Psicossocial

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Minha mente dizia para eu me sentir aliviada agora que sabia parte da verdade - ou que pelo menos pararam de mentir -, mas não foi essa a sensação que tive quando Paul ou Jacob se dirigiram a mim pela primeira vez com um pingo a mais de honestidade. Eu só conseguia ficar à vontade em relação ao assunto quando conversava com Nick, e agora eu me perguntava se era porque antes tudo parecia mais fantasioso e incomum. Com ele eu cobria a cabeça com papel alumínio e me entregava às teorias conspiratórias mais improváveis e até divertidas.

Depois do falso alívio veio a culpa. Nick ainda estava em Seattle com a mãe e a última coisa que eu queria era que ele continuasse fissurado no nosso minúsculo universo. Mas também me pareceu errado não informá-lo de tudo que acontecera nas últimas 48 horas; logo a ele que era provavelmente a única pessoa leal que eu tinha conhecimento. Eu estava amedrontada e ansiosa demais para retribuir sua sinceridade. Não poderia me fazer de boba e fingir que eu não prometera discrição aos outros dois. A boa criação que eu recebi fez um completo inferno no meu coração quando eu me enchi de pensamentos determinados a falar por horas e horas de frente a Nick, mas me lembrei que Paul e Jacob também queriam que eu fosse fiel ao segredo meia-boca que eles me contaram - sob coação.

Ainda em pânico ao planejar o meu discurso para mais tarde, saí de casa na manhã de segunda-feira com as chaves do carro na mão e o espanto já não foi o mesmo ao ver Jacob esperando naquele exato lugar. Ele disse que pararia de me perseguir, e não que deixaria de cumprir algumas das promessas que tinha feito há pouco tempo - eu ainda não entendia qual era o limiar entre as duas coisas. Eventualmente eu me acostumaria, eu acho. Dessa vez ele não estava convencido ou ansioso para me fazer ouvi-lo nem nada do gênero, então esperou que eu decidisse cumprimentá-lo de boa vontade primeiro, e foi o que fiz.

- Vai manter um recorde de presença daqui pra frente? - provoquei de propósito.

- Com a sua ajuda - recebi a resposta imediata. Jacob olhou na direção oposta ao fim da rua antes de perguntar. - Onde a sua mãe trabalha?

Estreitei os olhos para o questionamento.

- Em uma contabilidade em Forks, por que?

- Nada, eu acho - ele deu ombros tentando parecer desinteressado. - Ela saiu bem cedo com um cara que eu nunca vi antes.

A informação não passou batida, muito pelo contrário; meu coração saiu para fora do tórax por um instante e eu mal percebi o gesto que as minhas mãos fizeram inconscientemente como se meus dedos fossem garras que tentavam prender o ar. Segurei o braço dele que agora já estava próximo de mim e fiz a anotação mental tardia de que aquela era a primeira vez que nós havíamos sequer nos encostado desde que éramos pré-adolescentes. Não sabia se era relevante, mas pareceu.

- Ai meu deus, então ela 'tá mesmo namorando alguém! - eu gritei no mesmo instante.

Corri até o carro e escancarei a porta do motorista num rompante e subi no banco em seguida. Virei de costas e fiz sinal para que ele me seguisse.

- Vem cá - disse entre dentes como se alguém pudesse nos ouvir, mas àquela hora da manhã não havia ninguém por perto. Jacob entrou pelo lado do passageiro. - Deve ter alguma coisa aqui, qualquer rastro dele...

Abri o porta-luvas e comecei a tirar as coisas que a minha mãe guardava ali: os documentos do carro, um batom, chaves extras, remédio para enjoo e outros itens que demonstravam a sua personalidade regrada. Mexi nos retrovisores para verificar se eles tinham sido alterados para uma altura diferente. Jacob, no entanto, não parecia entender o meu método frenético.

- Por que você não pergunta para ela? Não é muito mais fácil? - ele se encolheu ao meu lado enquanto eu não parava de mexer obsessivamente.

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