Capítulo III

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Acordaram cedo, como sempre o velho se levantou e acordou o jovem, que novamente demorou a despertar por completo do sono. Estava com as roupas novas, pronto para sujá-las; comeram e saíram. Foram fazer as mesmas atividades de ontem, desta vez o velho pôs o jovem para fazer o trabalho. Ordenhava, ou melhor, tentava. O velho teve que o auxiliar muitas vezes até ele começar a pegar o jeito; demorou mais do que o planejado mas terminaram antes da caminhonete vim buscar os galões. Foram pôr a ração das galinhas. Depois abriram o galinheiro para pastarem. O jovem ficou vermelho ao tentar levantar as rações, o balde cheio lhe custava muito esforço para o locomover. Depois cuidou da horta; ajudou a manejar as vacas e o pomar também. O primeiro dia foi uma gigantesca sessão de perguntas e respostas sobre como fazer as principais atividades do dia a dia.

Ele demonstrou uma grande vontade de montar a cavalo, que foi prontamente negado pelo velho que simplesmente disse:

- Só temos duas éguas. Nesse fim de semana eu te ensino; não quero desgasta-las demais.

A noite a mãe do jovem ligava, primeiro conversava com o pai uma conversa demorada e enfadonha. Ele fingia ter interesse, mas lhe era uma tortura. O neto nem fazia questão de esconder o aborrecimento, era monossilábico e até mesmo agressivo ao telefone. O velho o observava: estranhava tamanha hostilidade.

Sabia que era natural uma certa repulsa entre pessoas pelo excesso de convivência. Muitos anos de convivência podia gerar algumas ojerizas e rusgas a pequenas coisas, que normalmente não teríamos. A voz de uma pessoa com o tempo pode se tornar quase insuportável, pequenos hábitos se agigantam e tornam-se extremamente irritantes, mas que culpa tem a pessoa de ser simplesmente o que é? É comum um filho achar irritantes os conselhos e alertas dos pais, principalmente se repetidos a exaustão, mas deveria saber que esses eram frutos do amor e preocupação dos mesmos. Portanto o natural é simplesmente se conter e procurar não demonstrar descontentamento.

O velho observava-o e refletia sobre suas reações em relação a mãe. Aquelas reações não eram naturais, era ódio nutrido, mas quem era o culpado? Talvez a própria mãe por um excesso de zelo sufocante. Será que ela o vigiava e o questionava a ponto de o jovem sentir que não tinha liberdade e finalmente se revoltar? Provavelmente, pensou o velho, mas embora tenha sido o seu primeiro pensamento prontamente o negou: pois para ele parecia ser o mais improvável. Só pode ser alguém de fora, concluiu ele. Mas quem? Talvez um amigo, um fruto podre que o contaminou. Será que um amigo conseguiria influenciar tanto sua atitude em relação a mãe? Se lembrou de sua infância. O máximo que os amigos fizeram era torná-lo mais rebelde em relação as regras e normas da sociedade, nunca a odiar os pais. Muitos até reclamavam e tinham problemas com os pais, mas se xingasse a mãe de um deles só víamos socos disparado de todas as direções. E um professor? Sim esse era mais provável. Sabia que assim como um bom professor abriria as portas do conhecimento um mal professor poderia plantar ideias e preconceitos terríveis na cabeça de uma criança; e a cabeça de uma criança é um terreno fértil. O que for lançado lá criará raízes crescerá e por fim dará frutos, ainda que não de frutos a raiz continuará lá.

Se uma família entrega seu filho a um professor mal-intencionado, este pode dizer ao pequeno que tudo o que seus pais lhe ensinaram como sendo o certo na verdade é o errado e vice-versa. E através da repetição e da imposição, onde: se concordar recebe uma melhor nota, e se discordar recebe uma pior nota; podendo até reprovar se não aceitar o que o professor impõe. O menino poderia se rebelar contra tudo que os pais acreditam por influência do professor. Mesmo que continue no caminho dos pais as dúvidas e ensinamentos continuariam lá atormentando-o. Era possível que um professor ensine a odiar os pais como pessoas atrasadas burras e que não sabem o que é melhor e estimule a criança a se libertar da tirania dos pais. Esse pensamento realmente lhe perturbou, e olhando para seu neto pensou:

Um velho AntiquadoOnde histórias criam vida. Descubra agora