grave e não resistiu. Então, desde os 5 anos, eu fui criada por babás e depois em colégios internos. Mas, assim que completei 18, fui morar sozinha. Meu pai me dava uma mesada para que eu me sustentasse. E esse foi o motivo da briga que havíamos tido, pois o dinheiro não dava nem para a metade do mês. Ele sempre queria saber por que eu gastava tanto, mas eu não podia explicar a ele que a maior parte da minha grana era gasta com o Chuck.

Passeios caríssimos, roupas e relógios de grife, noites e mais noites nos motéis mais caros da cidade sempre apareciam no resumo da minha fatura do cartão de crédito, mas eu não me arrependia. Eu tinha plena consciência de que o Chuck estava comigo também pelo dinheiro.

Sou morena, mas não sou burra. Entretanto, eu não importava: desde que ele continuasse me dando orgasmos incríveis, por mim tudo bem. Era muito difícil encontrar um homem que se preocupasse com o prazer da mulher, e o Chuck era praticamente obrigado a isso. Dessa forma nossa relação funcionava. Eu o mantinha com dinheiro e status, e ele me satisfazia entre quatro paredes.

Bloqueei o Chuck em minha mente quando escutei uma voz.

— Com licença. — Me virei em direção ao som e percebi que a porta estava um pouco aberta. Uma voz feminina vinha de fora.

— Pode entrar — respondi. Arrumei meu cabelo olhando para o espelho e através dele notei uma menina atrás de mim. — Quem é você? — perguntei, virando-me, pois nunca tinha visto a garota na vida. Ela estava de pé na minha frente e sua beleza era notável: cabelos ruivos, pele branca, olhos grandes e expressivos e algo que me lembrava alguém.

Dei uma boa verificada em seu visual e fiz uma careta para as botas grosseiras que ela usava. A garota se aproximou para me cumprimentar.

— Meu nome é Madelaine, mas pode me chamar de Mads. — Ela estendeu a mão e devolvi o gesto somente por educação. — Seu pai pediu que lhe fizesse companhia, pelo menos quando ele não estiver aqui — ela disse, dando um passo atrás e voltando para o seu lugar. Era só o que me faltava: uma babá.

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