Vilinha continuou com seu curso de normalidades nas semanas seguintes. Moradores varrendo suas casas, carroças passando pelo meio da cidade, domingos de missa, caminhonetes de fazendeiros indo e vindo pelo povoado e levantando poeira. Vez ou outra ouvia-se algum morador praguejar, alguma briga no armazém e crianças descendo do ônibus escolar, após enfrentar 100km para ter um dia cansativo de aula na capital.
A Semana Santa do catolicismo se aproximava e Antoine se adiantava para as devidas celebrações e orações do período. Havia visitado várias casas do povoado e ia seguir para a visita às fazendas na próxima semana, não foi visitar o Armazém de Joaquim para evitar confronto com os Ludovico, afinal, eles tinham acabado de perder um ente querido.
Naquela manhã de segunda-feira, Antoine acordou cedo para começar suas visitas pelas fazendas próximas. Iria de cavalo, sua mãe havia lhe oferecido a caminhonete, mas ele optou pelo cavalo de Túlio, uma belíssima espécie puro-sangue. E ele também queria sentir a nostalgia de cavalgar por aí, livre, como em sua infância.
Após tomar um banho, Antoine tomou seu café puro e vestiu a batina preta perfeitamente costurada. Em seguida, saiu em direção à fazenda de sua mãe para buscar o cavalo.
Atravessando o povoado era cumprimentado por onde passava, Juan o viu e veio correndo em sua direção:
—Padre!—o garotinho gritou.
—Juan? Olá, como vai? Não está quase na hora de se arrumar para ir à escola?
—Estou bem e você padre? Já vou indo, só vim buscar essas folhas para Rosinha—ele levantou uma sacola cheia de folhas, que Antoine não reconheceu— a Sra. Ludovico disse para ela pedir a dona Benta. Sei lá pra que!
Antoine chegou perto da sacola e sentiu um cheiro familiar: boldo.
—Boldo? Para Rosinha?
—É, ela está vomitando igual eu quando comi aqueles peixes cru, o senhor se lembra?
—Sushi. Me lembro. Melhoras para ela!
Juan deu um abraço no padre e saiu correndo para a casa dos Ludovico, atrás da igreja.
Antoine chegou à fazenda Engenho Celeste e viu a mãe sentada na varanda. Foi até lá e lhe deu um abraço.
—Você está bem, mãe? — ele perguntou sorrindo ternamente para ela.
Ela remexeu-se na cadeira em que estava sentada.
—Estou bem, filho. Amanhã Túlio irá me levar para tirar o gesso—ela respondeu triste.
—Eu sei mãe. Mas e quanto ao...aammh...Silva?
—Bem—ela suspirou—ele morreu, filho. Eu passei pouco tempo com ele nos últimos anos, tentei me aproximar depois que seu pai e a mulher dele morreu, mas ele nunca quis falar comigo. E eu entendo.
—Por quê? —Antoine quis saber.
—Outra hora eu te conto, Antoine. Vá! Seu dever te chama—ela tossiu e gritou Túlio.
Logo o homem apareceu, puxando o cavalo já selado. Cumprimentou Antoine com um aceno de cabeça e virou-se para a patroa.
—Posso levar Rosinha amanhã, Aurora?
Aurora levantou uma sobrancelha e olhou para Antoine, que deu de ombros, mas entendeu tudo.
—Ora! Pode—por fim ela respondeu— mas o que a moça quer fazer na capital?
—Nada, eu só vou comprar umas roupas para ela—Túlio pareceu desconcertado.
Um silêncio tomou conta do ar, até que Antoine disse:
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Padre Antoine
RomanceVilinha é um simples povoado de Goiás, após a morte do padre Pontes, um novo padre é destinado para fazer o serviço religioso do local. Este novo padre é Antoine, um antigo morador do povoado e filho de uma das senhoras mais ricas da região. Antoine...