Capítulo XIV

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Ele entrou na delegacia, estava movimentada. Questionava o delegado querendo saber quando seu avô será libertado, ao passo que o delegado apenas respondia:

- Não sei dizer, afinal ele foi pego em flagrante, provavelmente vai ficar preso uns dias, eu aconselho você a ir para casa.

- Mas eu moro com ele – respondeu o jovem que não sabia como agir. Orientado pelo delegado um policial o pôs a sentar num banco da recepção da delegacia. Ficou esperando desesperado e confuso. As horas passavam e ele não tirava os olhos de dentro do corredor tentando ver algum movimento que lhe desse uma pista do que estava acontecendo. Estava tão atento que nem percebeu que alguém se aproximou, apenas quando deram tapinhas no ombro, virou-se assustado, era seu Jair. Sentou-se ao lado do jovem. Seu Jair o brincalhão estava sério dessa vez.

- E aí como está?

- Eles prenderem o meu avô, e agora não me deixam vê-lo – respondeu sem pensar.

- Eu sei, ele me pediu para vim buscá-lo, então vou te levar para dormir em casa, vamos – disse seu Jair enquanto dava uns tapinhas nos ombros.

- Mas enquanto ao meu avô?

- Bem hoje ele não tem escolha a não ser dormir na cadeia, mas não se preocupe, seu Valter é durão, isso não deve ser nada para ele. – Relutantemente ele acompanhou seu Jair. Entraram na caminhoneta e saíram em silencio, até a saída da cidade. Na escuridão e silencio da estrada, mediante tantos eventos os assuntos simplesmente brotaram de suas bocas.

- Lucas, como chegou nesse ponto?

- Eu não sei seu Jair, eu nem conhecia aqueles homens, eu só vi eles uma vez! Por que eles queriam me matar?

- Não sabe Lucas? E você acha que ELES queriam te matar!? Por favor Lucas você não é burro. – O vergonhoso silencio foi sua resposta. Vendo tão vergonhosa postura de seu Jair procura adoçar a triste realidade.

- Lucas, eu sei. Seu avô me contava as coisas de vez em quando, você estava de casinho com a neta do coronel, não é verdade?

- Sim a gente ficava de vez em quando. – Respondeu com relutância.

- E seu vô não avisou sobre o perigo do relacionamento? Principalmente sobre o coronel?

- Comentou, mas não imaginava que podia chegar a esse ponto.

- Pois é. Esse é o mal de vocês jovens, não levam a sério o que falamos. Ele falou, mas o que ele disse não deve ser levado a sério né. Afinal é muito surreal né, e ignora o fato dele ter vivido no local e conhecer quase todo mundo da cidade. E que talvez, por mais absurdo que pareça talvez ele tenha base para alertar né, mas não – eu sou jovem – já sei de tudo que devo saber.

- Não é bem assim, a gente se gostava, ela disse que gostava de mim, então pensei que talvez com o tempo ele iria aceitar.

- E aí você pensou que estava mais certo do que os avisos que seu avô deu – mesmo não o conhecendo tão bem como o seu avô – pois bem, olhe aonde você chegou por simplesmente rejeitar os conselhos do seu avô. O pior é que acho que não acabou ainda.

- Como assim não acabou?

- Claramente o objetivo do coronel era te pegar, mas graças ao seu avô, você está vivinho da silva, e o coronel quando começa algo não para até concluir da forma que ele gosta.

- Mas eu só tive um casinho de nada, achei que a gente se dava super bem e que depois de um tempo tudo ficaria certo.

- Sério mesmo que pensou isso? Uau, você acha que alguém como o coronel iria aceitar um pé rapado como você na família?

- Mas ela...

- Ela pode te achar bonitinho, mas com certeza não o bastante para abandonar uma vida de riqueza por você – essas últimas palavras foram derradeiras sobre o assunto. – Enfim hoje você vai dormir na minha casa, não diga a ninguém. Eu acredito que amanhã as coisas devam estar mais calmas.

- Mas a gente não deveria dar um jeito de tirar ele de lá.

- Não se preocupe que ele está correndo atrás, eu conheço o seu Valter.

