Capitulo 1

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30 anos depois..

6h15, terça-feira, 20 de Outubro.

Hoje faz quatro anos que fui encontrada, então consequentemente Helena, que havia cuidado de mim desde então, decidiu que seria meu aniversário. Morei com Helena por dois anos e meio, ela me acolheu quando eu não tinha nada nem ninguém, e mesmo sabendo dos riscos não hesitou em me ajudar, e me dar um lugar que poderia chamar de lar. Quando me encontraram sabia de poucas coisas, meu nome, minha idade e tinha um conhecimento escolar, mas que valia para alguém que viveu na década de 1980, então além de bem estranho, não servia para muita coisa. Fiquei com Helena apenas o tempo para terminar o ensino médio, ela era a única pessoa que poderia chamar de mãe, tínhamos uma boa relação, mas não queria ser um peso em sua vida, então ao me formar, mudei de casa e comecei a pagar minhas contas, apesar de Helena sempre me mandar um dinheiro extra. Agora eu dividia um apartamento mais uma amiga, Rebeca, ela sempre foi minha amiga desde que fui encontrada, fazíamos as mesmas coisas, e ambas tínhamos acabado de começar uma vida nova, Rebeca veio da Argentina com os pais, então éramos duas deslocadas, num lugar que não conhecíamos ninguém.

Quando terminei o ensino médio me esforcei bastante, até conseguir passar em um curso, numa boa faculdade pública, hoje cursava Psicologia. Bem minha rotina é bem simples, eu acordo vou para faculdade, tenho aula até as quatorze horas, e por fim as dezessete vou para o trabalho, sou garçonete em uma lanchonete, não trabalho por extrema necessidade, só que como eu disse, não queria ser um peso na vida de Helena, enfim e essa tem sido minha vida por quase um ano.

E bem como no ano passado, acordo com Rebeca cantando “Parabéns pra você”, ela sempre é cheia das tradições, como o almoço de segunda, sempre nós duas vamos comer em um restaurante de tacos, ou aos domingos atarde ela sempre vai à biblioteca, e isso, de me acorda e eu acordar ela cantando no dia do aniversário.

— Vamos lá acorde, hoje é um lindo dia, especialmente pra você — ela diz no meu ouvido jogando seus cabelos ruivos sobre mim — Ande logo Evanna! Você não pode comemorar seus vinte anos ai na cama, você sabe que vai acabar levantando — briga Rebeca comigo, agora me puxando da cama.

— Ai meu Deus, eu já estou levantando — eu grito — E não vou tirar o rosto do travesseiro até você está fora do quarto, ano passado você tirou uma foto minha, da qual ninguém nunca vai se esquecer, então sai e espere eu pelo menos lavar o rosto!

— Tá legal, que droga, pare de acabar com minhas brincadeiras — ela sai do quarto, batendo a porta com bastante força.

Vou correndo para o banheiro, o ar condicionado deixa o chão muito gelado para ficar em pé sobre ele. Lavo o rosto, penteio o cabelo tentando melhora-lo pelo menos um pouco, não faço muita coisa pra melhorar minha aparência, mas sempre fico beliscando minhas bochechas para ver se ganham mais cor, tenho uma pele pálida demais, cabelos logos ondulado numa cor sem vida que Rebeca insiste em dizer que é ele é único, por ficar entre o castanho e o cinza, com umas partes que chegam a ficar realmente cinzas.

Sei que disse a Rebeca que só iria lavar o rosto, mas sei que ela vai estar lá fora com uma mini comemoração de aniversário com mais algumas pessoas, mas se hoje também fosse apenas mais uma manhã comum, eu não iria ariscar. Acabei por tomar um banho e vestir uma saia azul com uma blusa branca mais um casaco vermelho que levo na mão até lá fora. E como esperado Rebeca está mais seu namorado Lucas, o dono dos olhos mais azuis do mundo com seu cabelo tão escuro quanto piche, e ainda tinha a América tão pequena quanto uma garota de treze anos ela poderia ser minha irmã de tão semelhante que era a mim.

