JJ

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Era bom estar em casa, eu me sentia mais em casa com Samie ao meu lado do que em qualquer outro lugar. Ela já estava dormindo há algum tempo, dizer que estava ansioso para voltar para encontrar com seu sorriso raro e suas palavras ácidas era um eufemismo, quis voltar no instante em que sai. Meus amigos contavam comigo, mesmo não me julgando digno, Samie ainda me recebeu... Puta merda ela enfrentou os kooks com um taco, partiu pra cima deles com tudo, ela era um furacão que chegava sem aviso, uma sobrevivente. E cuidou de mim.
Olhar para garota agarrada ao meu peito como se eu fosse uma tabua de salvação fazia de mim ainda pior. Mas ter seu cheiro me rodeando, saber que é meu calor que a mantém aquecida durante a noite em que ela se diminui tanto a ponto de não ser mais do que um montinho fofo e frágil, faz meu coração bater mais forte, com algo desconhecido e tão bom que eu já estava viciado. Não dormi nenhuma vez na cama, tentei, mas quando a vi se recolher em si mesma como se tudo em volta a machucasse meu único pensamento foi o de protegê-la. Escorreguei para seu lado não queria assustá-la.
– Samie acorde. É só um pesadelo. – chamei ela não se mexeu em seu rosto havia uma careta de medo ou dor, talvez ambos. – Estou aqui, está tudo bem. Vai ficar tudo bem. – falei tão perto de seu ouvido que o cheiro do seu cabelo se agarrou a mim como uma segunda pele, ela se soltou o suficiente para deitar sobre meu peito passar o braço com tanta força que me questionei a origem da força que a pequena tinha.
– Obri... – ela tentou e não saiu.
Desde então tenho dormido ao seu lado, protegendo-a do que quer que a assuste, levanto antes que ela perceba. Agora eu tenho algo mais real para me preocupar. Cameron, ele a estava perseguindo, a menor das ideias de que ele estivesse ameaçando-a já me deixava com tanta raiva que desejei não ter mais acesso a arma, certamente eu faria alguma merda.
– Bom dia, dormiu bem? – sua voz estava rouca, os olhos pequenos, o cabelo bagunçado, mas ainda podia afirmar que ela era a coisa mais linda que já vi.
Fingi me espreguiçar e levantei, tínhamos que trabalhar em alguns minutos.
– Bom dia, como um anjo, farei o café então podemos ir. – algo como raiva cruzou seu olhar, ela se pôs de pé, bufando.
– Não vai mesmo parar com isso? – perguntou puxando a coberta e dobrando aos socos, como se ela pudesse ser eu. Segurei o riso, não acho que provocar uma mulher antes que ela tenha tomado café seja muito seguro.
– Preciso trabalhar também. Café. – avisei dando-lhe as costas indo para cozinha, antes de alcançar a porta uma almofada me acertou na nuca.
– Sorte sua não ser algo mais pesado e quando é que você vai para escola? – caminhei de volta aos pés da cama e coloquei a almofada sobre ela.
– Depois do trabalho, na verdade tenho prova hoje. – ela balançou a cabeça fechando os olhos com força, prendi a respiração se ela soubesse, se eu ao menos conseguisse nomear o que aquilo me causava.
– Desisto. – ela jogou as palmas para o alto passando por mim indo para o banheiro.
Ela parecia irritada quando saímos de casa, a mochila com o uniforme do restaurante estava nas costas e quando ela encarou minha camiseta com a logo do The Wreck revirou os olhos empurrando a bicicleta pelo caminho. A alcancei pouco antes dela se lançar pela descida.
– Levo nós dois. – como se tivesse mesmo decidido não brigar, ela só escorregou para garupa acenando para o guidão, sorri, não houve resposta de sua parte.
Chegamos ao restaurante, ela apenas saltou seguindo para entrada, guardei a bicicleta e corri para alcançá-la, arrumei o boné para esconder as marcas da noite anterior, passei por Marck que me olhou desconfiado.

– Samie? – ela quase me matou com os olhos. – Samantha. Ok! – ela estreitou os olhos. – Vai ficar sem falar comigo até quando? – não podia ser muito, certo?
– Até ser obrigada, tenha um bom trabalho Maybank. – ela estava irritada, muito.
Marck me passou os primeiros afazeres, fui para camionete, busquei as compras do restaurante, os olhos dourados me alcançaram quando retornei para encerrar meu turno.
Ela tentou disfarçar, mas soube assim que cheguei e entreguei à chave no balcão, Kie já saia para irmos à escola, vi no canto afastado do salão, Cameron e mais alguns estavam sentados rindo, minha raiva ferveu me lancei em direção a mesa deles.
– Não! – Samie falou ao surgir à minha frente, ela colocou a mão em meu peito me forçando a parar, olhei para o rosto dela. Será que ela sabia o quão perto de matar eu estava? – Vem. – não era um pedido ela só pegou meu braço me puxando para longe.
A atenção dos kooks estava em nós, precisamente os olhos de Cameron estavam na bunda dela, se não fosse por ela se colocar entre nós. Se não fosse por ter o mínimo de decência e respeitar seu trabalho, podia tranquilamente decidir que arrancar os olhos dele para nunca mais olhar para ela daquela forma era uma ótima forma de terminar um dia.
– Do que precisa? – sua voz agora era firme, decidida, ela havia nos levado para a dispensa de louças e trancado a porta. – Vai me dizer o que ia fazer? Porque lembro bem de pedir que não se envolvesse.
Tirei o boné, alisando o cabelo, a raiva ainda dominando meus sentidos.

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