The friday 31th

Desespero

Brad soltou meu braço e nós corremos como nunca para dentro da floresta. Era difícil pensar em como tudo chegou naquela situação.
- Agora que já despistamos aquele cara, me fala... Quem é Jason?
- Pra falar a verdade... Eu nem sei se isso está acontecendo mesmo.
- O que?
- Jason foi uma criança que morreu afogada naquele lago, o nome desse acampamento era Crystal Lake, mas por incrível que parece, eles mudaram o nome para No Be Bo Sco.
- Essa parada parece muito coisa de filme de terror. Não é possível. Se ele morreu, então por que está aqui?
- As histórias dizem que a mãe o trouxe de volta através de um livro chamado Necronomicon Ex-Mortis.
- Só pode ser brincadeira.
- Não é. Eles odeiam praticantes de bullying e fornicadores, por causa deles que Jason morreu.
- O que? Logan e Clara estão por aí, não só eles, mas todos os outros...
- Não podemos ir atrás deles.
- Por que?
- Ele vai nos matar também.
- Aquele cara não é o mais forte de todos, então eu não vou deixar ele matar mais amigos meus.
- Você está errado, ele é sim muito forte. E se você for, vai acabar como Drake e Billy...
- Droga.
Brad socou a árvore em sinal de desistência.
- Precisamos sair desse lugar.
Andamos pela floresta por um tempo, tentando de alguma forma achar a saída, e num impasse o homem alto apareceu, segurando a cabeça de alguém, não consegui identificar pela distância, e meu corpo ficou totalmente paralisado diante daquilo.
- Porra, como ele achou a gente?
- ...
- Charly, vamos, corre.
O desespero tomou conta de mim. Na minha cabeça já passou a possibilidade de eu ser perseguido por um serial killer, mas a imaginação é diferente da realidade.
Brad já havia se distanciado, Jason chegava cada vez mais perto, eu queria me mover mas não conseguia. As mãos gélidas e grossas soltou a cabeça decapitada e segurou meu pescoço com força.
Meu pulmão começou a doer pela falta de ar, a visão antes turva agora estava escurecendo.
- Ja-Jason...
De repente uma luz forte começou a surgir e logo senti meu corpo ser arremessado para longe junto com o de Jason.
- Charly, você tá bem?
Brad puxou meu corpo para dentro de um carro velho.
- O-onde você arrumou esse carro?
Falei em meio à soluços.
- Aqui perto, mas isso não interessa agora, vamos sair daqui.
Jason já não estava mais no chão.
- Ah meu Deus, vamos vamos.
Brad pisou fundo no acelerador, passamos por cima da cabeça decapitada esmagando a mesma.
- Aquela era a Clara. Logan deve estar morto também.
- Esse é o pior Halloween que já tive na vida e olha que ele mal começou.
- Nada que seja tão ruim que não possa piorar.
Meu pescoço ainda estava doendo. Como pude ser tão mole, sempre brinquei com Drake em relação à isso... Por que? Eu deixei Drake morrer, e se eu despertei Jason? Mas não faz sentido...
- Ei, eu vejo a avenida. Vamos...
Um corpo sem cabeça foi jogado na frente do carro fazendo o mesmo derrapar pela estrada de terra.
- Mas que droga, o que é isso??
- É o Jason, ele está vindo atrás da gente.
- Merda, ele matou todos? Só sobrou a gente?
- Não é possível.
- Eu tenho certeza que é sim.
- Merda, merda.
- Acelera, ele está lá atrás.
Brad parou o carro rapidamente.
- O que você tá fazendo?
- Esse cara vai se ferrar comigo.
O carro começou a dar ré.
- Não faça isso, vamos embora.
- Não, ele vai ter o que merece.
- Droga.
Jason continuava parado mesmo vendo o carro se aproximar, fechei os olhos quando o mesmo bateu com tudo no corpo dele, o jogando para longe.
- Se a gente conseguisse jogar ele na água.
- Sem chance Brad, vamos embora.
- Ah, droga.
Me senti aliviado vendo Brad ceder e ir em direção a avenida, saímos sem rumo e para qualquer lugar longe dali. Minha visão começou a escurecer, acabei adormecendo por causa das dores causadas pelo atropelamento no intuito de me salvar.
Quando amanheceu, o carro estava parado em um posto de gasolina isolado na estrada.
- Que lugar é esse?
Perguntei sonolento.
Brad não estava dentro do carro, mas pude vê-lo tentando fazer uma chamada pelo telefone do posto.
Fechei os olhos novamente, meu corpo doía muito, eu só pensava em chegar em casa logo.
- Não consigo falar com ninguém, parece que as linhas telefônicas estão cortadas. Maldita hora que deixei meu celular dentro da mochila naquela merda de acampamento.
Brad falou abrindo a porta do carro.
- Que azar.
- O mais intrigante é que não tem ninguém nesse posto, mas pelo mapa, logo a frente tem um distrito.
- Que distrito? Onde estamos?
- Se chama Haddonfield. Não é grande, mas podemos pedir por ajuda.
- Droga. A gente pegou uma estrada contrária da nossa cidade.
- Exato, mas do jeito que esse carro está, não vamos chegar na nossa casa, nunca.
- Um carro velho, achado no meio mato. Ah...Droga.
Brad deu partida no carro, mas antes que pudéssemos sair do posto, outro carro estacionou atrás de nós.
- É o Jason?
- Esquece esse cara, nós nunca mais vamos ver ele.
- Então... É melhor irmos logo.
A pessoa que estava dentro do outro automóvel, não deu as caras enquanto nós não saíssemos dali, o que foi muito estranho, já que não havíamos percebido da onde aquele carro tinha surgido.
- Haddonfield... já ouvi falar esse nome em algum lugar.
- Também não me é estranho, mas hoje é Halloween, muitas pessoas vão estar nas ruas pedindo doce.
- Sim, precisamos só chegar em um posto policial.
Olhei para trás e o carro continuava parado sem ninguém descer do mesmo, e mesmo distanciando dele, quem estava ali dentro não queria sair de jeito nenhum.
Nos retiramos do posto e fomos direto para o distrito. As ruas e casas estavam todas enfeitadas, não havia muitas pessoas andando por ali, com certeza estavam se preparando para a grande noite de Halloween, estacionamos o carro no centro da cidade, onde era mais perto de tudo.
- Não sei se vou ao hospital primeiro ou à policia. Meu corpo dói muito.
- Charly... olha...
Brad apontou o dedo para uma casa com um grande muro, meu coração falhou por segundos e o desespero surgiu novamente, quando vi quem estava parado atrás do muro nos observando.