Rebeca deve ter acordado bem cedo para organizar a cozinha, ela sempre me surpreende , tinha vários balões no teto, e um pequeno bolo escrito ‘Ewanna’ com uma velinha de 20 anos.

— Como isso ainda é possível, mesmo depois de quatro anos a confeiteira continua insistindo que meu nome é com ‘w’ Jesus essa mulher é insistente — comentei rindo, correndo para abraçar Rebeca — Você é a melhor amiga do mundo, não sei o que fiz para merecer você, te amo — sussurrei no ouvido dela.

— Mas o que é isso Evanna, você pode contar a todos como é apaixonada por mim — gritou Rebeca, fazendo todos rirem, enfim ela me abraça de volta e quando me solta ainda continua sua piada — Mais tarde meu amor.

— Mais tarde — conclui a brincadeira dando uma piscadela a ela.

Ela não responde, apenas ri então América vem me abraçar e logo depois Lucas, com seu perfume extraordinariamente forte. As manhãs de meu aniversário sempre são alegre assim, só Rebeca para me fazer feliz nesse dia que somente para mim tinha um significado totalmente diferente.

A história é que sempre no meu aniversário, eu tenho o mesmo sonho, nele eu sempre estou perdida, peço ajuda a uma mulher logo após alguém me persegue e depois me mata, estou morta e então eu vejo um anel verde. Pronto. O sonho acaba, e eu acordo. E isso se repete por todos os anos, o que ninguém sabe é que ele além de um sonho é também uma lembrança. Eu sei é loucura, mas a primeira coisa que me veio à cabeça quando fui encontrada foi essa lembrança, e era como se ela tivesse acabado de acontecer. Por isso eu tremia quando acordei há quatro anos, porque eu tinha medo, a única pessoa que ouviu essa história foi minha psiquiatra na época, mas ela apenas me disse que devia ser um sonho, que era normal.

Quando todos terminaram de comer eu me despedi deles, iria andando até a faculdade, América ainda me oferece uma corona, mas eu queria olhar o céu hoje, e como meu turno hoje na lanchonete era apenas às dezenove horas eu teria tempo para passar em uns lugares após a aula. Visto meu casaco e desço pelas escadas, o elevador do prédio nunca funciona, comprimento o porteiro, Sr. Almeida, que se lembra de meu aniversário, aposto que foi Rebeca, e saio do edifício.

Meu plano de olhar o céu não estava dando muito certo, hoje o dia estava nublado ou mais que isso parecia que ia chover o dia todo ‘que beleza’ eu pensei. Odeio eternamente chuvas, o sol é algo bem mais bonito e alegre. Teria sorte se não chovesse até chegar à faculdade. Vou admirando toda a paisagem ao meu redor, morávamos em uma vizinhança familiar tinha praças e crianças para todos os ladose adorava morar aqui, sempre ouvindo a rizada de crianças.

Quando entro na sala de aula começa chover, pelo menos hoje eu tive sorte. Minha primeira aula era com um professor substituo, um velhinho o Sr. Jorge, ele era pai de América, o nosso professor de costume estava doente ou algo assim. Enfim me sento próximo à porta e pego meu livro. Ao abri-lo um pequeno recorte de uma folha cai rumo ao chão, mas antes que isso aconteça alguém o pega.

Tiro os olhos do chão e acabo me encontrando com grandes olhos verdes, que ficam me encarando. O dono desses olhos, definitivamente era um novato, ou até então nunca teria me encontrado com ele.

— Acho que isso é seu — Ele me entrega o papel, ao fazer isso sua mão desliza sobre a minha, quando o faz, seu toque me provoca uma forte dor na cabeça. Por um instante gemo de dor com os olhos fechados, de repente vejo uma menina de cabelos pretos e sei que o nome dela é Alice, e então passa, a imagem some e a dor para como se não tivesse existido.

— Me desculpe — eu digo enquanto ele continua a me observar, mas agora parece curioso. Mas não me pergunta nada, apenas sorri e vira para o quadro.

Voltando minha atenção ao papel, abro-o. Quando o observo, vejo que existe uma pequena mensagem escrita a lápis nele.

Eu sei seu segrego e, aliás, feliz aniversário”.

TornadaOnde histórias criam vida. Descubra agora