Capítulo 6

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Virgínia ainda sentia uma dor horrível nos pés, era como se seus dedos não estivessem lá mais e seus calcanhares, cheios de calo pela bota, estavam doloridos e vermelhos. Joana havia preparado uma bacia com água e algumas plantas que Virgínia não reconhecia, para que ela lavasse os pés.

–Não sabia que você dançava Virgínia– comentou Joana.

Virgínia mexeu os dedos na água e pegou uma toalha para seca–los.

–Nem eu–ela riu– O Antoine, digo, padre Antoine me ensinou os passos e peguei rapidamente.

Joana fez um muxoxo.

–O que foi Joaninha? – perguntou distraidamente Virgínia, se aproximando da janela do quarto para olhar a cachoeira lá fora, que fazia um barulho aconchegante e calmo.

–Nada– respondeu Joana de forma seca, recolhendo a bacia e se dirigindo a porta– você sabe que as pessoas vão comentar né?! Sobre você e Antoine, principalmente porque ele não é um visitante em férias. Ele é o padre senhorita. – E dizendo isso ela saiu do quarto para terminar de lavar as roupas.

Virgínia escutou tudo e chateou–se um pouco, afinal, ela não fizera nada demais. Dançar com o padre? Ela não ia ser presa pelo tribunal da inquisição, ela sabia. E havia sido Antoine que a chamara pra dançar, e ele era o dono da festa. Por fim ela deu de ombros e se afastou da janela para ler as correspondências de Portugal, aproveitando o momento sozinha.

...

Antoine escutou alguém bater na porta de seu quarto. Era um quarto pequeno, com pouca mobília: sua cama, um guarda–roupa de cedro e uma mesinha com papeis e seus utensílios de padre, paredes pintadas de um bege desbotado e com grandes janelas de madeira circuncidavam o quarto.

–Já vou– respondeu ele levantando–se da cama e percebendo que havia exagerado no vinho. Estava com enxaqueca.

Vestiu um grande roupão preto e abriu a porta. Era sua mãe.

–Bom dia meu filho. Já passa das 9 horas e hoje é domingo, dia de missa.

–Benção mãe?– ele recostou–se no batente da porta– Minha cabeça está doendo...Acho que quero vo...

Antoine vomitou nos pés da mãe que lhe deu uma bofetada na cabeça.

– Você bebeu vinho demais Antoine – Disse Aurora irritada– devia se envergonhar, você agora é um padre garoto.

Antoine passou a mão na boca a fim de limpar os resquícios do vômito verde com lasquinhas amarronzadas de sua boca. Levantou–se e fitou a mãe severo:

– Sou padre mãe, não monge!– Respondeu petulante, indo em direção ao banheiro para escovar os dentes e tomar um banho– mande Túlio levar as coisas do quarto para a casa da igreja.

Antoine iria morar na casa do antigo padre Pontes de Vilinha, uma casa acoplada na pequena Igreja de Nossa Senhora da Assunção, de três cômodos, sendo eles uma grande suíte com janelas de vidro colocadas estrategicamente na parte de cima a esquerda da igreja, dando uma visão sobre todo o povoado. Uma cozinha americana pequena e uma salinha, onde o padre poderia fazer um altar e meditar em suas orações.

Ao lado direito da igreja estava a casa de Juliene e seu marido José Ludovico, Antoine arrepiou–se ao pensar em dividir o mesmo espaço que Juliene, e fechou o armário do banheiro que refletia seu rosto pálido pelo estado de seu estômago.

Maria José, a empregada da fazenda de Aurora, havia preparado uma enorme mesa de café da manhã, conforme sua patroa havia requisitado.

Pão de queijo, queijo fresco, leite, café, pamonhas fritas e um chá forte de gengibre para curar a ressaca de Antoine estavam sobre a mesa. Aurora chegou na cozinha, sem o vômito de seu filho em suas pernas, pois ela já havia limpado a sujeira e vestido outra roupa.

Padre AntoineOnde histórias criam vida. Descubra agora