Estava olhando para os produtos da loja, sem pressa, porém estava a bastante tempo na loja e ninguém ainda o tinha atendido. Isso lhe chamou a atenção, não que ninguém o tivesse visto, pelo contrário, observou que todos o olhavam e cochichavam entre si. Já tendo decidido qual ração comprar, fez sinal para um grupo de atendentes no balcão, nenhum se dispôs a atende-lo.
- Por favor, alguém poderia me atender aqui? – Insiste o velho. Finalmente aparece Juca o mais velho e experiente dos vendedores, todo acanhado e sem jeito, nem parecia que era o melhor vendedor da loja.
- Pois não sr. Valter? – Questiona o vendedor sem muito animo.
- Juca vou querer dez sacos para ser entregue no meu sítio até amanhã. Também vou precisar de mais dez sacos de suplemento e...
- Desculpe interromper sr. Valter, mas como pretende pagar?
O velho o olha com assombro e confuso por não entender a pergunta do vendedor.
- Ora como assim! Como eu sempre faço! Marca na minha conta que eu pago no final do mês. Por que a pergunta? – Questionava o velho o olhando atentamente e também olhando ocasionalmente para os outros vendedores.
- Desculpe me dizer isso sr. Valter, mas infelizmente houve uma mudança nas regras da loja e partir de agora e somente poderemos vender à vista – o vendedor estava acanhado e embaraçado em sua fala. O velho o olhou com um olhar céptico.
- É mesmo, engraçado enquanto eu olhava as rações aqui, me pareceu que eu vi agorinha a pouco o João anotar no caderno para o Oliveira, estranho né?
- O senhor viu né – estava todo nervoso e engolindo a seco – acho que o João cometeu um engano, vou falar com ele para que esse erro não se repita.
- Entendi. Bem me vê dois sacos por enquanto, um de ração e outro de suplemento e leve na minha caminhonete.
- Mas senhor Valter o senhor não entendeu eu só posso vender no...
- Eu vou pagar no cartão e no débito, e nem me vem com conversa fiada Juca, porque você acabou de dizer que só posso comprar à vista; e cartão de débito é pagamento a vista. A não ser que você esteja mentindo – havia autoridade em suas palavras, tanto que o vendedor não foi capaz de contra argumentar.
Não tendo escolha vendeu os dois pacotes. O velho, pela palhaçada não compraria, mas precisava do produto. Pelo menos se levasse dois teria tempo para ir em outro lugar e comprar. Depois de guardado em sua caminhonete, andou na cidade passou na loja de Dona Carmen, entrou e cumprimentou-a. Ela simplesmente e educadamente devolveu o cumprimento com má vontade de forma contida, não parecia em nada a vendedora faladeira e espontânea de costume.
Olhou algumas peças e pediu para Dona Carmen se tinha como trazer uma camisa que estava de olho. Dona Carmen se aproxima, lenta e hesitante em seus passos. O olha, suspira e simplesmente responde:
- Infelizmente não vamos ter do seu tamanho Sr. Valter.
Ele a olha com desconfiança.
- Não vai ter do meu tamanho!? Você sabe que meu físico é um dos mais comuns do mundo! Principalmente nessa cidade! – Ambos se olham, na verdade, o velho olhava e ela desviava o olhar. Embora não soubesse o que exatamente, havia algo de errado.
-E vai ter alguma peça do meu tamanho aqui?
- Tem, mas creio que todos estão reservados.
Ele a olha com assombro, depois deu um longo suspiro.
- Entendi – disse ele balançando a cabeça e olhando para baixo como se não acreditasse no que acabou de ouvir. Para uma vendedora como dona Carmen deixar de vender, somente se sofresse uma tremenda pressão do contrário. Quem poderia ser o responsável? Infelizmente, em seu íntimo, já sabia a resposta.
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Um velho Antiquado
AventuraUm velho e um jovem, vô e neto. Após uma ligação de sua filha avisando das dificuldades que ela estava tendo para conviver com o filho ele resolve trazer seu neto para morar com ele. Em seu sítio os dois passam a viver e conviver um com o outro. Sua...