Capítulo 11

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Vilinha continuou com seu curso de normalidades nas semanas seguintes. Moradores varrendo suas casas, carroças passando pelo meio da cidade, domingos de missa, caminhonetes de fazendeiros indo e vindo pelo povoado e levantando poeira. Vez ou outra ouvia-se algum morador praguejar, alguma briga no armazém e crianças descendo do ônibus escolar, após enfrentar 100km para ter um dia cansativo de aula na capital.

A Semana Santa do catolicismo se aproximava e Antoine se adiantava para as devidas celebrações e orações do período. Havia visitado várias casas do povoado e ia seguir para a visita às fazendas na próxima semana, não foi visitar o Armazém de Joaquim para evitar confronto com os Ludovico, afinal, eles tinham acabado de perder um ente querido.

Naquela manhã de segunda-feira, Antoine acordou cedo para começar suas visitas pelas fazendas próximas. Iria de cavalo, sua mãe havia lhe oferecido a caminhonete, mas ele optou pelo cavalo de Túlio, uma belíssima espécie puro-sangue. E ele também queria sentir a nostalgia de cavalgar por aí, livre, como em sua infância.

Após tomar um banho, Antoine tomou seu café puro e vestiu a batina preta perfeitamente costurada. Em seguida, saiu em direção à fazenda de sua mãe para buscar o cavalo.

Atravessando o povoado era cumprimentado por onde passava, Juan o viu e veio correndo em sua direção:

—Padre!—o garotinho gritou.

—Juan? Olá, como vai? Não está quase na hora de se arrumar para ir à escola?

—Estou bem e você padre? Já vou indo, só vim buscar essas folhas para Rosinha—ele levantou uma sacola cheia de folhas, que Antoine não reconheceu— a Sra. Ludovico disse para ela pedir a dona Benta. Sei lá pra que!

Antoine chegou perto da sacola e sentiu um cheiro familiar: boldo.

—Boldo? Para Rosinha?

—É, ela está vomitando igual eu quando comi aqueles peixes cru, o senhor se lembra?

—Sushi. Me lembro. Melhoras para ela!

Juan deu um abraço no padre e saiu correndo para a casa dos Ludovico, atrás da igreja.

Antoine chegou à fazenda Engenho Celeste e viu a mãe sentada na varanda. Foi até lá e lhe deu um abraço.

—Você está bem, mãe? — ele perguntou sorrindo ternamente para ela.

Ela remexeu-se na cadeira em que estava sentada.

—Estou bem, filho. Amanhã Túlio irá me levar para tirar o gesso—ela respondeu triste.

—Eu sei mãe. Mas e quanto ao...aammh...Silva?

—Bem—ela suspirou—ele morreu, filho. Eu passei pouco tempo com ele nos últimos anos, tentei me aproximar depois que seu pai e a mulher dele morreu, mas ele nunca quis falar comigo. E eu entendo.

—Por quê? —Antoine quis saber.

—Outra hora eu te conto, Antoine. Vá! Seu dever te chama—ela tossiu e gritou Túlio.

Logo o homem apareceu, puxando o cavalo já selado. Cumprimentou Antoine com um aceno de cabeça e virou-se para a patroa.

—Posso levar Rosinha amanhã, Aurora?

Aurora levantou uma sobrancelha e olhou para Antoine, que deu de ombros, mas entendeu tudo.

—Ora! Pode—por fim ela respondeu— mas o que a moça quer fazer na capital?

—Nada, eu só vou comprar umas roupas para ela—Túlio pareceu desconcertado.

Um silêncio tomou conta do ar, até que Antoine disse:

Padre AntoineOnde histórias criam vida. Descubra agora