Ao chegarem seu Jair tirou um colchonete e estendeu ao chão na sala. Bebeu uma agua e se deitou. A tensão era tanta que passou horas a fio se revirando no colchonete até que uma hora o sono o pegou. Um sono leve e nada restaurador. Dormiu tarde e acordou antes do sol, depois não mais pegou no sono. Só se levantou quando seu Jair se levantou e preparou o café. Ao comer deu instruções de não sair e não atender ninguém. Ficou assistindo televisão, nada apareceu no noticiário local. Ainda estava sem sinal o celular, mas já não o incomodava tanto. A tensão era tamanha, pelo hábito adquirido na casa do velho começou a procurar algo para ler, para ajudar a passar o tempo. O dia foi lento e arrastado, o tempo não passava. Era ainda no meio da tarde perto das três da tarde quando ouviu alguém no portão e o barulho na porta era seu Jair e junto dele o velho, estava finalmente aliviado. Correu em direção ao velho e o abraçou. Já ao lado dele reparou num senhor cabelos brancos e óculos de grau. Tinha um ar sério, e atento. O velho agradeceu a Jair e se abraçaram, como se fosse uma despedida.

- Seu Jair não tenho como lhe agradecer por isso, o senhor me ajudou muito nessa hora.

- Não precisa, sei que teria feito o mesmo por mim – após essa troca de gentilezas o velho o olha com uma expressão calma, o que era muito estranho para o jovem. – Vamos embora jovenzinho já incomodamos demais o seu Jair. O jovem dá um abraço em seu Jair agradecendo por tudo o que fizera. Seu Jair passa a mão na nuca e ombro e comenta.

- Seu cabelo está grandinho, está precisando cortar.

- Um pouco seu Jair.

- Manda o cabelereiro passar máquina na frente e pica atrás – seu Jair deu o sorrisinho o jovem já sabendo não soube como lidar a não ser dar uma risada; seu Jair no fim não resistiu à tentação da última zoação. Foram até a casa do velho e lá se acomodaram. O advogado se sentou à mesa e lá mesmo começaram a discutir os pormenores da situação atual. O advogado passava os detalhes o jovem os ouvia atentamente.

- Infelizmente meu amigo só consegui isso, o que já é muito. Você vai ser acusado de homicídio culposo, com atenuante. O problema é a arma, você tem posse de arma, mas não porte e aí que a coisa complica aqui no Brasil – o jovem preocupado não se contém.

- Mas ele atirou para salvar a minha vida, e se não tivesse armado eles teriam me matado.

- Sim é verdade e com o argumento da legitima defesa, acho que o seu avô não terá problema quanto ao homicídio. Agora o problema é ele está armado na hora do ocorrido, perceba meu jovem o seu avô tem documento para andar armado apenas na propriedade dele, infelizmente ele não tem direito de andar por aí armado e creio que é justamente aí que eles vão pegar.

- Então você está me dizendo que eu vou para a cadeia e que não tenho como ser declarado inocente.

- Inocente não, já a cadeia não é bem assim, creio que com a abordagem correta ele pode converter em uma pena alternativa – todo aquela conversa normalmente seria chata e aborrecida, mas como parte envolvida o jovem não tinha como não prestar atenção.

- O problema meu amigo não é a parte legal – comentou o velho com um tom mais sussurrado – o problema é que eu acho que logo eles vão tentar de novo.

- Infelizmente não posso te ajudar nisso, mas vou trabalhar no seu caso – ele pegou um gravador um bloco de notas e lápis. A conversa se estendeu até anoitecer. O velho estendendo sua cortesia para o advogado lhe prepara o jantar. Este já estava de saída, ia voltar para seu hotel, quando o aconselhou.

- Meus caros, eu não conheço muito como funciona as coisas em cidade do interior, mas aconselho a ficar atento, principalmente na retaguarda.

- Obrigado pelo aviso meu caro.

Após ouvirem ele saírem o jovem se voltou ao velho, porém este tratou de acalmá-lo e foram se deitar. Sabia que ainda estavam numa enrascada, mas a presença do velho o acalmou de tal maneira que finalmente dormiu um sono só.

Um velho AntiquadoOnde histórias criam vida. Descubra agora