No dia seguinte a primeira noite de JJ em casa eu já me sentia melhor, poderia atribuir ao fato de ter um cuidador muito dedicado ou a simples companhia dele. Ele estava sempre interessado em qualquer coisa que eu falasse, fazia piadas a todo instante, deixava o ar mais leve e eu quase podia esquecer minhas dores mais profundas. Três dias após o acidente JJ ainda me observava com atenção tentando me fazer comer a todo instante, ele tinha verdadeiro dom na cozinha, preparou biscoitos com um ingrediente que possuía propriedades medicinais. Foi a maior viagem que já tive, depois de ter atado uma rede nas árvores na frente da casa, nós sentamos para apreciar a chegada da noite, uma lua enorme subiu ao céu banhando o horizonte escondi as mãos trêmulas ao ver o reflexo prateado na baia abaixo.

– Sam? – JJ chamou tocando meu ombro, virei o rosto algum tempo depois, pisquei lentamente tentando afastar o medo que rastejava em minha direção. – Preciso sair para resolver umas coisas, não sei quando volto. – não pude evitar a surpresa, o choque, abri a boca e nada saiu. – Mas eu volto, o mais rápido que puder.
– Não promete algo sim, JJ. – meu coração doía a cada batida havia me acostumado rápido demais a presença barulhenta e vibrante dele, um erro.
Ele se abaixou nos joelhos pegando minha mão, estava com o boné virado para trás deixando o rosto completamente a mostra, os olhos azuis reluzindo sob a luz do luar, engoli seco com a mistura de sentimentos o ingrediente mágico pensei imediatamente.
Porque nada justificaria meu apego rápido a alguém que eu mal conhecia. Talvez fosse minha carência de seres humanos, já havia se passado um ano e o relacionamento mais profundo que tivera foi da minha mão na cara de Rafe por mais de uma dúzia de vezes e ali estava eu, desesperada porque ficaria sozinha.
– Não me deve nada JJ, fez mais por mim em alguns dias do que qualquer um em muito tempo. Tem sua vida, seus amigos, ficarei bem, vou sobreviver. – forcei um sorriso torcendo que fosse convincente.
– Samie... – apertei involuntariamente os dedos sob sua mão, ele mordeu o lábio inferior fazendo o sorriso de satisfação que aprendi a apreciar. – Se quer pensar assim você ainda me deve, então. Terminei de pintar a sala e a varanda, limpei a garagem, quintal e o jardim. – assenti a cada coisa que ele pontuou. – Ainda preciso de um lugar para dormir. – assenti mais uma vez, havíamos feito um acordo e ele estava cumprindo sua parte com excelência. – E... – revirei os olhos ele segurou meu queixo tive que encarar a lua refletida nos seu lindos olhos azuis, talvez eu não odiasse mais a cor, talvez ela voltasse a fazer parte das minhas favoritas porque era o azul dos olhos dele que me acalmavam naquele instante. – Me preocupo com você. – fechei os olhos com força balançando a cabeça em negativa, quando abri ele já estava se colocando de pé, um beijo em minha testa e com um sorriso grande, ele partiu.
Correu pela trilha descendo para cidade, logo sumiu atrás das arvores, fiquei algumas horas na rede até que a lua estivesse em seu ponto mais alto então me arrastei para casa.Foi estranho fechar a porta, sentir o vazio que ele deixava, meu atestado médico havia expirado,voltaria a trabalhar, enfiei o uniforme na mochila e pedalei para o restaurante. Depois de garantir que estava bem aos meus colegas e chefes no trabalho, iniciei minhas tarefas. Kie também não estava por perto certeza de que ela, JJ, e o grupo estavam em alguma confusão eles eram meio que o radar para todos os tipos de problemas. Não que eu também não tivesse meu próprio radar para confusões e ele atendia por Rafe Cameron que acabava de entrar no restaurante. Imediatamente fui realocada para cozinha algo sobre meus patrões não terem que me suspender novamente se eu cedesse a mais uma provocação, eu cederia.
Conclui o turno na cozinha porque o idiota havia feito plantão no salão esperando que eu caísse em suas merdas, foi assim por dois dias seguidos; eu chegava no restaurante, vestia o uniforme ia para as mesas Rafe e seu grupinho chegava, Mike ou Anna conseguiam intervir a tempo de que os insultos dos kooks me afetassem de forma a reagir com violência. Estava cansada de ter que me esconder, precisava do dinheiro e do trabalho, mas tinha momentos que tudo o que queria era jogar o ensopado quente no colo dele ou só bater em sua cabeça com a bandeja.
Cinco dias desde que JJ tinha ido, sabia Deus para onde. Perguntar aos pais de Kie era o mesmo que dar em nada, ela nunca contava nada a eles, não queria reconhecer, mas a preocupação crescente já estava me afetando.
Encerrando mais um dia no restaurante um exaustivo que me fizera ir tarde demais para casa, precisei descer mais de uma vez da bicicleta por não aguentar pedalar, só na parte íngreme da trilha para casa parei de empurrar para então ser levada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Encrenqueiro
FanfictionEsta Fanfic contém personagens e referências da série Outer Banks, porém não utiliza o mesmo arco temporal, sendo alternativo aos acontecimentos nela apresentados. ALERTA: Uso explicito de drogas (lícitas e ilícitas), Linguagem imprópria. GATILHOS...