désespéré

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Ela ficou calada me observando.

Cheguei perto do seu corpo, esperando alguma reação.

--- Gilda--- eu sussurrei

--- Não faça isso --- ela disse me encarando, mas sem convicção de sua fala.

--- Fazer o que? --- fiquei bem próxima de seus lábios, tentei me segurar, pois gostaria que o primeiro passo viesse dela.

Contudo a única coisa que consegui foi uma Gilda com a respiração ofegante e tremula.

--- eu te deixo nervosa? --- ao observa o estado que ela se encontrava, tentei provoca-la.

--- você me deixa louca – ela respondeu

Apesar de querer que ela desse o primeiro passo, não conseguir me controlar. Eu usei meus braços em volta de seu corpo, coloquei meu nariz em seu pescoço e senti o cheiro mais gostoso de minha vida. Voltei a encara-la e a beijei.

No começo ela resistiu e no final quando senti seu corpo cedendo... Veio o choque da realidade.

--- EU AVISEI PARA VOCÊ FICAR LONGE DE MIM --- Ela gritou extremamente nervosa.

No exato momento em que ela gritou e empurrou meu corpo. Fiquei parada e a encarei tentando decifrar suas atitudes, há poucos segundos eu a segurava em meus braços, tão serena e frágil. Agora ela estava nervosa, arrumando suas coisas e me xingando. Quando dei por mim ela fugiu da sala.

Sai da sala tentando procura-la, mas não a encontrei.

Fui descendo as escadas de meu colégio tentando entender tudo que tinha acontecido, estava nervosa e extremamente culpada. De alguma forma me sentia culpada por ter chateado Gilda. Estava tão presa em meus pensamentos que não ouvir a inspetora gritando meu nome, fui dispersa quando ela se aproximou e tocou o meu ombro.

--- Helena, a coordenadora Monica quer falar com você --- ela falou de um jeito estranho.

--- Diga a Monica que amanhã falarei com ela --- tentei ir embora, mas a inspetora se colocou em minha frente.

--- Não é um pedido, é uma ordem... Você não sai do gaia enquanto não falar com ela --- ela falou mais seria

--- Meu deus, que inferno --- eu já disse com certa raiva na voz.

--- É bom você manter a compostura Helena!! Sua barra já não está muito boa --- ela falou ainda mais seria.

Nesse momento eu refleti sobre sua frase "sua barra já não está muito boa" e ai meu corpo congelou.

A caminhada do primeiro andar até o terceiro foi tortuosa, lenta e agonizante. A impressão foi que a sala da coordenação não chegava nunca. Eu sentia o peso do olhar da inspetora em cima de mim. Eu estava a um ponto de pirar. Chegando a sala da coordenação senti a mão gelada da inspetora no meu braço me guiando até dentro da sala.

Eu me sentia igual um barquinho no meio de um oceano, eu não conseguia entender direito o que diretor tanto gesticulava comigo, a coordenadora Monica me olhava em silencio de maneira decepcionada. Eu tentava juntar o resquício da minha dignidade para formular alguma frase ou palavra para tentar me defender; eu não fiz, não fui, ela está louca ou qualquer coisa, mas simplesmente nada saia de mim. Estava acuada e desarmada.

--- Helena eu preciso que você conte sua versão --- mais uma vez o Diretor tentava me questionar.

--- Helena você está conseguindo entender o que estamos falando nessa sala? --- Monica pronunciou pela primeira vez desde que entrei no recinto, ela disse de uma forma baixa e extremamente seria.

--- Eu ... Eu ... estou sem palavras --- eu não consegui formula nenhuma frase.

--- Helena as acusações da professora são extremamente serias, realmente é uma situação extremamente delicada --- Monica disse dessa vez mais doce, provavelmente tentando me passar tranquilidade.

--- Talvez seja um assunto que você se sinta mais confortável conversando com uma mulher --- ela falou olhando para o diretor.

Silenciosamente o diretor levantou da cadeira e se retirou da sala. Atentamente ele entendeu o recado dado por minha coordenadora.

--- Helena eu conheço você --- Monica começou a falar

Eu interrompi sua fala.

--- A culpa é minha, eu tive uma conduta completamente inadequada com a professora Gilda --- falei tudo de uma vez só.

--- Helena --- a coordenadora Monica tentou me interromper, mas eu fui mais rápida.

--- Eu me apaixonei, provavelmente uma paixão de adolescente, eu fantasiei essa historia e fui extremamente inadequada com a professora. Reforço que a culpa é minha.

--- Eu entendo --- Monica não esperava minha fala tão direita, era perceptível que estava assustada e provavelmente torcida para historia ser um mal entendido.

--- A professora Gilda disse que provavelmente você falaria que ela correspondia os sentimentos, que houve algumas ameaças --- Monica falava minuciosamente, sua voz mostrava um certo incomodo com as declarações de Gilda.

Nesse momento eu entendi que Gilda me jogou aos lobos, me pintou como uma moça desequilibrada e desrespeitosa. Não tinha muito que eu ir de contra com as declarações, era a minha palavra contra a dela, e nitidamente a dela tinha mais peso. Monica tentava contorna a situação, mas era nítido que eu estava extremamente ferrada.

--- Helena as acusações de assedio são graves caso Gilda levar para fora da escola, provavelmente você será processada, e talvez você devesse repensar suas falas. Você tem certeza de tudo que está falando? --- Monica tentava a todo custo amenizar a minha versão da historia.

Eu estava tão ferrada e naquele momento eu tinha duas opções; contar toda versão e de alguma forma prejudicar nós duas ou mentir e assumir toda a culpa. E apesar de merecer eu não conseguiria prejudicar Gilda de maneira nenhuma. Eu sabia que a minha "paixão de adolescente" já tinha se transformado em paixão há muito tempo.

--- Monica eu estou disposta a assumir minha culpa e me desculpar --- finalizei.

Apesar de sentir um pouco de decepção em seu olhar, a coordenadora me olhou com certa admiração. 

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