Capítulo XVI

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Entrou no bar, pediu uma coxinha e um refrigerante. Enquanto comia um sujeito qualquer que estava, até aquele momento, sentado em sua mesa a beber foi até ele puxar assunto.

- Bom dia seu Valter. – Falou o estranho cheio de cerimônia e de forma mais respeitosa possível.

- Bom dia. – Respondeu o velho, que lhe deu um breve olhar, sem muito interesse, e voltou ao seu lanche.

- Seu Valter é muito bom vê-lo aqui novamente, apesar das circunstâncias.

- Obrigado – respondeu em um tom desinteressado. O sujeito insiste:

- Seu Valter, o senhor sabe que virou assunto de toda a cidade, não tem uma única roda que seu nome não brote no meio dela.

- É mesmo? E o que dizem? – Pergunta o velho mais interessado em comer do que falar.

- Principalmente sobre o seu feito daquela noite, sabe eu mesmo tenho uma curiosidade ou duas sobre o ocorrido – o velho continuava inalterável e mudo – se o senhor puder falar porque eu não entendo como ocorreu, e o que levou a acontecer o que aconteceu lá? – O velho o olha aborrecido dá um suspiro de conformismo e começa a falar:

- Afinal, o que você ouviu?

- Que dois homens atiraram no seu neto e que o senhor atirou de volta e os matou.

- O resumo é isso mesmo. Não há muito que eu possa acrescentar.

- Mas e o motivo seu Valter, qual o motivo?

- O motivo, e isso importa agora? Para ser sincero se eu disser que eu sei, estaria mentindo. Tenho algumas ideias, mas o correto seria perguntar ao agressor, não é mesmo?

Assim que falou essas palavras, como uma invocação apareceu o coronel no bar. O homem que estava conversando com o velho, se afastou e voltou a mesa que estava, num misto de pavor e curiosidade, as duas brigavam entre si, mas, por uma margem pequena, a curiosidade era maior, por isso não tirava os olhos daquelas duas figuras. O velho permaneceu imóvel, apenas finalizando seu salgado e tomando sua bebida. O coronel como numa provocação se acomodou ao lado do velho, mesmo tendo muito espaço naquele balcão para sentar em outro lugar. Pediu uma cachaça, que foi prontamente servida. O coronel pegando aquele copinho o entorna. Por fim olha para o velho:

- Precisamos conversar.

- Sobre?

O coronel olha para o dono e percebe não só a curiosidade do dono, mas de todos que estavam naquele bar.

- Aqui não, vamos nos sentar ali naquele canto – disse o coronel apontando para uma mesa mais isolada, ao fundo do bar.

- Vamos.

Ambos se levantaram, caminharam e sentaram à mesa. O dono do bar, impediu o funcionário de servir, foi ele mesmo.

- Vão querer alguma coisa?

- Vai querer algo Valter?

- Eu estou de boa.

O coronel olha para o dono do bar com certo desprezo, e depois para o velho.

- Traga uma cerveja dois copos, e eu quero essa cerveja gelada. Entendido?

- Entendido – respondeu quase gaguejando o dono do bar.

- Não vai precisar de dois copos não – interpelou o velho.

- Vai sim, você vai beber comigo – disse o coronel de forma imperativa.

- Ééééé. Tudo bem então.

Ele saiu, eles ficaram um momento em silencio, olhando um para o outro. Não conseguiam falar nada, apenas se olhavam com certa hostilidade como duas feras que rosnam um para o outro, mas ao mesmo tempo evitavam atacar com medo da reação. A bebida veio. O casco coberto por gelo parecia um verdadeiro véu de noiva. O dono abre a cerveja e serve os dois, que bebericam, ficou ali como se esperasse algo. O coronel o olha com um olhar fulminante.

Um velho AntiquadoOnde histórias criam vida. Descubra agora