PRÓLOGO

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Gol. O jovenzinho estava brilhando com a bola nos pés. Depois do almoço havia se juntado aos seus amigos, juntaram quatro lajotas e fizeram as bases do que seria um gol, imaginário, mas estava lá. As traves eram pequenas, afinal ninguém queria ser goleiro. A rua não era larga o suficiente para caber todos, por isso formaram três times de três, era o único jeito de formar times iguais. Após algumas vitórias ininterruptas a fadiga te pega e as pernas falham. Ficaram de lado após perderem a última, descansando na calçada. Eram três horas quando uma senhora sai de dentro de uma das casas próximas ao jogo.

- Valtinho vem para casa que já está tarde.

- Já vou mãe, só quero jogar mais uma.

- Não demora muito que logo a gente vai se aprontar para ir na igreja.

- Tá.

Ela entrou, assim que ela entrou ele logo comenta:

- Que velha chata, vive pegando no meu pé.

- Normal, minha mãe também é assim - respondeu um dos colegas do seu time que estava descansando com ele.

- Minha também. Agora fala para gente, você disse que ontem você ficou com a Renata. É sério?

- É sim a gente se encontrou, conversamos um pouco e pronto, estávamos nos beijando.

- Aê Valter, garanhão, pegando a menina mais bonita do bairro.

- E o pai dela, não falou nada, afinal ele não gosta que nenhum menino sequer fale com ela.

- É claro que ele não sabe mané, se ele souber ele acaba com a minha raça. Por enquanto é escondido.

- Sei não Valter, sabe o Diego, ouvi falar que ele também namorava escondido a Renata e quando o pai dela descobriu, bateu tanto nele que hoje quando ele a vê passando num lado da rua, passa para o outro lado de tanto medo.

- O cara sempre foi covarde, e mané, é claro que isso nunca vai acontecer comigo.

Voltaram a jogar, e a ganhar. Novamente a mulher sai da casa e chama por ele novamente:

- Valter, entra em casa agora.

- Espera mãe, eu estou ganhando, daqui a pouco eu entro.

- Entra agora ou eu chamo seu pai.

Ele ignorou o aviso da mãe. Ela entra para casa toda enfezada. Ele apenas pensa consigo: "Velha chata, espero que eu nunca fique chato assim quando ficar velho".

Alguns minutos depois sai um homem, corpulento e de bigode, com uma cinta na mão.

- Valter, entra agora em casa que vamos conversar.

Todos os guris começaram a correr, até mesmo o jovenzinho. O senhor vendo iniciar fuga logo grita:

- Se correr vai ser pior.

Conhecendo como era seu pai, percebeu o problema é como dizem - se correr o bicho pega se ficar o bicho come. Só lhe restava enfrentar como homem. Resignado e a paços curtos foi em direção ao homem, temendo pelo pior. Passou por ele, que o olhava de forma tirânica. Ao entrar para dentro do portão, a primeira cintada veio sem aviso.

- Ai, ai, ai - gritava o jovem.

O homem enquanto lhe descia o cinto no couro gritava:

- Pensasse nisso quando desobedeceu sua mãe, seu moleque travesso.

Apanhando e chorando entrou pensando que nunca seria igual aos seus velhos, que deixaria seus filhos e netos fazerem o que quiserem.

"É ruim de eu ficar assim que nem meu pai" - pensou o jovem enquanto besuntava os ferimentos das cintadas que o pai lhe deu.

Para completar a sua sina, o pai da menina descobriu o casinho que estava tendo. E naquela mesma semana apanhou como nunca apanhou na vida, de olho roxo e todo marcado; virou a piada do bairro. Seu pai lhe deu sermão, dizendo que mexer com certas mulheres dava confusão. Sua mãe cuidava das feridas, e lhe atormentava a cabeça com conselhos que se repetiam como uma vitrola quebrada. E a menina, hoje não quer vê-la nem pintada de ouro, com isso ele aprendeu sua lição.

Um velho AntiquadoOnde histórias criam vida. Descubra agora