Capítulo 7 (parte1)

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CHARLES

– Camila, sua desgraçada! Abre essa porta, porra! — Meu Deus, aquilo só podia ser
brincadeira.

Fazia vinte minutos que eu esmurrava a porta que nem um louco, mas nada de aquela patricinha cínica e enganadora de homens com tesão me responder.

— Abre a porta! — gritei de novo, mas foi em vão.

Podia ouvir a risada da maldita dentro do quarto.

— Burro! Burro! Burro! — Bati a mão espalmada na minha cabeça.

Eu era muito idiota de ter deixado as coisas irem longe demais de novo, mas daquela vez Pietra foi mais esperta.

Eu achando que a noite que tinha começado mal terminaria comigo dentro dela... Acabei foi do lado de fora, pelado e com frio.

Olhei para o meu companheiro de jornada entre minhas pernas e pude notar que o frio já fazia efeito: o que antes estava duro como um coco murchou.

Andei pelo galpão usando as mãos para tapar meu pau enquanto procurava algo para vestir.

Aquele quarto era o único que tinha fora da casa- grande, era o lugar que eu usava para descanso quando precisava ficar de plantão na fazenda.

Minha ideia era ficar lá com a Camila até o dia amanhecer, quando os primeiros empregados apareceriam.

A maioria deles ficava de folga até segunda, mas alguns, como os empregados da casa, voltariam no domingo de manhã.

Passei pela baia do Ventania, que, por estar em recuperação, era o único cavalo que havia ali.

Ele relinchou assim que me viu.

— É, companheiro. — Acariciei a testa dele. — Noite difícil. — Seria cômico se não fosse
trágico: eu estava pelado conversando com um cavalo.

Poderia montar e cavalgar até a casa do tio
Santiago, mas, apesar de tudo, não deixaria Camila sozinha do lado de fora de casa.

Querendo ou não, eu era responsável por ela.

Saí pelo quintal tentando encontrar o que vestir, mas a única coisa que eu achei foi um vestido no varal.

Foi fácil deduzir que era da Camila, pois mais ninguém na casa teria coragem de usar um pedaço de pano mínimo como aquele. Mal dava para saber se era um vestido ou uma blusa.

Eu o puxei do arame e, sem nem olhar direito, rasguei o tecido e o enrolei na cintura.

Pelo menos meu amigo não ficaria envergonhado. Voltei para o galpão e coloquei a cadeira em frente à porta do
quarto. Assim que Camila saísse, eu torceria seu pescoço da mesma forma que se mata um frango.

Me sentei e, minutos depois, tive uma ideia; levantei e procurei a caixa de força do galpão.

Desliguei a chave, e imediatamente tudo ficou escuro. Ela não estava com medo? Quis ver o que ia fazer.

Voltei rindo, me sentei na cadeira e aguardei: era uma questão de tempo até Pietra se pronunciar.

— Charles! Seu filho da mãe! — ela gritou do quarto. Não disse? Quando o quesito era mulher, eu tirava de letra.

— Liga a luz! — Rá! Se ela achava que eu iria dar o braço a torcer, estava muito
enganada.

Camila não sabia com quem estava brincando, e, quando eu entro num jogo, não admito a derrota.

Nunca sairia perdedor.

— Eu te odeio, seu caipira idiota!
— A recíproca é verdadeira, patricinha mimada! — gritei de volta.

Inclinei a cadeira para trás e apoiei minha cabeça na parede. Era só esperar o dia amanhecer.
Camila ia descobrir com quantos paus se faz uma canoa.

Cochilei sentado e, quando acordei, percebi os primeiros raios de sol.

Levantei e caminhei até a porta do galpão. O raiar do dia no campo era lindo, e eu contemplava o céu no horizonte.

Voltei para o quarto e tentei entrar, só para ter certeza de que a maldita não tinha fugido enquanto eu dormia.

— Camila, minha linda. Vem aqui para fora — chamei, provocando-a. — Seu charles está te esperando. Vem, Cristal.

Alguns segundos depois, ouvi um barulho de coisas caindo no quarto. Provavelmente ela estava quebrando tudo, tentando andar no escuro.

— Nem morta! — respondeu. — Vai embora, charles. — Aguardei alguns segundos perto da porta; se ela abrisse uma fresta sequer, eu partiria para dentro.

8 segundosOnde histórias criam vida. Descubra agora