Camila Mendes
3 dias depois
O médico finalmente me deu alta. Ele disse que eu me recuperei mais rápido do que ele pensava. Imagino que o que me ajudou a melhorar foi todo o apoio que eu recebi enquanto estava no hospital. Principalmente de Keneti, que não saía de perto de mim e me acudia quando tinha um pesadelo. As coisas não andam tão fácil, o medo que senti está presente em mim a cada segundo que passa. Qualquer barulho faz com que meu corpo estremeça por achar que Jason ou Clara estão por perto. Por mais que eu tenho todo o apoio do mundo, eu ainda me sinto em perigo.
Guardei algumas coisas que estava no quarto do hospital numa bolsa e KJ entrou pela porta. Ele me parecia contente.
- Oi, vamos?
O encarei por alguns segundos e suspirei. Estava louca pra sair logo daquele hospital.
- Eu já queria estar no carro. - falei andando em direção a ele. Mas não o abracei, ou o beijei, por mais que eu o ame, aqueles dias presa com Jason me fez pensar muito. E eu não quero passar o resto da minha vida correndo atrás de alguém que tenha medo de se entregar pra mim. Eu entendo o que ele passou, mas não vale a pena eu tentar muda-lo... quer dizer, eu já tentei e muito, mas como isso não vai pra frente eu prometi a mim mesma deixar acontecer e parar de me humilhar. Ele pode me amar o quanto for, eu não vou mais correr atrás enquanto ele não fizer nenhum esforço. Se ele vier, bem. Se não, eu também não irei.
Andamos pelo corredor do hospital pequeno um ao lado do outro, me despedi de algumas enfermeiras e saímos em direção ao carro. KJ abriu a porta do passageiro pra mim e entrei, depois ele foi para frente do volante.
- Você está com fome? Quer que eu te leve pra comer algo? - perguntou dando partida no carro.
- Não, Keneti. Estou bem. Só preciso ir pra casa e finalmente me jogar na minha cama. - eu senti saudades do conforto que tinha, minhas costas ainda doía por conta das noites dormidas no chão frio.
Em silêncio, observei cada casa que passávamos no caminho da casa da minha avó. Nada parece mudar, desde que cheguei. O céu acizentado, as casas velhas com as tintas descascando, as poucas pessoas na rua... Não sei como o pessoal reagiu com a prisão de Jason. Aposto que ficaram (ou deviam ficar) todos se sentindo culpados por terem julgado KJ. Acho bem feito, o sentimento da culpa é péssimo, julgar alguém errado é pior ainda. Nunca desejei mal de ninguém, mas agora, para os moradores daqui, só queria que eles deitassem a cabeça no travesseiro e soubessem o quão mal fizeram para alguém.
-Tudo bem, Camila?
Olhei para ele rápido e pensei na resposta correta. Acho que nunca me senti bem.
- Tudo ótimo.- sorri.
KJ parou na frente da casa da minha vó e não desligou o motor do carro. Agradeci e desci do carro.
- Quer entrar? - indaguei. Juro que eu não estava toda me remoendo na esperança de que ele entrasse, meus sentimentos estavam neutros, sem implorar para estar perto de Apa.
- Não. Quem sabe outra hora passo aí... - sorriu fraco. Pude notar que ele não estava bem e que suas frustrações de antigamente não passaram. Deve haver algo que ainda o incomoda. - Deixei uma coisa na sua cama. Depois me diz o que achou.
-A... - abri a boca para dizer algo mas KJesticou o braço, fechou a porta e saiu rapidamente.
Entrei em casa rápido ansiosa para saber o que era. Minha vó me parou na sala e me abraçou por alguns minutos.
- Aposto que está cansada... vou fazer um chá pra você.
-Que isso vó... não precisa!
- Precisa. O médico disse que você precisa de muito chá. Não discuti e deixei ela ir fazer o chá. Penélope estava mexendo em um notebook.
- Camila... - ela chamou antes de eu subir as escadas. - Depois eu preciso conversar com você.
Concordei com a cabeça e corri pro andar de cima. A ansiedade de ver o que KJ me deu era maior do que a de ouvir o que Penélope precisava falar. Entrei no meu quarto e avistei um celular em cima da minha cama. Um bem mais moderno.
Me sentei na cama com um baita sorriso no rosto e liguei o celular afim de configura-lo, mas ele já até tinha os aplicativos. E nas notificações havia uma mensagem no whatsapp. Abri e vi uma foto linda de Kage, onde ele está de lado segurando o capuz da blusa de frio cinza. Fiquei encarando por alguns segundos lembrando de tudo que já passei com ele e em como ele é lindo e depois li a mensagem.
Lindo: tomei a liberdade de salvar meu contato como lindo.
Lindo: Porque eu tenho certeza de que você me acha muito lindo.
Lindo: E se você mudar vou ficar muito bravo GRR
Você: De maneira alguma eu quero elevar o seu ego.
Você: Mas você realmente é muito lindo rs
Me levantei e deixei o celular em cima da cama. Fiquei em frente ao espelho e não me senti contente com o que vi. Eu não estava como no dia em que fui para a festa do colégio. Minhas bochechas não estavam mais rosadas, meu rosto mais magro do que antes e meu corpo também. Emagreci dois quilos e não me sinto orgulhosa disso, pois parece que emagreci mais. Puxei um lençol da gaveta e cobri meu espelho, assim como fazia quando meus pais eram vivos. Só que antes, meu desagrado era com o excesso de peso.
- Porque você cobriu o espelho, minha filha? - perguntou minha vó me entregando uma xícara de chá.
- Coisa boba. - segurei a xícara.
- Chama seu amigo para jantar aqui em casa. Vou fazer algo muito gostoso para comermos.
- Que amigo?
- Aquele de cabelos vermelhos ou ruivos, não me recordo... Os braços cheios de tatuagem... Ele me parece um marginal, às vezes, mas fez muito por você. Até te trouxe um celular...
- Aaa, o KJ...
- Isso... Ape eu acho.
Ri.
- Apa. - corrigi.
- O convide. Ou eu mesmo vou convidar. E beba o chá. - disse e virou as costas.
....
(5/6)
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Nightfall- Kjmila
RomansaADAPTAÇÃO! Depois da morte de seus pais, Camila teve que morar com sua avó numa cidade pequena onde o sol se esconde. Lá, Camila vê que não só o sol, mas também os moradores têm motivos de se esconder... o psicopata que ronda a noite pela cidade é r...