Sam

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Depois de receber mais uma semana de salário do The Wreck, já tinha o suficiente para comprar as tintas e foi com esse pensamento que saí para única loja de materiais que tinha na ilha. Não gastaria mais do que o necessário para pintar a casa, encomendar tintas do continente era um gasto para o qual meu bolso e minha vontade não tinham se rendido. Sem contar que com tinta branca e os pigmentos nas quantidades certas, teria o verde caribe que queria.
Peguei a bicicleta e fui direto para loja, comprei as tintas, pinceis e se pudesse teria comprado um pouco de habilidade para pintura também, não estava disponível e meu dinheiro estava se acabando rapidamente. Segui pelo caminho mais afastado da costa, odiava ainda mais o barulho ensurdecedor das ondas aquele horário, sentia meu coração bater tão forte que ocasionalmente me preocupava com ataques cardíacos. Respirava fundo, contava até me acalmar e seguia, era só mais um ataque de pânico.

O caminho pela rodovia era maior e me fazia chegar suada, na ilha estava sempre calor e para evitar gastos meu meio de locomoção escolhido foi a bicicleta que ganhei numa disputa de dardos

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O caminho pela rodovia era maior e me fazia chegar suada, na ilha estava sempre calor e para evitar gastos meu meio de locomoção escolhido foi a bicicleta que ganhei numa disputa de dardos. A bicicleta é uma maravilha o ex-dono concorda em absoluto com a afirmativa já que tentou inúmeras vezes recuperá-la o que me leva a contar que agora também ando com um taco de baseball para me defender. A polícia não liga muito para o que acontece com os pogues e aparentemente faço parte dessa classificação na ilha. Não que de alguma forma fosse querer ser da outra; kooks. É quase uma ofensa se pensar direito, são os mais ricos, os que dão as menores gorjetas - às vezes nem dão -  os mais idiotas, ambiciosos; não que ter ambição seja ruim, mas os kooks se veem como Deuses e tratam os que não são como escória.
Vez ou outra quando surge a oportunidade de mostrar que não são como se veem, eu aproveito, foi assim com a disputa de dardos em que ganhei a bicicleta de Rafe Cameron, foi assim que consegui roubar o combustível da lancha dele enquanto se exibia, assim que esvaziei o pneu da moto dele e o deixei sozinho na trilha, me xingando e gritando por ajuda. A ilha era pequena demais, todos os dias via os mesmos rostos, aguentava as mesmas provocações de Rafe e sua turma de idiotas, todos os dias ficava com o trabalho da Kiara e agradecia porque era mais dinheiro que entrava. Todos os dias levava as sobras do restaurante para casa e como era sempre muita comida, saia para distribuir aos cachorros que ficavam na rua.
Um dia, depois de discutir pela milésima vez com Cameron por sei lá qual recente idiotice, meus chefes me suspenderam. Eles são boas pessoas, mas precisavam de alguma forma repreender a pogue, do contrário ficariam em má posição com uma das famílias mais poderosas da ilha. Foi antes do almoço, então não levaria comida e ainda teria que ir ao sol tinindo para casa, meu dia só piorava.
- Ao inferno os Cameron! - gritei ao chutar o descanso da moto de Rafe e ver ela cair.
Corri para pegar a bicicleta e joguei as chaves da moto o mais longe que consegui, quando Rafe chegou eu já estava longe mostrando-lhe o dedo do meio e oferecendo-o meu pensamento mais violento.

Bufei o caminho todo para casa, a suspensão causaria um rombo no meu bolso já quase vazio, ao menos teria tempo para me dedicar a casa o pensamento me alegrou, me fezendo pedalar ainda mais rápido

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Bufei o caminho todo para casa, a suspensão causaria um rombo no meu bolso já quase vazio, ao menos teria tempo para me dedicar a casa o pensamento me alegrou, me fezendo pedalar ainda mais rápido. Cheguei à porta com o suor cobrindo meu uniforme, o cabelo desgrenhado grudado no meu rosto e sede, muita sede. Olhei para os lados procurando, não sabia bem o que procurava, mas virou hábito me certificar de estar só antes de entrar em casa ninguém tinha conhecimento de que era eu quem morava ali.
Já havia reformado a cozinha, era amarela com azulejos de girassóis, o piso branco, a janela era ampla e permitia que o sol do entardecer deixasse ela ainda mais clara. Os armários eu tinha recuperado do lixo de algum kooks - ainda bem que eles estavam sempre reformando para manter as mansões em dia com a última moda casa - armários em madeira espaçosos e que serviam muito bem, o fogão, a geladeira, o micro-ondas, meia dúzia de cadeiras que não combinavam entre si e uma mesa do que achei ser uma imitação bem convincente de granito, uma poltrona gasta que era meu móvel favorito já que era onde passava a maior parte do meu tempo quando estava em casa. Estantes arranhadas e com aspecto enferrujado davam o ar que toda ilha tinha, meio suja. Nelas eu havia colocado os livros favoritos de Dan também nossas pequenas lembranças. Um porta-retrato com a única foto que tinha dele, o tanto que havíamos compartilhado, o quanto tínhamos vivido e uma única foto era o que eu tinha.
Engoli a água como se ela tivesse espinhos, arranquei o uniforme, peguei minha roupa manchada de tinta, passei um lenço sobre os cabelos e preparei a tinta. Estar envolvida em qualquer coisa sempre me tirava do poço que eu mesma me atirava a pensar em Dan. Comecei com os rodapés, passando a fita para diminuir os estragos que minha não habilidade com pintura faria, peguei o baldinho com tinta e subi a escada, passei o rolo na borda para retirar o excesso, apliquei na parede a cor ficou do jeito que queria, soltei a respiração em alívio.

Coloquei os fones de ouvido dei play em Meu Novo Mundo do CBJ

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Coloquei os fones de ouvido dei play em Meu Novo Mundo do CBJ. Cantarolando a canção que me transportava para os momentos mais felizes em que passei com Dan, passei a primeira demão de tinta e parei para comer.
Peguei uma macarronada que trouxe ontem, ou talvez tenha sido na semana passada, esquentei no micro-ondas e comi, não havia desperdício na minha casa.
Lavei o prato do meu almojanta, já era noite, como minha suspensão não tinha um prazo resolvi ignorar o cansaço crescente, não costumava ter boas noites de sono, continuar com a pintura era minha melhor opção. Recoloquei os fones, subi para escada de metal afim de concluir a última demão, levei o pincel a parede, depois disso tudo não passou de um borrão, um borrão que acaba com olhos azuis e cabelos loiros.

 Recoloquei os fones, subi para escada de metal afim de concluir a última demão, levei o pincel a parede, depois disso tudo não passou de um borrão, um borrão que acaba com olhos azuis e cabelos loiros

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