Cap 28

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Keneti Apa

Passei a noite toda revirando as páginas daquele caderno macabro procurando alguma ligação ou pista de onde Jason vive, mas cada minuto só torturou mais minha cabeça. A campainha disparou a tocar, olhei no relógio e ele marcava quatro horas. Não estava esperando ninguém...

Tirei o óculos e espiei pela janela, mas não vi ninguém. A campainha tocou novamente. Peguei uma faca na cozinha e escondi atrás de mim, em seguida abri a porta.

- Bu! - gritou e entrou na minha frente, quase cravei a faca em seu corpo, mas parei quando vi que era Ryan.

- Vai se foder, Ryan! - falei e ele me abraçou.

- Isso é jeito de receber seu amigo?

- Você sabe o que se passa e vem em casa as quatro da manhã. É pedir pra morrer, mano! - ele entrou e fechei a porta em seguida. Mesmo pelo susto, estava feliz por vê-lo. Ryan mora em outra cidade, quase nunca nos vemos, ele vem quando pode.

- Desculpa, cara. Só pude pegar estrada tarde. - ele foi até a cozinha e pegou uma garrafa de água na geladeira.

- Porra, você demorou.

- Aquela merda de serviço me irrita. Aquele velho fedido que é meu patrão adora pegar no meu pé. - ele encostou no balcão e bebeu um gole d'água.

- Vai ver que é porque você é um pé no saco.

- Me conta as novidades.

Estava prestes a contar meu progresso - ou não - e um frio percorreu minha espinha.

- Jason está aqui... - falei baixo.

Ele arregalou os olhos. - Como você sabe?

-Eu senti.

- É frio cara, você está sem camisa e de calça moletom! - ele riu mas permaneci sério me concentrando em ouvir o que acontecia lá fora.

- Porra, me caguei todo. - ele disse baixo.

Corri na sala e peguei o caderno, caso Jason estivesse atrás dele, mas logo a sensação do meu irmão estar me observando passou. Digamos que eu e Jason temos uma conexão incrível desde pequenos, eu penso como ele, por isso quase sempre consigo estar no lugar que ele está e quando ele está por perto consigo sentir.

- O que é isso na sua mão? - indagou Ryan curioso. Entreguei a ele o caderno.

- O caderno da morte de Jason. - peguei um cigarro e o acendi levando a boca.

-Que macabro. Onde conseguiu?

Dei uma tragada no cigarro e soltei devagar pelo nariz.

- Camila trouxe. - senti uma dor no peito ao falar seu nome, mas fiz esse sentimento sumir com outro trago no cigarro.

- Camila? Hmmmm safado. - ele fez cara maliciosa e começou a folhear o caderno. - Então mais gente sabe sobre o seu irmão?

- Ela praticamente descobriu sozinha.

- Então ela deve ficar bastante tempo com você.

- Ela é só minha amiga. - falei receoso.

- Amiga? Keneti James não tem amigas. - riu.

Sentei no sofá e esfreguei a cabeça, tentar não pensar ou falar dela é quase impossível.

- Okay, ela é uma amiga diferenciada. - coloquei o cigarro no cinzeiro.

- Já transaram? - ele se sentou no sofá do meu lado. - Ah não, mano... você está apaixonadinho! Dei uma almofadada na cabeça dele e ele tentou se defender rindo.

- Você acha que eu tenho o que? Dez anos?

- Você está vermelho, KJ! Tá apaixonadinho pela menina! - gargalhou.

-Para, Ryan. - disse sério e ele parou de rir.

- Para de ser cabeça dura. Me conta o que está havendo.

- Se apaixonar não é bom. Não pra mim que tenho!tanta coisa pra resolver. Gosto dela o suficiente para querer que ela não se envolva nos meus problemas e acabe maluca como eu.

-Mas se ela quer, você não deve impedir.

- Ah, devo sim. Ela tem tudo pra um futuro espetacular e eu não tenho nada pra oferecer pra ela. Se ela ficar comigo pode sair machucada. Jason está atrás dela desde que a conheci. - coloquei os pés na mesa de centro e respirei fundo.

- Você é ricasso e inteligentíssimo! Claro que tem pra oferecer.

-Eu não sou rico, meus pais são.

-Você sempre tão cabeça dura... - ele bufou.

- Isso que você não viu a de baixo... - brinquei e olhei para ele de canto de olho, seu rosto formou uma careta.

- E EU NEM QUERO VER ZAYN!

- Cadê sua mala, viado? - perguntei.

- Tá no carro, mas não vou lá fora agora nem a pau.

-Cagão.

- Lógico mano, o cara é um assassino louco.

- Sabe o que é pior? Ele era assim desde pequeno e ninguém fez nada. Pra minha mãe era só coisa de criança. - disse lembrando dos momentos em que já fui torturado por Jaxon.

- Mas ela levou ele para psiquiatras, não levou? - perguntou.

- Ela obrigou Jason a ir duas vezes, mas era tarde demais. Ele fingiu estar completamente bem.

- Li num artigo que psicopatas fingem muito bem. Se precisarem até choram. - Ryan arqueou as sobrancelhas.

- Sim... quantas vezes já cai na dele... - bufei.

- Lembro como se fosse hoje o dia em que ele trancou a gente naquele buraco que tinha no jardim da minha casa e jogou baratas na gente... - meus olhos lacrimejaram e eu os fechei para impedir as lágrimas de cairem. Essas lembranças realmente me assombravam.

- E ainda minha mãe achou que eu era o maluco...

- Cara, sua vida e muito louca.

- É... você acha mesmo que posso me apaixonar? - encarei eles com as sobrancelhas arqueadas.

- Acho... você merece felicidade.

- Mulher não traz felicidade. - dei de ombros.

- Nem todas as mulheres são como a Clara, KJ.

- Não importa. Prefiro coisas rápidas, onde ela não se mete na minha vida e eu não me meto na vida dela.

- Você é vazio, cara. Não existe coisa melhor do que alguém que você pode dividir sua vida. – ele riu.

- Keneti, você tá meio boiola.

- To tendo muito pensamento de velho, melhor eu aposentar. - rimos. Mas bom, o que ele disse não sairia da minha cabeça tão fácil...

.....

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