Capítulo 4

97 4 0
                                    

Virgínia abriu os olhos e se assustou quando viu o teto rústico de madeira envernizada, sobressaltada ela caiu da cama em um baque no chão também de madeira.

A porta se abriu repentinamente:

–A senhorita está bem? – Era Joana, a empregada doméstica da casa.

–Estou bem Joana, é Joana seu nome não é?– Virgínia perguntou com o sotaque carregado do português de Portugal.

– É sim senhorita– a mulher abanou o vestido preto e ajeitou o avental amarelo– estava lavando suas roupas, desculpe! A senhorita quer que eu te traga o café aqui na cama?

Ou no chão. Joana pensou.

– Não se preocupe com isso Joana, e me chame de Virgínia por favor! Só me diga o que terá no café da manhã.

– Sim senho..., digo, Virgínia. Tem bolo de fubá com geleia de caju, suco de acerola, café puro, leite fresco e pão de queijo– disse a mulher pegando as roupas de cama e uma toalha suja do quarto, em seguida saiu e deixou Virgínia ali no chão.

A essa altura ela já havia se sentado na beirada da cama e juntado os joelhos ao tronco. Uma luz entrou pela fresta da janela de madeira e iluminou seu rosto branco, Virgínia estreitou os olhos e se olhou no espelho que ficava do lado da cama, estava bonita naquela manhã, diferente de todas as outras manhãs que passara em Portugal. Sorriu para si mesma ao ver a pele branca hidratada, tal como o cabelo castanho ondulado, até os olhos azuis pareciam mais vivos.

Virgínia chegou a cozinha usando um jeans e uma camisa xadrez azul e foi surpreendida pela entrada de um homem, extremamente charmoso, e se sentindo á vontade este pegou a garrafa de café e se serviu.

Ela o encarou:

– Com licença moço, essa é a minha cozinha...

–Perdão senhorita– o homem tinha a voz aveludada de um perfeito cafajeste– eu tomo café aqui todos os dias desde que me mudei para Vilhinha querida.

O homem sorriu, um sorriso de canto de boca que fazia qualquer mulher cair a seus pés, exceto Virgínia que estava irritada:

– Pois bem, isso acaba aqui! Essa é minha casa e o senhor, que eu não sei quem é...

–Onde estão meus modos não é mesmo?!– o homem a interrompeu– sou seu capataz, Túlio, encantado– este a tomou pela mão e lhe beijou ali.

–Túlio? Meus pais não falaram de nenhum Túlio, desculpe, o senhor terá que sair.

–Calma bela moça! Meu pai trabalhava aqui, ele era capataz do Alcântara, seu pai certo?– Virgínia assentiu– Meu pai morreu a um tempo e hoje eu trabalho para vocês no lugar dele. Só isso meu bem!

– Ah! Ótimo! Então vamos estabelecer algumas regras aqui– disse ela sentando–se a mesa– meu nome é Virgínia, dona Virgínia para o senhor, seu trabalho é lá fora então seu café será lá também, traga de casa.

Túlio a encarou de forma intimidante, porém Virgínia permaneceu com o rosto impassível.

–Olha que moça durona, é a primeira a resistir a mim!

–Ora! Vamos! O senhor tem quantos anos?

Túlio ofendeu–se.

–43, e muito bem conservado dona Virgínia.

Virgínia riu:

– Vá trabalhar Túlio!

Lá fora as cachoeiras da fazenda faziam um barulho que tapava até mesmo os mugidos das vacas no curral que ficava a 30m da casa. Ainda era a "época das águas", janeiro, todas as nascentes estavam vivas e fluidas, a pastagem e o cerrado verdes em sua melhor tonalidade e a terra fértil.

Padre AntoineOnde histórias criam vida. Descubra agora