Tempo

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- Trago recibos!

A voz estridente de Nick preencheu a grande sala vazia no exato instante em que eu fechei as portas duplas da biblioteca passado o horário de encerramento. Ele mal conseguiu se conter desde o segundo que chegara ali, e eu precisava admitir que a minha crescente curiosidade também me perturbava até mais do que me instigava, mas essa era uma preocupação para mais tarde.

- Não podemos ficar muito tempo, então vamos direto ao assunto - me apressei à sua frente e corri até a mesa mais próxima. Nick me acompanhou aos tropeços.

Ele se debruçou sobre a superfície iluminada pela luz fria e jogou a mochila fazendo um estrondo; de lá jorravam papeis, apostilas e pastas cheias de artigos de internet impressos, mapas e, o que tornava a me impressionar pelos motivos errados, fotos de câmeras de segurança, bem como relatórios policiais.

- Será que eu ouso pergunt...

- Tem razão, não temos tempo - Nick ergueu a mão no ar me interrompendo e retirou da mochila um de seus cadernos desordenados. - Precisamos reorganizar a nossa linha do tempo. - ele puxou mais um bloco de notas com um selo oficial no papel timbrado, exibiu o que parecia ser um registro de ocorrência do DMV* acompanhado de inúmeras imagens de um circuito de TV. - "Melrose District, engavetamento", "veículo furtado em Avenida North Central", "suspeito de furto identificado em aeroporto particular".

Ele parou de repente e me estendeu uma foto que não era de todo estranha. Um homem de feições duras e belas era fotografado em pista dentro do que parecia ser um galpão. Independente dos detalhes, era fácil reconhecê-lo de uma outra gravura que decorava o quadro principal de Nick; era o homem que posava ao lado da sereia ruiva - a até então sereia ruiva que eu tinha certeza que vira na praia, mesmo que o meu julgamento estivesse alterado por substâncias.

Meus olhos e dedos tremiam em sincronia, algo tão diferente da concentração quase exemplar que eu me forçara a ter durante as aulas da tarde sem conseguir assimilar os fatos que pareciam óbvios, mas demandavam alguém mais hábil para colocá-los em palavras claras.

- Eu não sei você, Ray, mas eu não conheço tanta gente em Forks que vai com frequência ao Arizona, por qualquer motivo que seja - Nick balançou o rosto contrariado e eu concordei. - Exceto por esse grupo aqui.

As mãos trêmulas novamente revelaram uma pasta (de identificação ainda mais alarmante, um hospital) com um prontuário todo riscado por canetas de cores variadas.

- O acidente em Phoenix aconteceu exatamente uma hora e oito minutos antes disso aqui - Nick apontou para o documento hospitalar e leu em voz alta. - Isabella Marie Swan, admissão por múltiplos traumatismos, fratura exposta e perda de sangue. Laudo inicial aponta queda.

Nossos olhos se encontraram, mas não acho que estávamos na mesma energia. Ele, determinado que eu expelisse suas exatas conclusões. Eu, ainda chocada que Nick conseguia encontrar aparentemente qualquer informação sigilosa como quem lê tweets online.

- O que aconteceu nesse meio tempo? - eu sussurrei para quebrar o silêncio.

- Eu consigo apostar que o doutor Cullen falsificou praticamente tudo disso aqui - ele indicou a pasta em mãos com força. - O que é que essas mesmas pessoas estavam fazendo em Phoenix? Q-quer dizer, quando Bella sumiu no ano passado, o pai dela disse que ela tinha fugido para a Flórida! O que quer que tenha acontecido lá, mudou tudo que sabemos. Essa pessoa - Nick fez menção ao homem loiro da foto que agora estava em cima da mesa - simplesmente sumiu do mapa. O que fizeram com ele?

- E por que não fizeram o mesmo com aqueles outros dois... - completei sua pergunta vagamente, enquanto me lembrava da foto dos três desconhecidos. Nick gesticulou algo incompreensível. - Você sabe que eu vi essa mulher, não é? O quão perigosa ela pode ser? Se você conviveu com eles em Forks antes - Nick fez uma expressão como se dissesse não exatamente, mas optei por ignorar - e nada aconteceu, por que estamos assumindo que qualquer um representa perigo?

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