Capítulo 7

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É de costume que em uma missa as pessoas prezem pelo silêncio e ouçam o padre sem muitos acontecimentos, mas a primeira missa de Antoine em Vilinha não foi exatamente um exemplo a ser seguido pela comunidade religiosa. De fato, não houve nenhum infortúnio durante a celebração, mas o pós missa prometia um pouco de confusão e mais olhares tortos para o novo padre da comunidade.

Antoine levantou a hóstia o mais alto possível e creditou um dos olhares mais tênues para ela. Respirou. Ajoelhou-se rapidamente e se levantou. Olhou para a comunidade que permanecia ajoelhada ao som do sino que Juan balançava atrás dele.

Todos se levantaram, ávidos para aquele momento sublime de receber o Corpo e Sangue de Cristo, que ali estava presente. Virgínia na última fila apreciava o silêncio e pensava em sua casa, em Portugal. Joana a observou por um segundo e sussurrou em seu ouvido:

— Você está bem?

Virgínia só assentiu com a cabeça e continuou em silêncio, voltando seu olhar para o altar onde Antoine segurava a hóstia. Ela não iria comungar, não havia porque e ela não sentia vontade de ter a presença espiritual em seu corpo. Virgínia fechou os olhos por alguns minutos enquanto a fila para comunhão se formava no corredor da igreja e pensou no quanto as odiava, sobretudo católicas. Uma dor percorreu seu coração e ela soube que sentia falta de casa, as lágrimas estavam quase escorrendo pelo seu rosto quando ela soltou o ar que nem sabia que estava prendendo.

Antoine retornou ao seu lugar enquanto Juliene e Juan guardavam e organizavam as coisas sobre o altar para que ele desse a benção final. Ele abriu os olhos e levantou-se para findar a missa, e nesse momento avistou Virgínia saindo pela porta de madeira da igreja, com os olhos cheios de lágrimas. Ficou curioso e ao mesmo tempo preocupado com a moça, mas retomou a missa.

Antoine conduziu perfeitamente a missa, sem erros, bem como tinha aprendido perfeitamente em Roma, com o padre Clístenis e outros que foram seus amigos em todos aqueles anos. Ele sabia que a atividade religiosa não era tarefa fácil, e para ele, estava sendo ainda mais difícil, sobretudo, pela presença de Juliene em cada canto que ele ia. Por isso, suas próximas palavras foram proferidas:

—Tenho mais uma coisa a dizer— e todos voltaram a atenção para ele— alguém na comunidade tem interesse, ou pode indicar alguém que tenha, em fazer o curso para Ministro Eucarístico da comunidade?

A comunidade ficou em silêncio e junto a ela Juliene. Atônita e boquiaberta, ela levantou-se de onde estava sentada ao lado de Juan atrás do altar:

— Com todo respeito padre, mas eu sou a Ministra da Eucaristia...

—Sei disso Sra. Ludovico, mas não acho justo que seja só a senhora, então será de bom grado que tenhamos pelo menos mais um ministro. Assim, a senhora pode revezar os domingos e não se cansar.

A comunidade permanecia calada, só alguns murmúrios no meio da igreja e Juliene sabia sobre o que estavam falando. Antoine acabara de deixar bem claro que sua presença atuante na missa não estava sendo do agrado do mesmo, sentia-se humilhada. Ali no meio de todos, Antoine nem sequer havia perguntado nada a ela, e isso era como se alguém tivesse lhe batido na cara.

Suas narinas estavam dilatas, ela iria chorar. Juliene sempre dilatava as narinas quando ia chorar quando criança, então ela nunca tinha perdido essa mania, pensou Antoine. Idiota, ele pensou, você é um idiota Antoine! Não devia ter ter dito nada assim, no meio da missa.

—Eu tenho interesse padre.— disse Joana na última fila de bancos.

Antoine assentiu vagarosamente, acenando para Juliene se sentar. Em seguida informou a Joana:

Padre AntoineOnde histórias criam vida. Descubra agora